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ABRIL EM TEMPOS DA COVID-19
Por Conceição Páscoa (Professora), em 2020/04/23562 leram | 0 comentários | 168 gostam
Neste 25 de Abril de 2020 o tempo é pois de resiliência e responsabilidade pessoal e coletiva, para recuperarmos a liberdade agora mitigada, que nos obriga a ficar em casa.
“Esta é a madrugada que eu esperava
 O dia inicial inteiro e limpo
 Onde emergimos da noite e do silêncio
 E livres habitamos a substância do tempo”
    (Sophia de Mello Breyner Andresen)

De facto, “há muitos anos, no tempo em que o teu pai andava na escola, num país muito distante vivia um povo infeliz e solitário, vergado sob o peso de uma misteriosa tristeza. (…)
Esse país agora já não se chama País das Pessoas Tristes, chama-se Portugal e é o teu país. E o tesouro pertence a ti, és tu que agora tens que cuidar dele. (…)
Porque esta história não é uma história inventada. É uma história verdadeira, aconteceu mesmo. Pergunta aos teus pais ou aos teus professores e eles contar-te-ão mais coisas sobre o País da Pessoas Tristes e sobre o Dia da Liberdade.”

Este curto excerto, destinado aos mais novos, extraído do livro de Manuel António Pina, intitulado “O Tesouro, (recomendado pelo Plano Nacional de Leitura), conta um pouco dessa história do 25 de Abril de 1974, ocorrida há 46 anos, que merece ser lida, ou recontada por aqueles que a (não) vivenciaram.

De facto, este e muitos outros textos literários permitem compreender que o 25 de Abril abriu muitas portas do país que estavam fechadas, como a da Descolonização, a da Democracia e a do Desenvolvimento, que eram os três“D”e objetivos da Revolução de Abril.
Porém,“As portas que Abril abriu”, que o poeta Ary dos Santos tão bem canta no seu poema homónimo, entreabririam apenas alguns limiares. Realmente, há ainda muitas portas semicerradas e outros “D”, por cumprir: o da Desigualdade, o do Desemprego, o da Descentralização, o da “Descorrupção”,e Demais coisas e loisas … que neste ano de 2020 se irão colocar, devido à pandemia do coronavírus.

De facto, “Nesta Hora”, assim se intitula um outro poema de Sophia, (como aliás em todas as horas) “é preciso dizer a verdade toda/Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca o povo/Pois é preciso ´que o povo regresse do seu longo exílio”(…), pois, como acrescenta “Meia verdade é como habitar meio quarto/Ganhar meio salário/Como só ter direito/A metade da vida”

Porque, realmente, a vida é para viver por inteiro, sem restrições: “de nenhum fruto queiras só metade”, disse Torga no seu poema “Sísifo”. Todavia, por vezes, é preciso recomeçar sem desistências e pugnar até ao fim contra as prepotências, desmandos e ataques insidiosos, lutando bem defendidos e resistindo

Neste 25 de Abril de 2020 o tempo é pois de resiliência e responsabilidade pessoal e coletiva, para recuperarmos a liberdade agora mitigada, que nos obriga a ficar em casa.
Com efeito, só assim o sonho e a utopia de um mundo melhor (e agora adiado), terá pernas para andar em direção a um “Abril de Sim Abril de Não”, como o canta Manuel Alegre:

“Eu vi Abril por fora e Abril por dentro
vi o Abril que foi e Abril de agora
eu vi o Abril em festa e o Abril lamento
Abril como quem ri como quem chora.
 
 Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
Abril que já não é Abril por vir
e como tudo o mais contradição

Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.

Abril de Abril vestido (Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer.”.

Portanto, passados estes 46 anos de Abril, (idade da maturidade), importa voltar ao “chão puro: algarves de ternura”-, como Alegre canta; e seguir o exemplo daquele “que na hora da vitória/respeitou o vencido/Aquele que deu tudo e não pediu a paga/Aquele que na hora da ganância/Perdeu o apetite/Aquele que amou os outros e por isso/Não colaborou com a sua ignorância ou vício/Aquele que foi fiel à palavra dada à ideia tida” (…), isto é, seguir aquela coluna de chaimites que Salgueiro Maia comandou, e de novo enfrentar novos desafios.
Só assim teremos o “25 de Abril Sempre” e a várias vozes plurais.

Assim, vem a este propósito uma recomendação de leitura. A sugestão seria “Vinte e Cinco a Sete Vozes”, de Alice Vieira, obra inserida no Plano Nacional de Leitura.
Que acham?
De facto, trata-se de um livro divertido, centrado no relato de 7 pessoas (ou vozes) de três gerações diferentes, que contam as suas memórias sobre o 25 de Abril.
Tudo começou quando uma investigadora chegou à escola de gravador na mão e começou por falar com o “baldas” Paulo Jorge do 7º.J, que logo a (re)encaminha:

“Mas se queres um conselho, quem te dava um depoimento bué de fixe era a Madalena, assim com muita gramática e os verbos todos certos, tás a ver? Não sabes que é a Madalena? É só perguntares. Anda no 7º. B, toda a gente a conhece. Cinco a tudo, estás a topar?, escreve artigos para o jornal da escola, nunca se balda. Há quem lhe chame a betinha da Quinta da Marinha (…)
Para ser franco, minha, eu também não sei grande coisa. Para mim, 25 de Abril,5 de Outubro, 1º- de Novembro, 1 de Dezembro e o 1º. de Maio é tudo a mesma coisa, ou seja, é feriado e isso é que interessa”.

Por isso, a conversa passaria depois para a Madalena e o jornal escolar “Topas”, orientado pela professora de inglês, pelos pais e avô de Madalena, o pai de Paulo Jorge, e ainda por uma professora aposentada do 1º. ciclo, que em vozes diferentes historiariam os seus 25 de Abril.

E tu, o que sabes sobre o (feriado do) 25 de Abril?

Texto de Álvaro Nunes


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