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CURIOSIDADES DE GUIMARÃES
Por António Lourenço (Professor), em 2018/02/26404 leram | 0 comentários | 65 gostam
Como sabes, Guimarães tem séculos de História e milhares de estórias para contar. Por certo, conheces algumas. Porém, nesta primeira abordagem vamos apenas tratar algumas delas.
Por exemplo, sabes quando se inaugurou a luz pública na cidade? Sabes quando cá chegou o comboio? Sabes quando começou o cinema? Conheces o que sucedeu no chamado ano de ouro de 1884?
Bem, de facto 1884 foi o ano que mudou Guimarães. Com efeito, nesse ano de viragem, abriram-se as portas para a modernidade, graças à perseverança e luta de ilustres figuras vimaranenses como Alberto Sampaio e toda uma geração de homens de pensamento e ação como Martins Sarmento, os padres António Caldas e o Abade de Tagilde, o Conde de Margaride e Joaquim José de Meira, entre muitos outros.
Realmente, no ano de 1884, três acontecimentos relevantes ocorreriam na cidade: a realização da I Exposição Industrial de Guimarães; a chegada do comboio; e a criação da Escola Industrial Francisco de Holanda.
Com efeito, inaugurada pelas 11 horas da manhã do dia 15 de junho de 1884, a Exposição Industrial de Guimarães, ocorrida no Palácio de Vila Flor, seria na época um dos eventos mais marcantes do burgo vimaranense, após a sua elevação à categoria de cidade, através do decreto de 23 de junho de 1853, no reinado de D. Maria II.
De facto, através desta exposição, Guimarães afirmaria a sua pujança económica e daria resposta à preterição que o poder central a devotara.
Por sua vez, o comboio chegaria a Guimarães, à estação de Vila Flor em 14 de abril. Uma viagem entre a Trofa e Guimarães, com mais de um milhar de convidados e 22 carruagens rebocadas pelas máquinas Vizela e Negrelos, que acompanhadas pela Banda Filarmónica de Vizela, seriam efusivamente recebidos por mais de doze mil pessoas com foguetes, vivas e saudações. Festa que se prolongaria pela noite fora com iluminações, música e fogo de artifício.
A Escola Industrial criada pelo decreto de 3 de dezembro tinha por fim ministrar o ensino apropriado às indústrias predominantes do concelho, através de aulas eminentemente práticas. Deste modo, seu currículo teria por base as disciplinas de aritmética, geometria elementar e contabilidade industrial, a que se juntariam a química e o desenho industrial.
Efetivamente, uma escola direcionada para o saber-fazer, a que não será alheio o nome do seu patrono, Francisco de Holanda (1517-1585), grande figura de artística do Renascimento português.
No entanto, nesse mesmo ano, também se dão por findas as obras da Igreja de S. Pedro, no Toural, que há vários anos se arrastavam e avançam alguns monumentos ansiados pelos vimaranenses. De facto, o monumento a Pio IX seria transportado para a Penha, em 1893, à força de 35 juntas de bois; e a escultura a D. Afonso Henriques inaugurada em 1887 pelo rei D. Luís e instalada no terreiro de S. Francisco.
Mas, no final do século XIX, em 1897, o cinema também chegaria a Guimarães. Eram curtas sessões de cerca de dois minutos, exibidas num barracão do Teatro Guiñol, no Campo da Feira, que praticamente se confinavam a acrescentar movimento a fotografias. Depois, já no início do século XX, estas sessões itinerantes passariam a ser exibidas na Associação Artística Vimaranense, na Rua Gil Vicente e no Teatro D. Afonso Henriques, na altura situado no atual Largo da República do Brasil. Aqui, nesta sala de espetáculos, em 1909, as sessões passariam a ter exibições permanentes e a conquistar a adesão dos vimaranenses, que em 1907 acabariam por incluir projeções cinematográficas na programação das Festas Gualterianas. Aliás as primeiras imagens da cinematografia de Guimarães, datadas de 1912, seriam precisamente das Festas Gualterianas e da Romaria de S. Torcato.
Contudo, ao longo dos anos, registar-se-iam ainda sessões de cinema ao ar livre no cinematógrafo da Praça de Touros da Quintã e nas paradas dos bombeiros, enquanto paralelamente, em especial no inverno, prosseguiam as exibições no Teatro D. Afonso Henriques, até próximo da sua demolição, em 1933.
Todavia, o cinema em Guimarães acabaria por regressar em força apenas em 1938, com a abertura do Teatro Jordão e anos mais tarde, com a fundação do Cineclube de Guimarães, em 1958, sob a direção de J. Santos Simões.
Em súmula, vivia-se uma onda finissecular de progresso que levaria à criação em Guimarães da primeira fábrica nacional de teares Jacquart, à Fábrica do Castanheiro, de António da Costa Guimarães, em Urgezes e posteriormente à Companhia de Fiação e Tecidos de Guimarães (1890) e à Fábrica a Vapor de Tecidos de Guimarães (1897), entre outras.
Mas, o início do século XX, o período da década final da monarquia e dos anos iniciais implantação da República (1910) seriam também uma fase de progresso e de boa memória.
De facto, em outubro de 1903 chega a Guimarães o primeiro automóvel (um Darracq de 10 a 12 cavalos) dos irmãos Simão e Álvaro Costa, conhecido por ”aranha”; e, no ano seguinte. o automóvel do industrial Bernardino Jordão (1868-1940), empresário fafense que ficaria ligado à cidade pelos seus negócios na área da luz pública e posteriormente, pela abertura do Teatro Jordão.
Ademais, em 1903, no mês de agosto, seria inaugurada a luz elétrica na cidade, enquanto o prestigiado médico vimaranense Joaquim José Meira daria também a sua ajuda na técnica a dar à luz, na circunstância ao realizar a primeira cesariana vimaranense, no Hospital da Misericórdia de Guimarães.
Mas também no início do século XX, em 1906, iniciar-se-iam as Festas Gualterianas em honra de S. Gualter, um simples frade franciscano, enviado por S. Francisco de Assis no século XIII, que entre nós se instalou e popularizou graças aos seus milagres. Porém, umas festas cujas raízes profundas remontam ao ano de 1542 e ao reinado de D. Afonso V, monarca que na altura autorizou a criação desta feira franca anual na cidade, entre 7 e 17 de agosto e cujo culto recua à formação da Irmandade de S. Gualter, em 1527.
Uma época cheia de curiosidades e progresso, com muitas histórias contadas e muitas outras para contar …

Texto escrito por
Álvaro Nunes

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