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VIAGENS NA MINHA TERRA
Por António Lourenço (Professor), em 2018/02/19408 leram | 0 comentários | 86 gostam
2018 é o Ano Europeu do Património Cultural. Justifica-se por isso, neste ano, apresentar alguns dos monumentos, sítios e acontecimentos marcantes da vida coletiva da nossa cidade. O Toural é um desses locais emblemáticos do burgo vimaranense.
Bem, as referências ao Toural remontam a 1498, embora se creia que esta denominação tenha surgido no século XVI, como identificação do terreiro sito na parte exterior da antiga muralha de Guimarães.
Ora, neste terreiro era costumeiro, em tempos idos, realizarem-se feiras de gado bovino e de outros produtos, e até touradas!

Porém, o Toural foi ao longo do tempo apresentando várias configurações, em especial após a demolição das muralhas em 1793, que daria lugar à atual fachada pombalina no lado nascente; mas também, posteriormente, no lado poente, com a construção da Igreja de S. Pedro, no espaço contíguo ao palacete dos fidalgos do Toural; e ainda em toda a parte norte, reconstruída após o terrível incêndio ocorrido na madrugada de 4 de junho de 1869.

Todavia, ontem como hoje e decididamente após a retirada das feiras, o Toural assumir-se-ia como o centro cívico de excelência da cidade. Com efeito, aí se situaram cerca de 12 estalagens na segunda metade do século XVII e aqui se localizaria o famoso botequim do Vago Mestre, tasca fina dos intelectuais locais, frequentada entre outros ilustres por Camilo Castelo Branco, aquando da sua residência poe estas bandas.
Mas também no Toural terá existido uma forca, que felizmente nunca funcionou.

Mas, de facto, o Toural teve já várias caras ao longo dos tempos. Já foi, durante a segunda metade do século XIX, um espaço verde cercado de grades, com portões de ferro, que eram fechados à noite, no qual não era permitido circularem pessoas descalças nem homens sem gravata! Já lá teve um lago com peixinhos vermelhos! Já lá teve um coreto e claro, várias esculturas decorativas.
Ora, entre esses monumentos decorativos o chafariz executado em 1583, segundo risco do mestre de pedraria vimaranense Gonçalo Lopes, terá provavelmente sido um dos mais antigos.
Exatamente, esse mesmo chafariz que (ainda) hoje está no Toural! Exatamente esse mesmo chafariz à volta do qual, anualmente, se elege a Comissão de Festas das Nicolinas.
No entanto, em 1873 este chafariz seria retirado do Toural e transferido para o Jardim do Carmo, local onde esteve até 2012, o ano da Capital Europeia da Cultura.
 
De facto, as várias fisionomias do Toural estão, nestes tempos mais recentes, profundamente ligadas a acontecimentos marcantes da cidade.
Por exemplo, a estátua em bronze de D. Afonso Henriques, do escultor Soares dos Reis, inaugurada pelo rei D. Luís em 1887, foi implantada no Toural em 1911, após transferência do terreiro de S. Francisco, aquando das comemorações dos 800 anos do nascimento do rei fundador. E aí ficou até 1940, altura em que seria instalada no atual espaço, na Colina Sagrada, junto ao Castelo de Guimarães.
Mas mudam-se os tempos e mudam-se as vontades, como canta Camões. Por isso, em 1953, data da comemoração do Milénio de Guimarães e Centenário da Elevação a Cidade, o Toural receberia uma nova peça do escultor vimaranense Sequeira Braga. Uma peça escultórica simbolizando a Vitória, conhecida por Fonte do Milénio, que lá esteve até 2012 e que atualmente se encontra na Alameda Doutor Alfredo Pimenta, defronte à Escola Secundária Francisco de Holanda.
Todavia, seria também nesse ano de 1953 que seria inaugurado o Café Milenário no Toural , assim chamado pelos festejos do Milénio de Guimarães; e, infelizmente, 15 anos depois (1968) um outro café seria destruído, para nele se instalar um banco: o belíssimo Café Oriental, inaugurado em 1925, cujas decorações egípcias deslumbravam os visitantes.
Um crime de lesa património ocorrido há cerca de 50 anos atrás e que certamente nos envergonha neste Ano Europeu do Património da Cultura.

Porém, Toural está cheio de muitas (outras) histórias.

Há petróleo no Toural é uma delas!
Tudo aconteceu de facto em 13 de agosto de 1924, quando durante as obras de rebaixamento de um prédio foi encontrado “um líquido que pela sua cor e cheiro nos faz supor tratar-se duma nascente ou veia de petróleo” – escrevia o Comércio de Guimarães.
O que é certo é que foram retiradas amostras, as obras do Banco do Minho seriam suspensas e pedida autorização para pesquisas. Mas, até hoje, nem um fiozinho do “precioso” …

Outras histórias dizem respeito à Igreja de S. Pedro.
A primeira curiosidade tem a ver com o facto desta igreja ter apenas uma torre sineira, quando supostamente deveria ter outra simétrica, que projetada nunca seria construída.
Depois, conta-se também que em 1809, durante a 2ª. invasão francesa, as tropas comandadas pelo general Soult terão profanado e usado a igreja como cavalariça.
E relata-se ainda que a igreja foi, em 1 de dezembro de 1942, local de uma tragédia que provocaria dezenas de feridos e 10 mortos. Tudo terá acontecido durante a missa das almas, manhã cedo, quando o soalho cedeu devido ao excesso de peso das pessoas, que ocorreram ao local em busca da esmola de pão, nesses tempos de fome da II Guerra Mundial.

No entanto, o Toural, além de sala de visitas da cidade, tem sido um lugar de festa.
Efetivamente, aqui se efetuaram grandes festas no decurso da Capital Europeia da Cultura; aqui aconteceram os números fundamentais das Nicolinas como as Maçãzinhas e o Pinheiro. (Conta-se até que, em 1842, o Pinheiro implantado no Toural terá indesejavelmente caído e vitimado um rapaz de 10 anos).
Mas, acima de tudo, o Toural tem sido um lugar de alegria. Aqui, na Chapelaria Macedo, terá sido discutida a fundação do Vitória, que aqui teve a sua primeira sede. Aqui se comemoraram os títulos de futebol distrital em 1934 e 1936/1938. Aqui se festejou a subida ao escalão máximo do futebol nacional em 1942 e a subida ao campeonato nacional da 1ª.divisão em 1952. Aqui se gritou e saltou, em maio de 2013, pela conquista da Taça de Portugal.
E aqui nasceu o eclético cientista vimaranense Abel Salazar (1889-1946).

Texto escrito por
Álvaro Nunes


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