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O COMETA HALLEY E(M) GUIMARÃES
Por Conceição Páscoa (Professora), em 2020/05/13402 leram | 0 comentários | 142 gostam
Neste último século, o cometa Hailley foi mais uma vez avistado em 1910, voltando novamente a reaparecer em 1986 para nova “visita de médico”.
De facto, com intervalos de cerca de 75/76 anos, como o descobriu em 1705 o matemático e astrónomo inglês Edmond Halley (1656-1742), - que acabaria por dar o nome ao cometa -, que esta visita é periódica, desde cerca de 240 a.C., e tem constituído um espetáculo luminoso, por vezes de pânico.
Com efeito, em 1910, há cerca de 110 anos atrás, o cometa provocaria grande terror na população terrestre.
Tudo começou com o relato divulgado pelo jornal San Francisco Call, posteriormente veiculado pelo New York Times, que anunciou a opinião do astrónomo francês Camille Flammarion. Segundo este, contrariado pela maioria dos cientistas da época, o “gás cianogénio do cometa poderia impregnar a atmosfera e possivelmente extinguir toda a vida no planeta”.
Como é lógico esta opinião dividiu a população e causou pavor entre muitos. Outros, porém viram nesta polémica uma oportunidade de negócio. Assim, na altura, acabaria por disparar as vendas de telescópios, bem como de máscaras protetoras para escapar aos gases , comprimidos com antídoto e até guarda-chuvas de proteção!
Contudo, contra as superstições e especulações, nada aconteceria, exceto uma normal chuva de meteoritos …

Porém, como é óbvio, o Halley passaria também por Guimarães, e teve eco na imprensa local, concretamente no periódico “Independente”, datado de 14 de Maio de 1910, que assim se pronuncia:

“A convite dos senhores Augusto Cunha e Cª., desta cidade, assistimos na quarta-feira de madrugada, na montanha da Penha, a diversas observações com lunetas astronómicas, que se acham em exposição na Casa Comércio e Indústria, á Rua de Santo António, e que aqueles acreditados negociantes adquiriram diretamente no estrangeiro.
O cometa Halley com todo o seu brilho viu-se, com a cauda voltada para cima, a nascer com o auxílio daquele poderoso instrumento, às 2 horas e 40 minutos da manhã, isto é, 2 horas e 13 minutos antes do nascer do Sol (…)
Vimo-lo nascer acima do horizonte, à esquerda de Vénus, um pouco a sul do posto onde nasce o sol, logo depois e perto da última estrela do grande quadrilátero de Pégaso, prosseguindo o seu movimento aparente do céu de Oriente para Ocidente.
Na noite de 18 para 19 de Maio do corrente, como já disse no Independente, o núcleo do cometa atravessa o disco solar de Ocidente para Oriente” (…)

No entanto, na citada noite de 18 para 19 de Maio, as coisas não correriam tão bem como era de esperar, como novamente o descreve o jornal vimaranense “Independente” de 21 de Maio:

 “Como o “Independente” já noticiou desde Janeiro passado que o cometa Halley, com o auxílio de um pequeno telescópio principiou a descortinar-se na região do zodíaco onde então brilhavam Marte e Saturno, prosseguindo então o seu movimento aparente na abóbada celeste de Oriente para Ocidente, ao encontro do Sol (…)
Assim foi prosseguindo o seu movimento para Ocidente, afastando-se na aparência do Sol, caminhando mais tarde para Oriente, ao encontro do astro do dia, até que na noite de 18 para 19 do corrente teve lugar a sua conjunção inferior, isto é, encontrou-se na mesma direção que o Sol em relação à terra, mas para cá do Sol.
Não há dúvida que nessa noite, pelas 2 horas da manhã, o núcleo do cometa, ou melhor a sua projeção, atravessou o disco solar de Ocidente para Oriente, mas ninguém em Guimarães deu pelo fenómeno, o que não admira, pois que ele só podia ser observado pelos habitantes das regiões opostas do globo.
 Mas se de antemão já sabíamos que não nos era dado ver a passagem do núcleo sobre a Terra, contávamos ver a cauda luminosa do cometa a atravessar a Terra. Para esse fim subimos a um dos pontos mais altos da cidade para melhor observarmos o fenómeno e lá permanecemos desde as 2 horas até depois das 3 horas da madrugada.
Durante todo esse tempo a atmosfera esteve sempre empanada e sombria, de forma que não foi possível descortinar o feixe luminoso que caminhava de Oriente para Ocidente, que devia ter envolvido a terra àquela hora” (..)

A última aparição do Halley verificar-se-ia em 1986, e se tudo correr bem, como é habitual, regressará supostamente em 2061.
Todavia, em 1986, graças à sonda Giotto, enviada para o espaço pela Agência Espacial Europeia, foi já possível conhecer melhor o cometa. Ficou assim a saber-se que este se estende pelo espaço através de milhões de quilómetros e que o seu núcleo possui cerca de 15 quilómetros de comprimento e uma largura e altura de cerca de 8 quilómetros, em cuja superfície há crateras vazias ou com gelo.
Quanto à sua formação é constituído por vapor, com cerca de 80% de água, 17% de monóxido de carbono e o restante por dióxido de carbono, com vestígios de hidrocarbonetos

Provavelmente em 2061, para aqueles que o puderem ver, já o veremos com outros olhos (ou telescópios) e plausivelmente com mais avançados instrumentos tecnológicos …

Álvaro Nunes


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