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NOVOS LIVROS DE ARADUCA
Por António Lourenço (Professor), em 2018/03/13336 leram | 0 comentários | 74 gostam
Dois novos livros sobre Raul Brandão (RB) e outros tantos acerca de Mumadona marcam neste mês de março, coincidente com a Semana da Leitura, a produtividade cultural local, a provar que a gente de Guimarães (a velha Araduca) continua proativa.
De facto, as comemorações dos 151 anos de RB deram azo a mais dois livros: o primeiro de Secundino Cunha e Manuel Roque, intitulado “A Casa do Alto” que foi apresentado no passado dia 7 de março na Biblioteca Raul Brandão ; e o segundo, ainda no prelo, sob o título “Raul Brandão e(m) Guimarães” , que será apresentado no próximo dia 23 de março no auditório da Junta de Freguesia de Nespereira, cujos autores são Fernando Capela Miguel e Álvaro Nunes, e que conta com ilustrações de J. Salgado Almeida.
A Casa do Alto, uma publicação da editora vimaranense Opera Omnia, com patrocínio camarário, é essencialmente um livro que nos dá conta de alguns passos significativos acerca da sua edificação em 1898, de acordo com um projeto idealizado pelo grande arquiteto portuense Marques da Silva (autor de várias obras em Guimarães), aludindo à colação algumas e breves citações brandonianas, quer sobre esta casa quer sobre a vida de RB em Guimarães. Uma obra em que prevalece acima de tudo a reportagem fotográfica sobre a recuperação desta casa, a cargo do seu proprietário atual, o arquiteto Manuel Roque, trineto sobrinho do escritor.
 Uma casa que o escritor, ele próprio, desenhou o seu esboceto e acompanhou a sua construção e na qual pôs as suas próprias mãos, como se constata nesta passagem das suas Memórias II, no texto “O Silêncio e o Lume”, datado de 24 de dezembro de 1924:

“A nossa casa fica a meio da encosta da colina. Por trás, o mar verde dos pinheiros, em frente os montes solitários. Este cantinho rústico criei-o eu, palmo a palmo. Tudo isto foi pedra e uma árvore contemporânea da monarquia. O carvalho centenário cobria todo o eido. Era enorme e prodigioso. No tronco, que nem seis homens podiam abranger, tinham os bichos as luras e o seu hálito sentia-se de longe. Logo que o vi fiquei apaixonado (…) Construí a casa, plantei as árvores, minei as águas. Absorvi-me.”

Por seu turno, o livro “Raul Brandão e(m) Guimarães”, ao qual tivemos acesso antecipado, abarca uma investigação mais exaustiva sobre a vida e obra do escritor, enquanto vimaranense por adoção, compilando dados de diversas proveniências como cartas e artigos jornalísticos, assim como textos brandonianos e dos seus biógrafos e críticos, ventilando aspetos pertinentes como os seus amores, que curiosamente foi jurado em Covas, a vida militar e obviamente a sua tebaida da Casa do Alto e Nespereira, seu “domicilio de escritor”. Mas também, as suas vivências em Guimarães e em Nespereira, quer na imprensa quer nas várias iniciativas e homenagens desenvolvidas em prol da sua divulgação, na qual se destaca a profícua ação de J. Santos Simões enquanto criador e diretor do Teatro de Ensaio Raul Brandão (TERB), após os anos 60 e como Presidente da Sociedade Martins Sarmento, a partir da década de 90.
Respigamos do citado livro algumas passagens sobre Guimarães, retiradas da carta de 1898, endereçada a seu amigo e pintor Columbano Bordalo Pinheiro:
“ Guimarães é uma cidade perfeitamente Idade Média ´, com palácio, igrejas e casas minhotas curiosíssimas. Tudo isto tem um aspeto que você deve gostar muito. Os arredores, a paisagem, até nos dias de chuva, são admiráveis. Lindas raparigas e vinho verde magnífico a cinco mil réis a pipa; acrescentando isto fica você percebendo que esta terra basta a minha felicidade. Estou portanto contente. Não vejo senão à minha volta gente feliz, corada, palreira (…)
Aluguei uma casa fora da cidade com um enorme quintal e um telheiro. De lá, nestas últimas tardes de calor, amodorrando olho a Penha – uma montanha eriçada de penedia e árvores que separam os campos, cobertos de vinho. Trabalho da uma às quatro e meia. Depois passeio, como e durmo. Uma vida de abade”.

Ou, como sintetizaria nas suas Memórias: “de dia podo árvores, à noite sonho” – escreveria sobre o seu modus vivendi, dividido entre a agricultura, em comunhão com o ambiente físico e humano, e a escrita, consubstanciada e genesicamente emanada do sonho.
De facto, Raul Brandão foi feliz em Guimarães, como perpassa na sua carta de amor de 26 de agosto de 1896:
“Eis o que vim encontrar em Guimarães: - a minha felicidade, o meu amor, a minha querida Maria Angelina”.
E Guimarães, nestes tempos mais recentes, parece também feliz com a recuperação de Raul Brandão, fazendo-o emergir das águas do rio Letes e elevando-o reconhecidamente entre “aqueles que da lei da morte se vão libertando”. O programa comemorativo publicado em separado é bem a prova disso. Mas também porque outras iniciativas se anunciam por parte da Junta de Nespereira, dignas dos maiores encómios: a criação de um museu a céu aberto no parque lúdico requalificado, debaixo do viaduto da autoestrada; ou mesmo a eventual aquisição da Casa da Quinta da Igreja, um dos locais da ação de “Portugal Pequenino”. A denominação de Raul Brandão para a EB1/JI de Arrau e a organização local de roteiros brandonianos estão também entre as propostas previstas.
Igualmente e a propósito dos 90 anos do Museu Alberto Sampaio (MAS) dois novos livros darão à estampa: Mumadona: cartulário do mosteiro de Guimarães”, uma obra editada pelo MAS em colaboração com a Academia de Ciências de Lisboa e o Arquivo Municipal Alfredo Pimenta; e, o livro infanto-juvenil “Mumadona Dias: a fundadora de Guimarães”, ambos a lançar no próximo dia 17 de março.
“Namoras Comigo” de autoria de Catarina Saavedra, com ilustrações de Sílvia Abreu, foi outra obra recentemente editada, que foi apresentado na Junta de Freguesia das Taipas, no início de março. Um livro sobre o tema do amor que se encontra inserido no programa “Namorar Portugal 2018”, uma iniciativa que pretende sensibilizar para as tradições minhotas .
De facto, a gente da velha Araduca continua (bem) viva …

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