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GUIMARÃES CRIATIVO
Por Carla Manuela Mendes (Professora), em 2019/04/01294 leram | 0 comentários | 74 gostam
Dois vimaranenses e uma escola local foram distinguidos a nível nacional pelos seus trabalhos criativos.
O prémio do Melhor Livro de Poesia e a Melhor Coreografia, prémios atribuídos pela Sociedade Portuguesa de Autores, bem como o Prémio de Artes Visuais no âmbito do concurso da Fundação Calouste Gulbenkian.

Realmente, na recente Gala da Sociedade Portuguesa de Autores, a obra de Carlos Poças Falcão intitulada “Sombra Silêncio” seria premiada, no domínio da Literatura, como o Melhor Livro de Poesia, enquanto no âmbito da Dança, o coreógrafo Victor Hugo Pontes seria distinguido com o prémio da Melhor Coreografia.
Por sua vez, a Escola Secundária Francisco de Holanda arrebataria o prémio de Artes Visuais do concurso nacional promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian, subordinado ao tema “Quem é Calouste?”.

Mas, afinal, quem são os premiados?

Ora, CARLOS POÇAS FALCÃO, nascido em 1951, é um poeta vimaranense já conceituado. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, exerceu advocacia durante alguns anos, antes de se dedicar ao ensino, atividade docente que desempenha na Escola Secundária Francisco de Holanda.
Mas, Carlos Poças Falcão é já, a nível nacional, um poeta consagrado. De facto, “ Número Perfeito”, o seu primeiro livro, datado de 1987 seria distinguido com o Prémio Revelação do Poesia pela Associação Portuguesa de Escritores e a sua antologia “Arte Nenhuma” seria uma das obras referenciada s no Balanço do Ano dos Livros de Poesia 2012 do semanário Expresso. Todavia, a sua ação estende-se ainda à colaboração em várias revistas e jornais, tendo sido diretor do semanário vimaranense “Povo de Guimarães”, e ainda à atividade editorial, tendo fundado, com a colaboração de amigos, a editora Pedra Formosa, entre os anos 90 e 2003.Atualmentepublica os seus trabalhos na editora vimaranense Opera Omnia, que editou a obra premiada.
No entanto, e para além da poesia, Carlos Poças Falcão publicou também, em 2017, “O Senhor da Casa do Alto”, narrativa infanto-juvenil acerca de Raul Brandão, editada aquando dos 150 anos de nascimento do escritor. Um livro cheio de ternura (mas também de poesia) que nos remete para os anos 20 do século passado, narrando as brincadeiras da altura e a educação familiar e escolar da época, em Portugal e Nespereira.
Igualmente, Carlos Poças Falcão está presente em Guimarães no Largo “O Cidade”( nome do industrial de curtumes que aí viveu no edifício atualmente ocupado pela Pousada da Juventude) . Aí, no balcão sobranceiro ao Rio de Couros, consta gravado um poema da sua autoria, em homenagem aos homens dos curtumes vimaranenses.

Quanto a “Sombra Silêncio”, o trabalho premiado, trata-se de “uma coletânea que reúne poemas muitos esparsos no tempo, espírito e estilo” que, tal como outras obras do autor, refletem sobre a condição humana, que anseia vivida em plenitude comprometida, e se afirma com uma voz introspetiva sobre o transcendente, na demanda da ascendência. Poemas que abordam sobretudo a temática da inquirição metafísica e o amor.
O poema “Dísticos do amador à sua amada” expressa em pares essa perspetiva amorosa:


“a minha amada, a que hei- e compará-la?
a uma semente trazida pelo vento?

ela encontrou raiz na minha sombra
e agora é alfazema que perfuma toda a casa

a que hei de compará-la? A uma luz fora da estrada?
a minha amada guia-me e o caminho é novidade

o seu olhar escuta-me o não dito e as palavras
na sua boca beija-me o desejo e a verdade
d
(…)

a que hei de comparar a nossa fragilidade?
a um riso, a uma tarde, a uma taça, a uma festa?

a minha amada sabe, a minha amada espera
a minha amada sonha, paciente, e tudo vence”.

Por seu turno, o poema “Manifesto Mínimo” lança-nos esse desafio de compromisso, nem sempre assumido:

“Neste humanismo abafa-se – e não sem um tremor
armamo-nos dos verbos de um programa insubmisso:
calar e apagar, desconectar, desaparecer.
Manda a democracia que falemos? Nós calamos,
Exige o espetáculo mais brilho? Apagamo-nos.
Devemos estar em rede e ao serviço? Desligamo-nos.
A Coisa Absurda chama-nos? Ah, não comparecemos!”.

Por sua vez, VICTOR HUGO PONTES, nasceu em Guimarães em 1978 e licenciou-se em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes do Porto. Porém, em 2001 frequentaria o Norwich School of Art & Design, em Inglaterra e concluiria também o cursos de Teatro de Balleteatro na Escola Profissional e Teatro Universitário do Porto e, posteriormente, o curso de Pesquisa e Criação do Fórum Dança
Todavia, a sua atividade como criador inicia-se apenas em 2003 com o trabalho “Puzzle”. A partir daí vem consolidando a sua marca por todo o país e por vários países europeus e Brasil, assumindo em 2009 as funções de diretor artístico da Associação Cultural Nome Próprio.
Contudo, seria no GUIdance – Festival de Dança Contemporânea, realizado anualmente no Centro Cultural Vila Flor (CCVF), que a carreira do coreógrafo vimaranense explodiria, em especial a partir da estreia de “A Ballet Story”, em 2012. De facto, após a sua apresentação no CCVF, meses antes, de “Fuga sem fim”, Victor Hugo Pontes torna-se um fenómeno imparável da coreografia contemporânea e assídua presença entre nós, como seria notório na última edição do festival de dança vimaranense, na qual seria figura de destaque, com a exibição do trabalho “Drama”, em estreia absoluta e a reposição de “Fuga sem fim”.

No que concerne ao trabalho “Margem”, agora premiado como a Melhor Coreografia, o criador vimaranense inspira-se no romance “Capitães de Areia” de Jorge Amado, que retrata um grupo de crianças e adolescentes abandonados que vivem nas ruas de São Salvador da Baía, roubando para comer e dormindo num trapiche – armazém onde, como uma espécie de família, se protegem uns aos outros e sobrevivem.

Relativamente ao prémio conquistado pela ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO DE HOLANDA, o mérito foi por inteiro para o grupo de alunos do 11º. e 12º. anos, orientados pela professora Alexandra Jordão Pires, que venceram o concurso de Artes Visuais, sobre a figura de Calouste Gulbenkian, no âmbito das comemorações dos150 anos do seu nascimento.

Deste modo, em Guimarães, prossegue a mais imparável das forças: a criação (artística) …

Texto
de
Álvaro Nunes

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