QUATRO POEMAS PARA CELEBRAR A PÁSCOA | |
Por Conceição Páscoa (Professora), em 2020/04/01 | 1130 leram | 0 comentários | 179 gostam |
Apesar de tudo, a Páscoa ainda é o que era! Vamos pois celebrá-la, embora à distância, na proximidade destes poemas de vários autores e sensibilidades. | |
PÁSCOA Um dia de poemas na lembrança (também meus) Que o passado inspirou. A natureza inteira a florir No mais prosaico verso. Foguetes e folares, Sinos a repicar, E a carícia lasciva e paternal Do sol progenitor Da primavera. Ah, quem pudera Ser de novo Um dos felizes Desta aleluia! Sentir no corpo a ressurreição. O coração, Milagre do milagre da energia, A irradiar saúde a alegria Em cada pulsação. MIGUEL TORGA,(Diário XVI) QUEM Não sei como ressuscitou no terceiro dia de cada sílaba nem se há palavra para voltar do grande rio do esquecimento. Não sei se no terceiro dia alguém espera. Ou seninguém. Em cada poema levanto a pedra em cada poema pergunto quem. MANUEL ALEGRE PÁSCOA NA ALDEIA Minha aldeia na Páscoa Infância, mês de Abril! Manhã primaveril! A velha igreja, Entre árvores alveja Alegre e rumorosa De povo, luzes, flores … E, na penumbra dos altares cor-de-rosa, Rasgados pelo sol os negros véus, Parece até sorrir a Virgem-Mãe das Dores, Ressurreição de Deus! (…) Em pleno azul, erguida Entre a verde folhagem das uveiras, Rebrilha a cruz de prata florescida … Na igreja antiga a rir seu branco riso de cal Ébrias de cor, tremulam as bandeiras … Vede! Jesus lá vai, ao sol de Portugal! Ei-lo que entra contente nos casais; E, com ano, visita as rústicas choupanas, É ele, esse que trouxe aos míseros mortais As grandes alegrias sobre-humanas Lá vai, lá vai, por íngremes caminhos! Linda manhã, canções de passarinhos! A campainha toca; Aleluia! Aleluia! (…) Velhos trabalhadores, por quem sofreu Jesus E mães, acalentando os filhos no regaço, Esperam o compasso … E, ajoelhando com séria devoção, Beijam os pés da Cruz. TEIXEIRA PASCOAES PÁSCOA NO MINHO É tempo de Páscoa do Minho florido Já se ouvem os trinos dos sinos festeiros Na igreja vestida de branco vestido. Entre o verde manso dos altos pinheiros. Caminhos de aldeia, que o funcho recobre Esperam cheirosos, que passe o “compasso”, À casa do rico, cabana do pobre … Já voam foguetes e pombas no espaço! Lá vêm dois meninos, com opas vermelhas, Tocando a sineta. Logo atrás, o abade Já trôpego e lento. (As pernas são velhas? Mas no seu sorriso tudo é mocidade.) Com que unção o moço sacristão, nos braços Traz a cruz de prata que Jesus cativa, Para ser beijada! Enfeitam-na laços De fitas de seda e num rosa viva. Um outro, ajoujado, ao peso das prendas (Não há quem não tenha seu pouco para dar …) Traz um largo cesto de nevadas rendas Os ovos, o açúcar e os pães do folar. Mais um outro, ainda, o hissope e caldeira Cheia de água benta, abre um guarda-sol. Seguem-nos, e alegram céu e terra inteira, Estrondos de bombos e gaitas de fole. Haverá visita mais honrosa e bela? Famílias ajoelham. A cruz é beijada. (Pratos de arroz-doce, com flores de canela, Aguardam gulosos nas mesas enfeitadas). Santa Aleluia! Oh, festa maior! Haverá mais bela e honrosa visita? É tempo de Páscoa. O Minho está em flor, Em cada alma pura Jesus ressuscita. ANTÓNIO M. COUTO VIANA Seleção de poemas por Álvaro Manuel Nunes | |
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