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RUA MESTERES DE GUIMARÃES
Por Teresinha Teixeira (Administrador do Jornal), em 2014/01/301095 leram | 0 comentários | 159 gostam
Em Urgezes, ao lado da ex-escola Francisco dos Santos Guimarães, conhecida por Vaca Negra, onde atualmente se instala o Centro para a Criação, Arte e Cultura e cruzando-se com a Rua António da Costa Guimarães, localiza-se a Rua Mesteres de Guimarães.
“Os Mesteres de Guimarães”, obra em sete volumes de A.L. de Carvalho, são também um importante título de referência da bibliografia vimaranense, que dá conta das dezenas de profissões exercidas no concelho ao longo dos séculos, o que demonstra claramente o relevo que a cidade concede ao mundo do trabalho e aos trabalhadores.
Com efeito, mester ou mister, proveniente do étimo latino ministerium, com o sentido de função, significa trabalho, emprego, ocupação ou ofício, isto é, cargo ou profissão que se desempenha, vocábulo que aparece em expressões como “haver mister” (ter necessidade) e/ou “ser mister/fazer-se mister” (ser necessário).
Deste modo, na toponímia da freguesia de Urgezes, a Rua Mesteres de Guimarães pretenderá demonstrar que é necessário (é ou faz mister) e ter-se-á por necessidade (há mister) de homenagear os trabalhadores vimaranenses, eventualmente os mais simples e sem acesso a altos ministérios, como minstros e afins. E muitos são de facto os ofícios e mesteres vimaranenses nos séculos XV e XVI de acordo com um livro com este mesmo título de autoria de Isabel Fernandes e António José Oliveira, editado pela Sociedade Martins Sarmento em 2004, com base em documentação de arquivo. Assim temos o açagador, o albardeiro, o alfaiate, o almocreve, o almuinheiro, o aparelhador, o armeiro, o atafoneiro, o ataqueiro, o bainheiro, o barbeiro, o barqueiro, o besteiro, o borzegueiro, o braceiro, cabouqueiro, o camareiro, o carniceiro, o carpinteiro, o cerieiro, o colcheiro, o coronheiro, o correeiro, o curtidor, o cutileiro, o estalajadeiro, o ferrador, o ferreiro, o forneiro, o imaginário (imaginem o que fazia?), o jornaleiro, o lavrador, o marceiro, o mercador, o mestre de órgãos, o moleiro, o mostardeiro. A lista alfabética poderia continuar com o oleiro, o olivezeiro, o ourives, o padeiro, o pasteleiro, o pedreiro, o peixeiro, o peliteiro, o picheleiro, o pintor, o saboeiro, o sapateiro, o seleiro, o serrador, o serralheiro, o sirgueiro, o sombreireiro, o soqueiro, o surrador, o taberneiro, o tanoeiro, a tecedeira, o tecelão, o tendeiro, o telheiro, o tintureiro, o torneiro, o tosador, o trabalhador e o vinhateiro.
Todos estes e muitos outros em falta e/ou a exercer novos misteres, nos tempos modernos, estarão assim recordados nesta rua. Aliás, em tempos passados, era também comum as ruas adotarem denominações ligadas aos mesteres como Rua dos Couros (Largo do Trovador), Rua dos Açougues (integrada no Largo Condessa do Juncal), Rua dos Fornos (Rua Gravador Molarinho), Rua dos Pasteleiros (integrada na Praça de S.Tiago), Rua Sapateira (Rua D.Maria II), entre outras. Velhos documentos aludem ainda à Rua Trás-dos-Oleiros, Mercadores, Forja, Ferreira, Corrieira, Peliteira, Seleira, Carnissaria, Mercadores, Caldeireiros, Penteeiros e a largos com as denominações de Feira do Pão, Feira do Leite, Feira do Gado, do Fiado e o grande Campo da Feira (alguns ainda hoje assim conhecidos), locais onde os mesteres e os ofícios estavam arruados com as respetivas confrarias.
Efetivamente, as corporações do trabalho eram organizadas em confrarias, geralmente com um santo patrono e sua capela privativa: S. José dos pedreiros e carpinteiros; S. Crispim dos sapateiros (ainda hoje lá está o Albergue de S. Crispim, na viela homónima, sita à rua da Rainha); Santo António dos tanoeiros; Santo Elói dos ourives; S. Jorge dos armeiros e barbeiros, etc… Estes mesteres geralmente agrupavam-se numa Casa-Mãe, sendo célebre a Casa dos Vinte e Quatro, criada pelo rei D. João I, que após a sua extinção seria recriada e reformada em 1539, por D. João III, a “pedido do seu povo, os mesteres de Guimarães e sua Casa”. De facto, os mesteres eleitos tinham assento na Câmara “para procurarem e olharem pelas coisas do povo, segundo tinha por ordenança e antigo costume e confirmado por mim e pelos Reis meus antecessores”.
Ora, entre os antecessores do mundo do trabalho são de destacar os oleiros do tempo de D. Teresa e Conde D. Henrique, que chegaram aos tempos atuais em tradições como a Cantarinha dos Namorados, os penteeiros que remontam ao Condado Portucalense, os famosos ourives vimaranenses onde se incluirá Gil Vicente e os artesãos do linho. Mas também são de realçar os entalhadores, os sirgueiros e outros tecelões vimaranenses, os trabalhadores dos couros (cujo rio nos conta a história deste trabalho, desde o século XI), ou os amoladores de ferramentas e espadas, lanças e chuços, entre os quais se salienta o armeiro de D. Nuno Álvares Pereira, o vimaranense João de Guimarães, celebrizado na peça de Almeida Garrett “ O Alfageme de Santarém” (por sinal nome da via paralela à Rua Mesteres de Guimarães). De facto, tal como Toledo e Nuremberga, Guimarães teve fama na arte do ferro, cuja têmpera se deveria à qualidade da sua água.
Em próximos artigos procuraremos detalhar alguns dos mesteres mais tradicionais vimaranenses, em particular os artistas dos curtumes (curtidores, surradores, correeiros e seleiros), sapateiros, penteeiros e cutileiros, entre outros.
 


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