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25 DE ABRIL EM GUIMARÃES
Por António Loureiro (Professor), em 2017/04/19823 leram | 0 comentários | 166 gostam
Memória e Liberdade serão os “leimotivs” (motivos condutores) das comemorações do 25 de Abril de 2017, que neste 43º. aniversário concilia música com discurso político, memórias geracionais nacionais e locais, percursos individuais e coletivos.
O espetáculo “Sons de Abril” , no grande auditório do Centro Cultural Vila Flor, na véspera do 25 de Abril (22 horas) abre o programa comemorativo da “Revolução dos Cravos” deste ano, num evento que contará com a participação da prata da casa: a Banda da Sociedade Musical de Pevidém, os grupos corais de Ponte e de Pevidém, os orfeões de Guimarães e CCD Coelima, o Grupo de Azurém e Outra Voz e ainda o Cineclube de Guimarães.

Entretanto e na mesma data e hora, a Casa da Memória leva a cabo a conversa “Onde estavas no 25 de Abril de 1974?” , iniciativa centrada na célebre pergunta caricatural de Herman José dirigida a Batista Bastos, nos tempos que ainda se gravam em memória. Contudo, do humor à memória, arriscaríamos a afirmar que pergunta ficará sem a devida resposta por muita gente, particularmente por todos aqueles que optarem pelo concomitante espetáculo musical “Sons de Abril”, porquanto não possuem os dons da ubiquidade e da omnipresença.

Deste modo e como não sei onde estarei em 25 de abril de 2017, desde já deixo registo da minha resposta: estava no sul da Guiné-Bissau, na fatídica floresta do Cantanhez, junto ao rio Cumbijã, ao serviço da Batalhão de Caçadores 4514(sabiam que havia uma guerra colonial?). E, dias depois, graças ao 25 de Abril, na capital guineense, inseridos no dispositivo de segurança da cidade, sujeita a alguns motins e desacatos. Segurança que passou pelos correios, instalações da PIDE com ar condicionado (sabiam que havia uma polícia política, com direito a ar condicionado?), rondas noturnas em ruas de frequência pouco abonatória e a estação de rádio das Forças Armadas, uma das minhas melhores noites africanas, em que tive o ensejo de debitar toda a música de intervenção disponível e saborear sinestesicamente os doces sons da liberdade (sabiam que havia censura?).

Quanto às cerimónias comemorativas do 25 de Abril está prevista a inauguração de uma estátua de tributo à República de autoria de Adália Alberto, a implantar no Largo das Hortas, que entretanto passará a denominar-se Largo da República Portuguesa, busto este que foi oferecido pela Associação Artística Vimaranense (ASMAV).
Ademais, decorrerá uma Sessão Solene da Assembleia Municipal, a ter lugar na Black Box da Plataforma de Artes e Criatividade (11 horas), enquanto à mesma hora, no coreto do Jardim da Alameda, atuará a Banda Musical das Caldas das Taipas.
Antes porém, a Associação Mercado Azul apresenta no Largo da Oliveira, pelas 10 horas, a atividade “Fazer Crescer Abril”, ocorrência que terá repetição no decurso da tarde, às 15 horas, no Jardim da Alameda.
De novo, a música volta de tarde, às 15,30 horas, no coreto do Jardim da Alameda, desta feita com o grupo tradicional Creiximir e prolonga-se tarde fora com a iniciativa “Espalha Memórias”, que terá início no Largo do Toural, pelas 16 horas. Nesta iniciativa os participantes serão convidados a conhecer diferentes percursos, com histórias, tradições, novidades e gente de cá e lá, cujas recordações marcarão a memória de todos e que terá o seu término na Casa da Memória para uma conversa junto a um objeto, numa celebração coletiva e simultânea do primeiro aniversário da instituição anfitriã e da liberdade.
As honras do dia da memória e liberdade ficam ainda a cargo da Casa da Memória com um conjunto de visitas e oficinas genericamente denominadas Visitar/Experimentar, que funcionarão entre as 10 e as 13 horas e as 15,30 e as 18,30 horas. Assim, de manhã, há uma cidade de pernas para o ar para fazer, doces e biscoitos para preparar e memórias para descobrir, enquanto de tarde contam-se contos e acrescentam-se pontos, mexe-se o corpo e inventam-se instrumentos. Ainda e ao longo de todo o dia, borda-se como em Guimarães se faz, usa-se uma roda de oleiro para sentir o barro e visitam-se as exposições permanentes e temporária.
À noite, a fechar a programação comemorativa da Revolução de Abril, decorre no pequeno auditório do Centro Cultural Vila Flor (21,30 horas) o espetáculo “PREC no Prato”, a cargo da associação cultural Astronauta.
Recorde-se e acrescente-se, a propósito, que o primeiro aniversário da Casa da Memória, a decorrer (quase) em simultâneo com as comemorações do 25 de Abril, inicia-se a 22 de abril (sábado) com a inauguração do Repositório (16,30 horas), um espaço de construção, reflexão e investigação de acervos digitais, a que se seguirá, pelas 17 horas, um ciclo de conversas sob a denominação Memórias da Memória, que contará com especialistas da matéria – do arquivo à psicanálise e da história à ficção – que entre outros participantes terá a presença de Maria Matos Graça, numa abordagem do tema “Memória, Experiência Consciente”.
 Por sua vez, “Domingos em Casa” , a 23 de abril (domingo), no Largo do Toural, pelas 11 horas, dará lugar às Memórias do Chão, uma oficina de corpo, espaço e movimento, sob a orientação de Vera Santos, enquanto à tarde (17 horas) ocorrerá a inauguração da exposição “Memento (lembra-te)”, em torno do descanso convencional aos domingos, promovido pela Associação de Classe dos Empregados do Comércio de Guimarães, entre 1901 e 1931. Uma exposição que também constituirá móbil e pretexto para um jantar temático com esta e outras histórias de (re)encontro.

No fundo, memórias várias e vivas, ora mais antigas e impressivas ora mais recentes e locais, que se entrecruzam, fazendo crescer a luta contínua pela liberdade

Texto escrito por,
Álvaro Nunes


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