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JOSÉ SARAMAGO – PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA
Por Carla Manuela Mendes (Professora), em 2018/10/171344 leram | 0 comentários | 567 gostam
Perfazem 20 anos que José Saramago recebeu o Prémio Nobel da Literatura, recebido em Estocolmo a 10 de dezembro de 1998, Dia Internacional dos Direitos Humanos, ainda que anunciado (previamente) em 8 de outubro.
Ora, evocar este acontecimento e celebrá-lo nas escolas/agrupamentos é pois algo que se justifica. E a melhor forma de o fazer, salvo melhor opinião, é (re)ler Saramago e (re)viver a vida e obra do escritor.
“A Maior Flor do Mundo” (2001) é sem sombra de dúvidas uma das obras (mais) recomendadas, direcionada para o 1º.ciclo. Com efeito, nesta aventura ecologista, um menino altruísta e abnegado faz nascer a maior flor do mundo, que graças ao seu esforço é salva da morte. Um menino-herói que “ saíra da aldeia para ir fazer uma coisa que era muito maior do que o seu tamanho e de que todos os tamanhos” …
Um livro que também daria origem a uma curta-metragem de animação com o mesmo nome, de autoria do realizador espanhol Juan Pablo Etcheberry, que pleno de moralidade e questionamentos, parte de duas perguntas fundamentais:
- e se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos?
- E seriam eles capazes de aprender o que há tanto tempo têm andado a ensinar?

Por sua vez, o conto de cariz autobiográfico “O Silêncio da Água” (2011), recomendado pelo Plano Nacional de Leitura (PNL) para o 5º. ano e redigido a partir de uma recordação de infância do escritor, é também uma proposta de abordagem possível. Uma fábula universal na qual sobressaem a beleza e a sabedoria e do qual destacamos esta passagem:

“Voltei ao sítio, já o Sol se pusera, lancei o anzol e esperei. Não creio que exista no mundo um silêncio mais profundo que o silêncio da água. Senti-o naquela hora e nunca mais o esqueci”.
 
 Por outro lado, “O Conto da Ilha Desconhecida” (1997), também recomendado pelo PNL para o 8º. ano, é uma outra opção recomendável para o público juvenil.
Situada num tempo e espaço indeterminados, como nos antigos contos tradicionais, a narrativa conta a estória de um homem otimista e determinado que queria um barco para ir à procura de uma ilha desconhecida. No fundo, uma busca pelo sonho e pelo conhecimento, que nos transporta até aos Descobrimentos e para a luta do ser humano contra as convenções, na procura de si próprio e do desconhecido, pois todas as ilhas são desconhecidas até à hora da descoberta e do desembarque.

Assim começa este conto para o qual fica o convite de embarque na leitura:
“Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe:
- Dá-me um barco.
A casa do rei tinha muitas portas, mas aquela era a das petições. Como o rei passava todo o tempo sentado à Porta dos Obséquios (entenda-se, os obséquios que faziam a ele) e cada vez que ouvia alguém chamando à Porta das Petições fingia-se desentendido”.
 
Porém, no ensino básico, Saramago pode também ser lido nas suas páginas dedicadas a Guimarães, na obra “Viagem a Portugal” (1981). Um livro de anotações de viagens no qual o escritor, ao longo de dois anos, nos mostra o país de lés-a-lés, em especial nas suas referências culturais e históricas, vivenciadas emotivamente.
Ora, seria no Museu Alberto Sampaio, que Saramago mais sentiu emotivamente a cidade de Guimarães:
“Declara já o viajante que este é um dos mais belos museus que conhece. Outros terão riqueza maior, espécies mais famosas, ornamentos de linhagem superior: o Museu Alberto Sampaio tem um equilíbrio perfeito entre o que guarda e o envolvimento espacial e arquitetónico. Logo o claustro da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, pelo seu ar recolhido, pela irregularidade do traçado, dá ao visitante vontade de não sair dali, de examinar demoradamente os capitéis e os arcos, e com abundam as imagens rústicas ou sábias, todas belas, há grande risco de cair o visitante em teimosia e não arredar pé. O que vale é acenar-lhe o guia com outras formosuras lá dentro das salas, e realmente não faltam, tantas que seria necessário um livro para descrevê-las: o altar de prata de D. João I e o loudel que vestiu em Aljubarrota, as Santa Mães, a oitocentista Fuga para o Egipto, a Santa Maria a Formosa de Mestre Pero, a Nossa Senhora e o Menino de António Vaz, com o livro aberto, a maçã e as duas aves, a tábua de frei Carlos representando S. Martinho, S. Sebastião e S. Vicente e mil outras maravilhas de pintura, escultura, cerâmica e prataria. É ponto assente para o viajante que o Museu Alberto Sampaio contém uma das mais preciosas coleções de imaginária sacra existente em Portugal, não tanto pela abundância, mas pelo altíssimo nível estético da grande maioria das peças, algumas verdadeiras obras-primas. Este museu merece todas as visitas, e o visitante faz jura de cá voltar das vezes que em Guimarães estiver. Poderá não ir ao castelo, nem ao palácio ducal, mesmo estando prometido: aqui é que não faltará”.

Por conseguinte, para além da leitura, a sugestão poderá também passar por uma visita ao Museu Alberto Sampaio. Aí se poderá complementar este texto de Saramago com outras atividades e leituras interessantes, designadamente sobre o rei D. João I e as lendas de Guimarães.
Quanto ao Prémio Nobel, como certamente é sabido, visa distinguir internacionalmente pessoas e instituições que realizam pesquisas, descobertas ou contribuições notáveis para a humanidade e que desde 1895 atribui essa distinção em domínios tão variados como na Física, Química, Medicina, Literatura, Paz e Economia.
Estes prémios instituídos testamentariamente como último desejo de Alfredo Nobel (1833-1896), industrial e engenheiro sueco, que enriqueceu devido aos seus inventos, entre os quais a dinamite, são anualmente anunciados e já por duas vezes foram atribuídos a portugueses. De facto, para além do Nobel da Literatura, o país recebeu também em 1949 o Prémio Nobel da Medicina, entregue ao médico neurologista António Egas Moniz (1874-1955).

Agora, mãos à(s) obra(s)! … “Deixa-te levar pela criança que foste” …


Texto de
Álvaro Nunes

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