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SÍTIOS DA NOSSA TERRA: O TOURAL (II)
Por Conceição Páscoa (Professora), em 2020/05/20552 leram | 0 comentários | 109 gostam
O nosso Toural tem também muitas histórias para contar que por certo não conheces.
Há petróleo no Toural, é uma dessas histórias, recordada na Casa da Memória!
Tudo aconteceu, de facto, em 13 de agosto de 1924, aquando das obras de rebaixamento de um prédio para instalação de uma agência bancária e se supôs existir petróleo no local.
Porém, o que é certo, e apesar de terem sido retiradas amostras e feito análises, até hoje nem um fiozinho do precioso líquido, deu ao Toural …

Outra história tem a ver com as obras da basílica de S. Pedro, que só terminariam em 1883/1884! Muitos anos para a sua conclusão e mesmo assim, ao que parece, ainda lhe falta qualquer coisa!
Não notas que lhe falta alguma coisa?
Exatamente, ao que se diz, faltará uma outra torre sineira que estaria projetada, mas que nunca foi construída!
Conta-se também que a igreja teria sido profanada e usada como cavalariça em 1809, durante a 2ª. invasão francesa, quando as tropas napoleónicas comandadas pelo general Soult entraram em Guimarães.
Relata-se ainda que no dia 1 de dezembro de 1942, a igreja foi também o local de uma tragédia, com dezenas de feridos e 10 mortos, alguns de menor idade. Tudo aconteceu durante uma missa de almas, manhã cedo, quando o soalho da igreja cedeu devido ao peso excessivo, resultante da aglomeração das pessoas que pediam a esmola de pão, nesses tempos de fome da II Grande Guerra Mundial.

Além disso, no Toural existiu também um belo café, o Café Oriental, inaugurado em 19 de dezembro de 1925 com decorações inspiradas em cenas da vida da antiga civilização egípcia, com esfinges, pirâmides e esculturas de faraós, concebido pelo capitão Luís de Pina. Eram os tempos da egiptomania, decorrentes da descoberta do túmulo de Tutankhamon.
Porém, este café sobre o qual José Sant’Ana Dionísio, escritor e jornalista, escreveria, no Comércio do Porto de 11 de setembro de 1926, ser digno de “um bar de turistas do Cairo, ou, talvez melhor ainda, duma sala do British Museum, em Londres”, acabaria por ser adquirido por um banco, em 1968 e infelizmente seria destruído!

Igualmente, no Toural, é também possível observar ainda um dos mais importantes edifícios da chamada arte dos fingidos, técnica greco-romana recuperada no período barroco, que consiste na imitação pintada de materiais nobres, como a mármore, madeiras, lacas, etc.
 Com efeito, se reparares bem no edifício do antigo Banco Nacional Ultramarino (atual hotel, situado ente a esquina do Toural e a Rua D. João I), verificarás que o granito da fachada se confina apenas ao rés-do-chão, porque a pedra dos restantes pisos é apenas o resultado desta arte do engano, denominada arte dos fingidos.

Ademais, no Toural haveria também de nascer Abel Salazar(1889-1946), considerado o “Da Vinci vimaranense”, que uma placa no local e o busto junto à Caixa Geral de Depósitos evocam.
 Médico, cientista, artista e crítico plástico, professor conceituado e escritor, Abel Salazar é indubitavelmente um caso singular na cultura portuguesa e uma das personalidades mais prestigiadas do seu tempo, que ainda hoje pode ser revisitado na sua Casa-Museu, em S. Mamede de Infesta.

Mas acima de tudo e ao longo dos tempos, o Toural foi um centro cívico de excelência da sociedade vimaranense. Com efeito, o Toural era, nos meados do século XVII e segundo o Padre Torcato Peixoto de Azevedo, autor das “Memórias Ressuscitadas de Guimarães”, uma ampla praça e “uma das melhores do Reino”.
 Aí se situaram cerca de 12 estalagens em 1760 e se localizou o célebre botequim do Vago Mestre, tasca fina, frequentada pelos intelectuais locais, entre os quais Camilo Castelo Branco, aquando da sua residência temporária por estas bandas.
 E aí chegou também a ser implantada uma forca que felizmente, ao que consta, nunca teria funcionado!
Mas, aí funcionou também o comércio local, sob as alpendradas da praça, como a feira dos panos de linho, a feira do pão e da louça e as doceiras. Ainda, já no dealbar do século XX, a célebre Casa Havaneza, o Café da Porta da Vila, ou o HiGh-Life dos chapéus e das modas, entre muitos outros estabelecimentos comerciais. Um terreno neutro e equânime das grandes discussões, duelos de oratória, entremeadas por umas tacadas de bilhar e umas xícaras de chá.
Realmente, no Toural decorreria quase tudo!
De facto, além dos atos festivos, ocorreriam também aqui as manifestações políticas, ligadas à guerra civil (1828-1834), à Maria da Fonte e à Patuleia (1846-1847) e, mais tarde, à Revolta da Maria Bernarda (1862).
E, pasme-se, até os ajustes de contas!

Mas, além disso, o Toural foi também em tempos o espaço fundamental das Nicolinas, quer dos números do Pinheiro quer das Maçãzinhas. Com efeito, só quando o espaço foi ajardinado e cercado de grades é que alguns números nicolinos mudariam de local.
E há até notícias trágicas do evento, em 1842, data em que o Pinheiro caiu no Toural e atingiu mortalmente um rapaz de 10 anos.

No entanto, o Toural foi também o palco de muitas alegrias e espetáculos, particularmente no 25 de Abril e em especial no decurso e âmbito de Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura.
E, obviamente, nos triunfos e vitórias do Vitória!
Aliás, contam as crónicas que o Vitória começou a ser discutido na Chapelaria Macedo, situada no Toural e aqui terá funcionado a sua primeira sede, desde a sua fundação em 1922.
Porém e acima de tudo, ali se celebrou em 1934 a primeira conquista vitoriana do campeonato distrital de futebol, título renovado em 36/37 e 37/38. Ali se festejou também a subida ao escalão máximo do futebol nacional em 1942 e a subida ao campeonato nacional da 1ª. divisão, em 1952. Ali se comemorou ainda o regresso à primeira divisão em 2007, após da descida por um ano à divisão secundária. Aqui se gritou e saltou, em maio de 2013, pela conquista da Taça de Portugal!
Aqui, estamos certos, muitas outras alegrias irão ser vividas indelevelmente por vindouras gerações vimaranenses …

Por Álvaro Nunes

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