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ALFREDO GUIMARÃES – O HERÓI VIMARANENSE DE LA LYS
Por António Lourenço (Professor), em 2018/04/091269 leram | 0 comentários | 598 gostam
Um dos heróis da Batalha de La Lys, falecido na frente de combate em 9 de abril de 1918, foi o capitão Alfredo Guimarães, vimaranense nascido na freguesia de S. Paio, em 22 de abril de 1884.
Filho de pais adotivos, João Lopes Cardoso Guimarães e Rita Maria Ribeiro de Castro Guimarães, ambos naturais de Ronfe, Alfredo Guimarães foi, com efeito, um dos milhares de homens que pereceram (ou foram aprisionados) nessa trágica batalha na Flandres, cem anos atrás e que hoje, como muitos outros, jaz no cemitério português de Richebourg, em França.
De facto, incorporado na Brigada do Minho, enquanto oficial observador do Regimento de Infantaria nº. 29 (embora pertencesse a cavalaria nº.2), Alfredo Guimarães distinguir-se-ia heroicamente nesta fatídica batalha, apesar da desconfiança inicial que despertara entre seus homens, pela sua postura original e singular. De facto, como “trajava uniforme de coiro preto da aviação, desconhecido nas trincheiras e, como era louro e vermelhaço, quiseram ver no seu traje original um disfarce propício a ocultar o papel de espião” - lê-se num artigo da revista “Guerra” intitulado “Um cavaleiro na Flandres”, de autoria do tenente-coronel Francisco Aragão, republicado no periódico vimaranense “A Velha Guarda” de 2 de setembro de 1928. Porém, de facto, Alfredo Guimarães tentara altos voos como aviador, na Escola de Guerra, que todavia não concluiria. Com efeito, seus adejos ater-se-iam tão-somente aos volteios celestiais da honra e da glória, ironicamente conquistados em terra e nas trincheiras, como nos conta a fonte citada:
“Conheci com intimidade Alfredo Guimarães que foi do meu curso na Escola de Guerra e a quem me prenderam depois laços da melhor camaradagem na aviação. E nas longas conversas que tivemos na pista de Vila Nova da Rainha e no meu quarto na Escola – que pouco a pouco se transformou no clube mais concorrido do campo - (…) Era então seu instrutor - e logo passados os primeiros dias de voarmos juntos o desenganei, dizendo-lhe com amiga franqueza o que até aí outros lhe tinham escondido, também por amizade. Era uma pessoa fisicamente incompatível com o serviço da aviação, para o qual, aliás sobejaram tantas qualidades morais “(…)
 Qualidades que, prossegue o citado testemunho, o revelavam “inabalável na sua resolução de se chegar à frente fosse como fosse, desse por onde desse” . E assim seria de facto, a 9 de abril de 1918:
“Estava no apoio quando se iniciou o bombardeamento formidável que precedeu o ataque do dia 9. E é já sob a ação terrivelmente destruidora desse bombardeamento que avança com o seu pelotão para a frente a reforçar as forças de infantaria 8 que guarneciam as trincheiras da 1ª. linha. Aí, resiste a luta até à aproximação dos alemães, conseguindo retirar, sempre perseguido pelo fogo dos atacantes que lhe abateu muitos dos seus homens soldados. Mas, a sua energia - que a excitação da luta torna dura e inexorável -, manteve ordenadamente a retirada que se estende até ao posto de comando do batalhão. Lá encontra, impassível perante o esfacelar da Brigada, que se pressente, o intrépido comandante do 29 e dele recebe com palavras de incitamento e de louvor 20 soldados que logo o acompanham e que ele arrasta através da chuva de granadas e de balas até aos postos de apoio. Quando uma hora depois de lá volta, está ferido e o sangue já lhe ensopa a camisa e a farda; mas as suas primeiras palavras para o comandante não são de desânimo, nem de renúncia - pede-lhe de novo soldados para contra-atacar o inimigo! Nem os tinha já o major Xavier da Costa que via fundidos com metralha ou soterrados nos abrigos 500 homens do efetivo que o batalhão contava. Guimarães é mandado acompanhar a Brigada – para ser devidamente pensado e evacuado. E consegue chegar vivo a Laventie. À entrada da Rua Enfer junto do estaminé que os nossos chamam de Palha, reconhece ocupada por portugueses e ingleses, uma trincheira. E já não pensa no ferimento, nem no penso, nem no posto de socorro. Insistem para que se retire, mas recusa-se a fazê-lo e ali fica a afrontar mais uma vez a morte, que já tanto e tanto o respeitava. Não pude saber como caiu para sempre o Cavaleiro 29 e a sua campa que foi posteriormente encontrada, não conta das horas belas da luta que sustentou e dos momentos dolorosos de sofrimento e de angústia que viveu.
Mas a energia indomável com que cumpriu o seu dever e se excedeu cumprindo-o até morrer, a determinação com que lutou, marchando duas vezes, para a metralha a seu pedido e vendo recusado o seu terceiro oferecimento quando, já ferido, o renovava, e a espontânea decisão com que se junta aos últimos elementos de defesa junto a Laventie, falam bem alto do ardente espírito de lutador, que sempre conservou através de todas as duras circunstâncias desse seu último dia de vida”.
    
Alfredo Guimarães seria promovido a capitão e condecorado com o grau de Oficial da Torre, do Valor, Lealdade e Mérito e com a Cruz de Guerra da 2ª. Classe pelos seus prestimosos serviços prestados na I Grande Guerra (1914-1918), enquanto militar integrado na Brigada do Minho, formada por infantaria 20 de Guimarães, infantaria 8 e 29 de Braga e infantaria 3 de Viana do Castelo.
      
Outrossim, a sua cidade berço consagraria seu nome na toponímia urbana, de acordo com uma proposta que seria aprovada por unanimidade na sessão camarária de 15 de agosto de 1924. Concretamente, na Rua Capitão Alfredo Guimarães que proveniente da confluência da Rua Dr. Joaquim de Meira com Avenida General Humberto Delgado (ex-Palheiros), desemboca na rotunda do campus de Azurém da Universidade do Minho.

Nascido e falecido em abril, Alfredo Guimarães é por isso (mais) um dos nossos heróis de abril…

Texto escrito por
Álvaro Nunes


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