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MAIS UMA HISTÓRIA PASCAL- HISTÓRIA(S) DO PÃO-DE-LÓ
Por Conceição Páscoa (Professora), em 2020/04/01564 leram | 0 comentários | 157 gostam
Como estamos em quarentena, há mais tempo para ler e refletir e as tradições não podem ser esquecidas, mas antes reinventadas.
Aqui fica, então, outra história para leres e (re)contares.
HISTÓRIA(S) DO PÃO-DE-LÓ

“Tinha passado o Natal de 1822 em Guimarães, e levara à sobrinha um grilhão de ouro da sua viúva dentro de uma rosca de pão-de-ló”.
Quem assim escreve é Camilo Castelo Branco na sua novela “A Viúva do Enforcado”, inserida na obra “Novelas do Minho”, narrativa cuja ação central decorre na cidade-berço.

Porém, o pão-de-ló consta já no Livro de Receitas da Infanta D. Maria, manuscrito no século XVI e no regimento dos confeiteiros da cidade de Lisboa, o qual tinha já sido confecionado “ com açúcar da ilha da Madeira ou açúcar branco de outras ilhas”.
Aliás, em 1609, consta também citado o mamposteiro da Santa Casa da Misericórdia de nome Pascoal de Freitas, que provavelmente terá metido as mãos na massa.
Certa, porém, como primeira referência ao pão-de-ló vimaranense, é a ata da vereação camarária de 25 de junho de 1678 que passa a taxar o doce a 70 réis o arrátel.

Quanto à produção do dito cujo doce, esta encontrava-se particularmente a cargo das freiras dos conventos de Santa Clara (as clarissas) e das mulheres do recolhimento das Trinas, que era geralmente saboreado pelo Natal e Semana Santa e/ou oferecido
Há até referências que, em 1571-1572, no dia de Santo António dos Capuchos, as clarissas ofertavam o “vate” ou “bate” (já sabemos que por cá se confundem o b e o v ), que, no fundo, seria uma outra designação para o pão-de-ló, ainda atualmente usada no Alto Minho.

Outra referência marcante, é mencionada no relatório da Exposição Industrial de Guimarães de 1884. Na circunstância alude-se a vários tipos de doces, nomeadamente o “pão-de-ló”, o “pão-de- ló coberto”, o “pão-de-ló dito coberto” e ainda o “pão-de-ló (bolinhol), enumeração
que obviamente parece indiciar tipos diferentes de confeção, incluindo o bolinhol vizelense.
Indústria que, ao que parece, como escreve Avelino da Silva Guimarães, em 1884, no “Jornal do Comércio”, de Lisboa, se revela em Guimarães economicamente salutar e competitiva: “terra de conventos e freiras, a indústria de doçaria teve uma tal prosperidade que estabeleceu e sustentou por muitos anos abundante comércio com Inglaterra. Era também no Recolhimento das Trinas ´, que se fabricava o melhor pão-de-ló, que disputava competências ao afamado pão-de-ló de Margaride (Felgueiras)”

Outra característica deste doce é ainda que, no bom estilo proustiano, nada se perde tudo se transforma. Com efeito, o pão-de-ló recesso dá para fazer “sopa dourada”, ou em alternativa leva-se ao forno coberto com doce de calondro.
Documentos da época, datados de 1825, permitem ainda saber que os irmãos da confraria dos Sapateiros, se deliciavam, na Quarta-feira de Cinzas, com “pão leve e vinho maduro”.
Quiçá as sopas de cavalo cansado, ou sopas de vinho, que seriam uma triste lembrança de um Portugal (ainda mais) pobre, cujos tempos difíceis levavam, a uma alimentação pouco saudável, ainda que por vezes bem-humorada, como esta letra do fado “Sopas de Vinho”, de Amália Rodrigues, dilucida:

“Sopas de vinho, não embebedam
Se não há vento nem chuva
Se as botas não me escorregam
Que diabo é que me empurra?!

Por Álvaro Manuel Nunes


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