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LUÍSA DUCLA SOARES - 50 ANOS DE VIDA LITERÁRIA
Por Conceição Páscoa (Professora), em 2020/06/09600 leram | 0 comentários | 115 gostam
Perfazem 50 anos que Maria Luísa Ducla Soares escreveu o seu primeiro livro de produção poética intitulado “Contrato”, que apenas chegaria às livrarias quando tinha 30 anos.
A partir daí são já 178 obras publicadas, predominantemente no âmbito da literatura infanto-juvenil.
De facto, ainda que a sua produção se estenda ao conto, crónica drama e ensaio, bem como à poesia, tradução e memorialismo, Luísa Ducla Soares (LDS), nascida em Lisboa em 20 de Junho de 1939, é sobretudo conhecida pela sua obra infanto-juvenil, com muitos livros seus incluídos no Plano Nacional de Leitura, abordados nos vários níveis de escolaridade. Citem-se por exemplo “AEIOU” logo no 1º. ano, ”A Cavalo no Tempo” e “A Gata Tareca e outros poemas levados da breca”, ambos no 2º. ano, “ O Planeta Azul” no 2º. ciclo /ou “Poemas da Mentira e da Verdade”, no 3º. ano, do qual respigamos o poema “Livro”:

“Livro
um amigo
para falar comigo
um navio
para viajar
um jardim
uma escola
para levar
debaixo do braço.

Livro
um abraço
para além do tempo
e do espaço.”

Porém, difícil se torna enumerar alguns dos 178 livros publicados, para todos nos gostos e grupos etários, em especial no âmbito da literatura infanto-juvenil. Todavia, destacaria aleatoriamente “O Diário de Sofia & Cª. aos quinze anos”, “O Rapaz Robô” e “Crime no Expresso do Tempo, orientados para o segmento juvenil, ou ainda “Os Ovos Misteriosos” e “Mãe, querida mãe – Como é a tua?”, um livro cheio de cumplicidades entre mãe e filho.

Com efeito, tudo teria começado aos 13 anos, no seio familiar, quando LSD tomava conta do irmão, cerca de 10 anos mais novo, altura em que teve de inventar heróis seu ao agrado. Depois, no jornal do Liceu Francês, onde aconteceriam os primeiros escritos e o convívio com amiga e poetisa Fiama Hasse Brandão. Mais tarde, já na Faculdade de Letras de Lisboa, nos contatos e vivências com com Gastão Cruz e Maria Teresa Horta, que conduziriam à publicação de GRAFIA, não obstante a escritora não haver aderido ao movimento Poesia 61.
Datam também desde tempo, uns dias na prisão de Caxias, em consequência das greves académicas de 62.
Ora, curiosamente, seria José Saramago quem esteve parcialmente na origem do seu lançamento literário. Na altura, em 1973, LDS apresentaria a Saramago, nos Estúdios Cor “, A História da Papoila” que viria a ser publicado e a vencer o Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho, que a autora acabaria por recusar. Porém, seria o início de mais 6 livros encomendados, que o nascimento dos filhos inspiraria e Eça de Queirós incentivaria.
 Com efeito, impulsionada pelas “Cartas de Inglaterra” de Eça, que criticaria a nossa literatura infanto-juvenil da época, pela sua chatice estereotipada de heróis meios santos, bem como pelas poesias, lengalengas e histórias de literatura tradicional contadas pelo seu pai, LDC construiria um mundo seu no qual o conhecimento da língua, o desenvolvimento da imaginação e da criatividade seriam as suas traves-mestras, cujas influências se alicerçaram sobretudo em Júlio Verne e Eça de Queirós. Quiçá por isso, LDC acabaria por escrever e recontar “Seis contos de Eça de Queirós”, centrados nos contos queirosianos “A Aia”, “O Tesouro”, “o Defunto”, “Frei Genebro”. “Civilização” e “Suave Milagre”.
Contudo, diga-se, uma escrita de grande diversidade temática e genológica, com vivacidade discursiva, que pretende ligar o humor e as coisas sérias, abordando temas tão diversificados como o racismo (como “O Menino de todas as Cores”), a guerra, o bullying e as migrações, entre outros. Temas que por vezes são também ousadas incursões no futuro, uma vez que a autora tem também um “fraquinho” pela ciência.

Realmente, o “bichinho” da ciência continua ativo na escritora. Recorde-se que aquando do final do Liceu, LDS hesitou entre letras e ciências, tendo escolhido, estupidamente entre ambas, através de uma moeda ao ar, como o confessa na entrevista concedida à revista “Visão”, em finais de Maio de 2020! Porém, apesar de dividida, acabaria por optar pelas letras e licenciar-se em Filologia Germânica. Iniciaria assim a sua carreira profissional como tradutora, jornalista, e esporadicamente adjunta do Gabinete do Ministro da Educação, mas acima de tudo como profissional da Biblioteca Nacional, onde trabalharia durante 30 anos.
Efetivamente a sua vida cresceria entre livros. De tal forma que na sua habitação, após o casamento com Sottomayor Cardia, a biblioteca de ambos partiria as vigas da casa com o peso dos cerca de 80 mil livros existentes!
Vida que passaria também pela sua colaboração na página infantil do Diário de Lisboa e revista “Rua Sésamo” e pela direção da revista cultural “Vida”.(1971/1972), bem como pelo Instituto de Apoio à Criança de que foi sócia fundadora ; e ainda pela escrita de guiões televisivos, entre os quais os 26 capítulos de “Alhos e Bugalhos”, transmitidos em 2001 pela RTP, no âmbito do Ano Europeu das Línguas.
Acrescente-se ainda que a sua obra, traduzida em várias línguas, seria ainda premiada duas vezes pela Fundação Calouste Gulbenkian: o prémio de “Melhor Livro de Literatura Infantil” (84/85), pela obra “Seis Histórias de Encantar” e o “Grande Prémio Calouste Gulbenkian” pelo conjunto da sua obra, enquanto em 2004 seria selecionada como candidata portuguesa ao Prémio Hans Christian Andresen
Ademais, muitos dos seus poemas estão musicados. São o caso de “25”, um conjunto de 25 canções, musicados por Susana Ralha, em 1999, integrados nas comemorações do 25 de Abril, ou “O Canto dos Bichos”, alguns dos quais desconheces:


“Mas afinal qual é o canto das gaivotas do Porto? E qual o canto do pombinho correio? E do hamster? E que canto canta a cobra?
Bem, para saberes só tens de abrir o livro, ler os poemas de LCD, ou ouvir as músicas do Bando dos Gambozinos.
Canta também!

Ou então, deixa-te seduzir pela magia da autora:

“Ao agitar sobre os livros
a varinha de condão
ponho todos a pensar
e a ter imaginação.

Sobre as crianças eu deito
uns pós de perlimpimpim
para descobrirem que ler
é uma aventura sem fim.” …

Texto de Álvaro Nunes

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