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DIA INTERNACIONAL DA FAMÍLIA
Por Conceição Páscoa (Professora), em 2020/05/13487 leram | 0 comentários | 113 gostam
Agora que as saudades já apertam pela separação forçada de algumas famílias, talvez seja um bom momento para refletir sobre o valor e a importância da família e as suas problemáticas.
De facto, considerada como uma “estrutura básica social” da sociedade, nascida do desenvolvimento da vida humana, ora por instinto de perpetração da espécie, ora por repúdio à solidão, a família encontra-se intrinsecamente ligada à história da civilização como um fenómeno natural, e necessidade do ser humano em estabelecer relações afetivas de forma estável.
Porém, o tema família abarca uma série de significações. Com efeito, se consultares o dicionário, a família é definida não só como “um conjunto de pessoas ligadas por laços de consanguinidade, que vivem na mesma casa, especialmente o casal e os filhos”, mas também de forma mais alargada, como, “um conjunto de todas as pessoas aparentadas ou não, incluindo mãe, pai, filhos, empregados”. No entanto, a família. é também o “conjunto de gerações sucessivas, que descendem dos mesmos antepassados”, ou ainda um “conjunto de pessoas com interesses comuns,“ quer profissionais ou religiosos quer associativos.
No fundo, um conceito vasto, que semanticamente se pode ainda estender a outras realidades. Daí que, na Física, se fale em famílias radioativas, família de palavras, ou em família de línguas, no mundo da linguística.

Ademais, acrescente-se, o conceito de família tem-se alterado historicamente ao longo dos tempos. De facto, embora ainda intimamente ligado aos princípios bíblicos e ao catolicismo, para quem a família é um ministério, isto é, uma tarefa, ou serviço, estabelecido disciplinarmente no casamento, enquanto sacramento, o conceito de família tem-se transformado (lentamente) nos tempos mais recentes, realçando-se essencialmente o seu âmbito enquanto união sustentada em laços de afetividade.
Deste modo, perante a diluição da influência da Igreja no Estado, a família começa cada vez mais a perspetivar-se numa focalização mais social, que não só abrange o agregado familiar decorrente do casamento, como também outras uniões estáveis, quer monoparentais, quer até homoparentais, que privilegiam como critério fundamental da sua conceção a dimensão socio afetiva.

No entanto, o dia 15 de Maio, que a ONU proclamou na sua Assembleia Geral, em 1993 como o Dia Internacional da Família, pretende-se acima de tudo realçar a sua importância e reforçar a mensagem de união e amor, respeito e compreensão por este núcleo vital da sociedade; e, simultaneamente, promover o conhecimento das questões sociais, económicas e demográficas, que afetam a família nos tempos de hoje.

Ora, a Constituição da República Portuguesa, baliza e preconiza claramente, no seu capítulo dedicado aos direitos e deveres sociais, no seu artigo 67º., os aspetos fundamentais sobre a família:

“1. A família como elemento fundamental da sociedade, tem direito à proteção da sociedade e do Estado e à efetivação de todas as condições que permitam a realização pessoal dos seus membros.
2. Incumbe, designadamente, ao Estado para proteção da família:
a) promover a independência social e económica dos agregados familiares;
b) promover a criação e garantir o acesso a uma rede nacional de creches e de outros equipamentos sociais de apoio à família, bem como uma política de terceira idade;
c) cooperar com os pais na educação dos filhos:
d) garantir, no respeito da liberdade individual, o direito ao planeamento familiar, promovendo a informação e o acesso aos métodos e aos meios que o assegurem e organizar as estruturas jurídicas e técnicas que permitam o exercício de uma maternidade e paternidade conscientes;
e) regulamentar a procriação assistida, em termos que salvaguardem a dignidade da pessoa humana;
f)regular os impostos e os benefícios sociais, de harmonia com os encargos familiares;
g) definir, ouvidas as associações representativas das famílias, e executar uma política de família com carácter global e integrada.

Por isso, agora que as livrarias e as bibliotecas reabrem portas, o tema da família pode também sugerir algumas leituras reflexivas, quer pessoais quer confinadas à própria família.
 De facto, a família e os problemas familiares são um tema relevante da literatura infanto-juvenil portuguesa, em que há muito para ler, refletir e escolher!
Assim, paralelamente a autores como Odette de Saint-Maurice, cujas obras retratam ambientes exemplares, ou outras visões tradicionais como “Diário de Sofia” (Marta Gomes) ou “O Diário Confidencial de Mariana (Nuno Bernardo),existem atualmente outras opções e visões mais modernas sobre a temática e abordagens mais reais, centradas na desestruturação familiar e irresponsabilidade parental, ou até na violência doméstica, pois (infelizmente), quase sempre, a realidade ultrapassa a ficção.
São os casos de algumas obras de Alice Vieira como “Caderno de Agosto” em que protagonista vive com a mãe e o irmão, ou “Um fio nos confins do mar”, cuja personagem principal vive com a mãe solteira. Ou ainda “Meia hora para mudar a minha vida”, cuja família está para além dos laços de sangue.
Igualmente, Ana Saldanha com as suas obras “Doçura Amarga” ou “Uma questão de cor”, a que se ajuntam “Nem pato nem cisne”, cuja trama narrativa gira em torno de uma família recomposta, bem como “Escrito na Parede”, ou “Para maiores de dezasseis anos” e “O Romance de Rita R”
Problemáticas que se estendem também a situações de institucionalização de descendentes como “Tão cedo, Marta” ou “O pai no teto” de Maria Teresa Gonzalez, escritora que também escreve “Noites no sótão” ou “Profissão: Adolescente”.
Obras que também nos dão a conhecer famílias monoparentais frutos de separações e divórcios, ou de mães solteiras, como os “Heróis do 6º. F” de António Mota, ou os familiares mais idosos, como é o caso de “A Casa das Bengalas”.
Enorme é com efeito a galeria de representações literárias, que entre a ordem e o caos abordam a família.

Aqui ficam assim algumas sugestões mais jovens, às quais podes ajuntar mais tarde “Cem Anos de Solidão” de Gabriel Garcia Marques, “Os Maias de Eça de Queirós, “As Crónicas de Gelo e do Fogo” de George Martin ou “Mulherzinhas” de Louise May Alcott, entre muitos outros títulos e autores.

Álvaro Nunes

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