DIA DA MÃE | |
Por Conceição Páscoa (Professora), em 2020/04/30 | 705 leram | 0 comentários | 181 gostam |
Dia 3 de Maio celebra-se o Dia da Mãe, no primeiro domingo desse mês. A efeméride, evocadora da Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo, que tempos atrás chegou a ser comemorada em 8 de Dezembro, pretende reforçar e demonstrar o amor dos filhos pelas mães. | |
O Dia da Mãe tem origens remotas e remonta à Grécia Antiga, concretamente, à homenagem a Rhea, mulher de Cronos e mãe dos deuses. Posteriormente, a data seria aculturada pela civilização romana, cujas festas celebravam Cibele, mãe dos deuses romanos. No entanto, atualmente, o Dia da Mãe é celebrado praticamente em todo o lado e tem merecido o preito generalizado da humanidade, desde as mais simples quadras populares aos contos e poemas mais belos. De tal forma que Maria Teresa Horta escreveria em 1999 a obra “A Mãe na Literatura Portuguesa”, uma antologia de vários autores portugueses que aborda belamente este tema. De facto, para os maiores aos mais pequenos, a mãe está omnipresente em todos os momentos da vida, como este poema Matilde Rosa Araújo, intitulado “Minha mãe”, dilucida claramente: Minha mãe tem flores nos olhos nas mãos, nos braços. Luas brancas são seus seios de seda E é grande como o Mundo E eu chamo-lhe Mãe! Com efeito, desde Florbela Espanca a Antero de Quental, passando por Fernando Pessoa a António Ramos Rosa, praticamente todos os escritores e poetas, glosaram e homenagearam a mãe nas mais variadas sensibilidades. Ainda para os mais novos, aqui fica o exemplo o caso de Maria Ducla Soares, que no seu longo poema “Mãe”, nos escreve sobre a sua força anímica, os seus encantos e o seu poder criativo: A mãe é uma árvore e eu sou uma flor (..) A mãe faz coisas mágicas transforma farinha e ovos em bolos linhas em camisolas trabalho em dinheiro. A mãe tem mais força que o vento: carrega sacos e sacos do supermercado e ainda me carrega a mim (…) A mãe Sabe para onde vão todos os autocarros descobre as histórias que contam as letras dos livros. A mãe tem na barriga um ninho e que lá guarda o meu irmãozinho A mãe Podia ser só minha Mas tenho que a emprestar A tanta gente. A mãe à noite descasca batatas Eu desenho caras nelas E a cara mais linda É da minha mãe Ademais, tão pouco a mãe omnipresente e omnisciente escapa aos contos infantis. É o caso deste excerto do “Dia da Mãe na Floresta Verde”, de Rosário Alçada Araújo, que nos fala nas mães dos animais e também da Mãe Natureza: O dia da mãe era um dia muito esperado na floresta verde! Naquele ano, o esquilo ofereceu uma folha seca à mãe esquilo, que a pendurou na sua toca; o porquinho tinha guardado duas gotas de orvalho para a mãe porquinha que as saboreou deliciada; o ursinho estivera, no dia anterior, a fazer exercícios com os braços, de modo a poder dar à mãe ursa o maior abraço do mundo; e a barata pequenina acordara mais cedo para limpar o pó e varrer a casa. A mãe barata nem queria acreditar quando acordou e viu tudo a brilhar! Contudo, naquele ano, ninguém sonhava que a maior festa ainda estava para acontecer. É que o mocho, sempre atento e sabichão, resolveu escrever uma carta a todos os animais da Floresta Verde, que dizia: “hoje, às três horas da tarde, na clareira da floresta, haverá uma reunião sobre a festa da Mãe Natureza”. Os animais ficaram intrigados. Quem será a Mãe Natureza!? – perguntava o papagaio a todos que encontrava. Uns respondiam que não sabiam, outros a davam que se tratava de uma partida do mocho e outros ainda perguntavam se seria um fantasma, já que ninguém alguma vez a vira” (…) Mas, “Mãe” é também o título do belo texto de Almada Negreiros, do qual retiramos umas curtas passagens: Mãe! Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei (…) Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado! (…) Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça! Quando passas a mão pela minha cabeça é tudo tão verdade! Na verdade, desde os autores mais antigos como António Nobre e Miguel Torga, até aos mais atuais como José Luís Peixoto ou José Jorge Letria, a mãe tem sido ao longo dos tempos e espaço da língua portuguesa um tema comum, quer em África por Mia Couto, quer no Brasil em Cecília Meireles, Vinicius de Moraes ou Carlos Drumond de Andrade. É deste último poeta o poema “Para sempre”, transcrito parcialmente: Por que Deus permite Que as mães vão-se embora? Mãe não tem limite É tempo sem hora Luz que não apaga Quando sopra o vento E a chuva desaba. (…) Fosse eu rei do mundo Baixava uma lei: Mãe não morre nunca Mães ficará sempre Junto de seu filho E ele velho embora, Será pequenino Feito grão de milho. Por sua vez, no “Poema à Mãe”, Eugénio de Andrade mostra a sua divisão entre a necessidade vital de cortar o seu cordão umbilical que prendia a criança à proteção materna e a pena de ter de o fazer: No mais fundo de ti, eu sei que traí, mãe! Tudo porque já não sou o retrato adormecido no fundo dos teu olhos! (…) Tudo porque perdi as rosas brancas que apertava junto ao coração no retrato da moldura! (…) Mas - tu sabes! – a noite é enorme e todo o meu corpo cresceu … Eu saí da moldura, dei às aves os meus olhos a beber. Não me esqueci de nada, mãe Guardo a tua voz dentro de mim, E deixo-te as rosas … (…) Deixo também aos leitores o desafio de deixarem às suas mães um poema, uma frase ou uma simples quadra popular, como esta: Com três letras apenas Se escreve a palavra mãe É das coisas mais pequenas Que se encontram o maior bem. Vamos a isso! Texto de Álvaro Nunes | |
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