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A PROPÓSITO DO DIA MUNDIAL DO TEATRO
Por António Loureiro (Professor), em 2017/03/27760 leram | 0 comentários | 141 gostam
27 de março de 1961 marca a data de institucionalização do Dia Mundial do Teatro pelo Instituto Internacional de Teatro, no decurso do seu 9º. Congresso, em Viena.
De facto, coincidindo com o aniversário de Atenas, na pátria e berço do teatro ocidental, esta efeméride instituída aquando da inauguração do Teatro das Nações, em Paris, tem ao longo destas últimas décadas contribuído indelevelmente para recordar o papel importante desta arte milenar e forma de expressão como fonte de divertimento, informação, inspiração e educação humana.

Porém, como afirma Augusto Boal “o teatro não pode ser apenas evento – é forma de vida!”
Assim, da tragédia à tragicomédia, melodrama à revista, comédia ou drama, farsa ao teatro infantil, o teatro assume-se nos seus diversos (sub)géneros como o palco da vida, na qual atores somos todos nós, ainda que nem sempre usemos a máscara transformadora.

Efetivamente, remontando aos tempos primitivos, a representação (teatral) sempre participou da existência humana como necessidade de comunicação e/ou homenagem aos deuses, ora retratando o sofrimento humano, a luta contra a fatalidade e as causas nobres ora satirizando os excessos, a falsidade e a mesquinharia.
Com efeito, desde o ditirambo de homenagem ao deus Dionísio (deus do vinho) à catarse das tragédias dos gregos Sófocles, Ésquilo e Eurípedes e do romano Séneca, até às comédias do grego Aristófanes e dos romanos Plauto e Terêncio, que fazer rir e/ou chorar é uma das prerrogativas desta arte secular, que para além da máxima vicentina “ridendo castigat mores”, visa refletir e reagir sobre a vida e a sociedade.

Deste modo, desde os mestres mais antigos como Shakespeare ou Moliére, até ao mais atuais como Pirandello, Sartre, Camus ou Arthur Miller e ainda autores como Ibsen, Strindberg, Pinter e Beckett, ou os russos Gorki e Tchekhóv, entre muitos outros, o teatro sempre tem feito jus à asserção de William Hazlitt de que “o homem é um animal que finge – e nunca é tão autêntico como quando interpreta um papel”.

Em Portugal, o nosso conterrâneo Gil Vicente, cuja peça teatral “O Auto da Visitação” ou “Monólogo do Vaqueiro” (1503) tem sido assumida como o primeiro texto dramático nacional, é considerado consensualmente o pai do teatro português.
Assim, além de berço da nação, Guimarães está intrinsecamente ligado ao teatro português, recordado no “Monumento aos 500 anos do Teatro Português e a Gil Vicente” , numa homenagem promovida pela Sociedade Martins Sarmento e Santos Simões, em 8 de Junho de 2003, aquando das comemorações do 5º. centenário da primeira peça vicentina.
Trata-se de uma escultura da autoria de Irene Vilar, erigida no espaço ajardinado da Alameda de S. Dâmaso, em cujas prateleiras sete máscaras evocam a representação dramática e o seu primeiro dramaturgo. Mestre que curiosamente comemora também este ano o cinquentenário da sua peça “Auto da Barca do Inferno” (1517).

De facto, passaram mais de 500 anos de teatro português e obviamente muitas peças e autores: António Ferreira, Camões, Almeida Garrett , Bernardo Santareno, Luís de Sttau Monteiro, entre muitos. E, claro o nosso vimaranense adotado, Raul Brandão, ao qual se ajuntam outros autores como João Guimarães, o Conde de Arnoso e o Padre Gaspar Roriz, entre outros.

Realmente, nesta história de séculos, Guimarães manteve-se (quase) sempre em palco ou nos bastidores, conservando viva a tradição teatral.
De facto, assim foi no decurso da Capital Europeia da Cultura (2012), tem sido nas sucessivas edições dos Festivais Gil Vicente e Mostra de Teatro de Amadores, bem como na programação do Centro Cultural Vila Flor, inaugurado em 2005. Mas acima de tudo na fundação do Teatro Oficina, que desde 1994 se tem afirmado como o centro de criação teatral contemporâneo, bem como por parte dos grupos de teatro amador concelhios em prol da arte de Talma.
Anualmente salientamos ainda o espetáculo revisteiro das Danças Nicolinas e esporadicamente iniciativas como o Teatro Bus, projeto de um palco ambulante sobre rodas que levou de autocarro a sensibilização ambiental às escolas concelhias, sob a coordenação teatral da Oficina. E obviamente, neste ano de 2017, a organização do Festival Húmus, que a propósito dos 150 anos do nascimento de Raul Brandão levou a cena praticamente todas as peças deste escritor e dramaturgo.

Raul Brandão é também uma referência importante na criação do Teatro de Ensaio Raul Brandão (TERB), secção de teatro do Círculo de Arte e Recreio (CAR), que Santos Simões dirigiu entre a data da sua fundação em 1959 até 1995 e que posteriormente seria orientado por Fernando Capela Miguel até 2001, mantendo-se até hoje.

Por outro lado, a recente criação do curso de Licenciatura em Teatro na Universidade do Minho, no Campus de Azurém, constitui outra mais-valia para a afirmação cultural e teatral de Guimarães.
Mas Guimarães nunca descurou o teatro. Com efeito, data do século XVII uma das suas primeiras salas de espetáculos, o Teatro dos Cómicos Ambulantes, a que se seguiram vários outros que não resistiram aos tempos: Vila Pouca (desaparecido em incêndio suspeito), S. Francisco, D. Afonso Henriques e o Gil Vicente, todos eles no século XIX, bem como o emblemático Teatro Jordão, inaugurado em 1938 com um “Serão Vicentino”.
Com efeito, inicialmente denominado Teatro Martins Sarmento por imposição da Inspeção de Espetáculos, sob o argumento que apenas aceitaria patronos de relevo nacional, o Teatro Jordão, encerrado em1993 e posteriormente adquirido pela Câmara Municipal em 2010, continua presente no imaginário vimaranense, a aguardar a ansiada recuperação e reabilitação.

Também em várias escolas/agrupamentos o teatro marca louvavelmente presença, como é o caso do Agrupamento Gil Vicente, fazendo jus ao seu patrono. Com efeito e após a ação meritória do Clube de Teatro no início da passada década, bem como nas experiências teatrais apresentadas no último sarau cultural e ações desenvolvidas pelas Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC), no âmbito da expressão dramática, esta arte cresce saudavelmente entre as novas gerações.
Porque, como diz Schopenhauer “não ir ao teatro é como fazer a toilette sem espelho”. E, como diria Boal, o teatro “é uma forma de vida”…
Por isso, VIVA O TEATRO, SEMPRE!

Texto escrito por,
Álvaro Nunes


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