QUANDO GUIMARÃES VIROU CIDADE | |
Por Conceição Páscoa (Professora), em 2020/05/09 | 791 leram | 0 comentários | 166 gostam |
Entre 15 e 17 de maio de 1852, a rainha D. Maria II visitou Guimarães. Foi uma festa de arromba, logo sentida estrada fora, entre Braga e Guimarães. | |
- Ó avó, é verdade que Guimarães só é cidade há pouco mais de 167 anos? Como pode ser, se fomos a capital do Condado Portucalense?- - É verdade, Henrique! Só em 1853 é que Guimarães passou de vila a cidade. Eu conto-te: Entre 15 e 17 de maio de 1852, a rainha D. Maria II visitou Guimarães. Foi uma festa de arromba, logo sentida estrada fora, entre Braga e Guimarães. Havia arcos, músicas populares, sinos a tocar a repique e vozes de regozijo: - Viva a rainha! Viva Portugal! Que Deus vos salve por muitos anos! A comitiva pararia nas Taipas, para visitar os banhos termais e chegaria a Guimarães cerca das 9 horas de sábado, dia 15 de maio, sendo entusiasticamente recebida no Toural pela população, autoridades locais e um destacamento de infantaria 2. E de novo, os vivas de emoção: - Viva(m) a rainha D. Maria II e seu esposo D. Fernando! Viva(m) o príncipe D. Pedro e o infante D. Luís! Viva Guimarães! Viva Portugal O ambiente era eufórico e as janelas encontravam-se engalanadas com colchas adamascadas, sobressaindo nas fachadas dos edifícios do terreiro do Toural uma uniforme cor de limão. Depois, na Porta da Vila, o Presidente da Câmara, João Machado Pinheiro, pronunciou um brilhante discurso e entregou à rainha as chaves simbólicas da vila de Guimarães. O cortejo seguiu depois em direção à Colegiada, pela Rua dos Mercadores (atual Rua Rainha D. Maria II), que estava alcatifada de baeta cor de púrpura na parte central e ervas bem cheirosas de ambos os lados. Como sempre as janelas estavam apinhadas de gente e adamascadas, As saudações repetiam-se: - Viva Sua Majestade D. Maria II e a sua família real! Viva Guimarães! Viva Portugal! - Ó avó, até parece que estavas lá! Como sabes tantas coisas? - Claro que não estava, Henrique! Só tenho 70 anos! Mas já li muita coisa sobre a nossa cidade e há coisas que nunca esquecem! - Julguei que era apenas uma grande enciclopédia sobre as coisas do Vitória!? - Não, rapaz, há mais coisas no meu coração! Como tu, por exemplo. Bem, mas continuando a história: Então, na Colegiada, assistiriam às cerimónias religiosas e recolheram depois ao Palácio de Vila Flor, de Nicolau Arrochela. À noite com a vila iluminada um coro de raparigas atuou nos Passarinhos, quero dizer. S. Francisco No entanto, as cerimónias continuariam no dia seguinte, domingo. Houve então um beija-mão concedido às autoridades e várias visitas às ordens terceiras, como S. Domingos e Dominicas, entre outras. Nessa altura, a rainha receberia várias ofertas entre as quais uma bandeja-almofada, feita no Convento das Dominicas, que muito sensibilizaria a monarca e as gentes do Gerês vieram a Guimarães oferecer à família real 3 cargas de caça morta e 7 cabrinhas bravas vivas, que levaram para Lisboa. Entretanto, a soberana, como era costume na época, mandou dar 15 moedas a cada um dos 4 conventos de freiras e avultadas esmolas aos presos e várias outras pessoas. A família real partiria a 17 de maio, rumo a Santo Tirso, ignorando o convite da visita a Vizela que se preparava para receber a comitiva real e entregar uma petição no sentido de ali ser criado um concelho com parte de Guimarães, Barrosas e Negrelos. -Ó avó, não sabia que o concelho de Vizela já vinha desses tempos! - É verdade, Henrique! Mas o mais importante resultado desta visita seria a elevação de Guimarães a cidade. Vou ler-te esse decreto da rainha, datado de 19 de fevereiro de 1853, que tenho ali na estante: “Querendo eu dar, aos habitantes de tão nobre povoação, um testemunho autêntico do distinto apreço em que tenho a sua honrada e habitual dedicação à cultura das artes e trabalhos úteis, por mim presenciados na ocasião da minha visita às províncias do norte: hei por bem elevar a Vila de Guimarães à categoria de Cidade com a denominação de Cidade de Guimarães, e me praz que nesta qualidade goze de todas as prerrogativas, liberdades e franquezas que diretamente lhe pertencerem” - Mas, sabes a melhor?! Este decreto só seria conhecido pela Câmara Municipal em 21 de março, quando decorria a Semana Santa e as festas pascais. Por isso, os festejos foram adiados para o dia 3 de abril, prolongando-se até ao dia seguinte, que por acaso coincidia com a data de aniversário da rainha. Aliás, seria o último aniversário da rainha D- Maria II que faleceria em novembro, com apenas 34 anos, vítima do seu 11º. parto. Porém, vê lá tu, só em 22 de junho de 1853 a rainha assinou a carta régia que mandava cumprir o decreto citado. Por isso, é esta data que se costuma comemorar. - Gostei, avô! Só não percebo porque demorou tanto tempo! - Ora, além das burocracias, não te esqueças que naquele tempo tudo era feito a cavalo ou de barco! - Também não entendo porque demorou tanto tempo para Guimarães ser reconhecida como cidade!? - Bem, embora Guimarães fosse uma das cidades mais populosas a norte do rio Tejo, só ultrapassada por Lisboa, Porto e Santarém, o título de cidade era geralmente e apenas atribuído às povoações com sede de bispado, como aconteceu a Braga. De facto, segundo o Numeramento de D. Manuel I, de 1527, a cidade de Braga tinha cerca de metade da população de Guimarães. Como vês, o critério da população não contava … Fora mais uma lição de História Local para o Henrique, que gosta muito de saber coisas da sua terra … Por Álvaro Nunes | |
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