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Um “amor de perdição” por Camilo Castelo Branco
Por António Lourenço (Professor), em 2013/01/093177 leram | 0 comentários | 1275 gostam
Colóquio 150 anos da escrita de Amor de Perdição - 16 e 18 de novembro 2012
Em conversa, concluímos que todos gostávamos muito de Camilo Castelo Branco e que para celebrar os 150 anos da escrita de Amor de Perdição, a sua obra emblemática, nada melhor do que participar no colóquio homónimo “Amor de Perdição: olhares cruzados” que se realizou entre os dias 16 e 18 de novembro.
Partimos para São Miguel de Seide onde se situa o Centro de Estudos Camilianos que integra um complexo que inclui a Casa de Camilo Castelo Branco e a casa do seu filho Nuno. Este belo espaço público rodeado de verdejantes ramadas é da autoria do arquiteto portuense Álvaro Siza Vieira.
Na intervenção inicial, o senhor Ministro da Educação afirmou que “celebrar Camilo é homenagear a grande literatura nacional; e comemorar os 150 anos da publicação do Amor de Perdição e das Memórias do Cárcere é divulgar a importância da leitura para o conhecimento, estimular a leitura com os nossos grandes escritores.”
Em seguida, ficámos a conhecer o postal comemorativo dos 150 anos da publicação de Amor de Perdição. Ainda pela manhã, Laborinho Lúcio falou-nos do processo por adultério instaurado a Camilo.
O escritor, conhecido pinga-amor, apaixonara-se por Ana Augusta Plácido, casada com o comerciante Manuel Pinheiro Alves, fazendo dela sua amante. Juntos fogem para Lisboa. Conhecido o escândalo, a esposa adúltera é enviada para o Convento da Conceição de Braga (Julho de 1859), mas ao fim de pouco mais de um mês foge, regressando aos braços de Camilo. Instaurado o processo por adultério, é presa na Cadeia da Relação do Porto, onde o amante se entrega também em outubro de 1859.
É na Cadeia da Relação que Camilo escreve, em quinze dias, Amor de Perdição – história de uma família. Pela pena do romancista encarcerado, ficámos a conhecer Simão Botelho e Teresa de Albuquerque que pertencem a famílias que se odeiam, mas que acabam por se apaixonar contra a vontade das respectivas famílias.
A jovem Teresa está prometida ao primo Baltasar que tenta matar o rival. Em luta travada com os criados de Baltasar, Simão fica ferido e recupera na casa de um ferreiro cuja filha, Mariana, acaba também por se apaixonar por ele, constituindo um triângulo amoroso.
Ao longo do tempo, Teresa e Simão mantêm contato por cartas, onde expressam o seu amor mútuo.
«Meu pai diz que me vai encerrar num convento, por tua causa. Sofrerei tudo por amor de ti. Não me esqueças tu, e achar-me-ás no convento, ou no Céu, sempre tua do coração, e sempre leal. Parte para Coimbra. Lá irão dar as minhas cartas; e na primeira te direi em que nome hás de responder à tua pobre Teresa.»
Foi deste amor arrebatador que ouvimos falar Pacheco Pereira, Vasco Graça Moura, João Bigotte Chorão, entre outros.
Discutiu-se se estaríamos perante um texto anacrónico ou diante de algo que os jovens gostarão, ainda, de ler. Haverá amores de perdição no século XXI? Como amam os jovens de hoje? Como manifestam esse amor? Será que enviam um SMS –“minha, eu curto-te bué” – Poderá o amor ser uma perdição?
 Maria Braga Neves refletiu sobre a presença de Camilo Castelo Branco na escola do século XXI e Fernando Pinto do Amaral, coordenador do Plano Nacional de Leitura, lembrou a importância deste clássico da literatura portuguesa nos currículos de Português.
A este propósito convidámos-vos a ler o conto «Maria Moisés» incluído na obra Novelas do Minho que encontrarás na Biblioteca Digital da Porto Editora em:
http://linguainternacional.weebly.com/uploads/8/6/3/7/8637636/camilo_maria_moises.pdf.
No próximo ano letivo, todos os alunos de 9.º ano terão contacto com esta obra que equilibra a novela passional com um realismo temperado e tipicamente camiliano. Dividindo a novela em duas partes, Camilo salienta, dois percursos existenciais bem diferentes, mas nem por isso menos complementares: primeiro, o narrador apresenta-nos a história de Josefa da Lage; depois, com a trágica morte desta, narra-nos a vida de sua filha, Maria Moisés. Vão gostar, com certeza!
Na tarde de sábado, gostámos muito de ouvir Laura Castro a propósito das ilustrações das capas da obra ao longo dos anos. Umas mais literais, outras mais vanguardistas, passando pelas kitsch.
            
O cineasta João Lopes falou-nos dos filmes baseados na obra. O primeiro, de 1921, é um filme mudo de Georges Pallu que foi acompanhado ao piano durante a sua exibição na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Segundo Manoel de Oliveira, foi o primeiro filme português distribuído comercialmente nos EUA. Seguiram-se os filmes de António Lopes Ribeiro, de 1943 e o de Manoel de Oliveira, de 1979.
O filme de 1943 tem como protagonistas António Vilar, no papel de Simão Botelho e Carmen Dolores como Teresa de Albuquerque. Conta ainda com a fantástica participação de António Silva como João da Cruz. É considerada uma das mais fidedignas adaptações da famosa obra camiliana, tendo o diálogo sido respeitado quase na íntegra. Podem ver um pequeno excerto em:
 http://www.youtube.com/watch?v=1E_jQMGWczM.
A película de Oliveira venceu o Prémio Especial do Júri no Festival Internacional de Cinema da Figueira da Foz, em 1979 e podem ver aqui algumas cenas:
http://www.youtube.com/watch?v=qOOU60chdak.
A tarde de sábado terminou com um conto original do escritor Mário Cláudio baseado na personagem de Simão Botelho. Disse o autor: «O texto que escrevi chama-se “O Canalha” e o canalha é Simão Botelho. É uma história de proveito e de exemplo, não só para vermos a fibra que tecem os vários malhadinhas a partir da literatura portuguesa, como também se tece o escritor Camilo Castelo Branco, que consegue transformar um sapo num príncipe.»
 O fim de semana ficou concluído com um roteiro camiliano, no domingo de manhã. Saímos de Seide em direção à igreja matriz de Requião, onde o diretor da Casa de Camilo nos presenteou com a leitura de excertos de A brasileira de Prazins. Ficámos, ainda, a saber que no lugar de Ninães, também em Requião, existiu um importante Paço, a respeito do qual escreveu Camilo Castelo Branco no seu romance O Senhor do Paço de Ninães.
Seguimos para Ribeirão, onde os arvoredos sussurravam os crimes praticados por meliantes que se escondiam, à espera de incautos viajantes, como tão bem descreve Camilo nas Novelas do Minho, onde se refere à Terra Negra e à quadrilha de Luís Meirinho.
Fomos até Landim e a Abade de Vermoim onde terminou o nosso agradável passeio por terras que inspiraram o autor a escrever a novela O cego de Landim que narra a vida de António José Pinto Monteiro, um ladrão e vigarista que fez fortuna no Brasil .
Esperamos, pois, que tenham ficado com curiosidade em conhecer Camilo Castelo Branco, em viajar pelas paisagens descritas, em acompanhar os amores e desamores de Simão e de Teresa e em pelejar com os salteadores nos ermos e montes do Minho.
 

Os professores, Cristina Fontes, Isabel Gomes e António Lourenço.

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