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FIGURAS NICOLINAS (III)
Por António Loureiro (Professor), em 2016/10/281145 leram | 0 comentários | 138 gostam
O Engenheiro Hélder Rocha, Nicolino-Mor, encerra o ciclo das figuras selecionadas como personalidades marcantes das Festas Nicolinas.
Hélder Raul de Lemos Rocha (1916-2005), nasceu em Guimarães, na Rua Paio Galvão, em 15 de Novembro de 1916. Licenciado em engenharia civil durante os anos 40, regressaria ao burgo vimaranense após sua licenciatura, vindo a exercer a sua vida profissional como engenheiro consultor de várias empresas concelhias e da Câmara Municipal de Guimarães. É porém como cidadão ativo e comprometido, em especial nas suas facetas de NICOLINO, VITORIANO E VIMARANENSE, que Hélder Rocha (HR) se distingue e merece esta evocação, no centenário do seu nascimento.
Todavia, começaria atribulada a sua vida. De facto, com apenas 11 anos, uma grave doença impediu-o de prosseguir os estudos no Liceu de Guimarães, embora 6 anos depois venha a retomar o seu percurso estudantil, assumindo a liderança da Academia Vimaranense. Iniciar-se-ia assim o seu fervor Nicolino e o seu amor à causa, que viria a prolongar-se perenemente.
Por isso, no dia dos seus 80 anos, vários companheiros de caminhada prestar-lhe-iam merecido preito num jantar comemorativo, no Restaurante Jordão, que coincidiria com o lançamento do livro de sua autoria intitulado “Efemérides Vimaranenses”.
 Na essência desta homenagem, como se lê na convocatória alusiva” a defesa intransigente das tradições de Guimarães, onde as Gualterianas e as Nicolinas são passagem obrigatória; a dedicação, de décadas, ao desporto local e nacional; o carinho da escrita feita no jornalismo de opinião; o discurso incisivo na tribuna dos políticos; as histórias contadas, em tom de sátira”.
 
 É dessa confraternização de 1996, que destacamos algumas passagens do denominado “Pregão por Homenagem”, da autoria de A. Meireles Graça, “prestada ao cidadão Hélder Rocha, engenheiro de profissão e Nicolino por devoção”:

“E venho aqui trazer a Nicolino Velho
O abraço tranquilo de muitas gerações
Que iam às castanhas ali ao Rio Selho
E enchiam de Esperança os bolsos dos calções:
Ó Hélder atenção! Vou passar adiante
A muita malandragem de seu viver menino
E as nódoas de tintol na capa de estudante
Que o fizeram mor do Povo Nicolino!”
(…)

“Nos folguedos de então à Festa ele deu tudo
E nela mesmo foi brilhante Pregoeiro …
Mas sempre Nicolino (poupado no estudo)
Acabaria a ser do betão engenheiro!”
     
Efetivamente, enquanto jovem, HR viveu as festas em plenitude, tendo participado ativamente na sua direção, em particular como pregoeiro, na recitação dos Pregões de 1935 e 1936, ambos de autoria de Delfim Guimarães, que apregoaria com eterna e imortal paixão nicolina:
 
“Ah! Não! Não morrerão as Festas deslumbrantes
Da mocidade em flor enquanto houver estudantes
Que vivam da beleza! Enquanto houver Poetas
Que cantem, com ternura, as nossas Capas Pretas!
Não morrerão jamais as Festas que o Pinheiro
Bem alto as anuncia, ao burgo, num terreiro!
Não morrerão jamais as Posses folgazãs,
O Magusto, o Pregão, a Entrega das Maçãs
Na ponta duma lança às Damas tão formosas!
E não, não morrerão as Danças graciosas!
(Pregão de 1935)

Realmente as Nicolinas não morreram, antes rejuvenesceram com o seu contributo. Com efeito, HR seria um dos fundadores da Associação dos Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães, mais conhecida por AAELG/Velhos Nicolinos, tendo sido seu presidente nos anos 70; acompanhou ativamente a campanha de reedificação da Capela de S. Nicolau e da instalação do Monumento Nicolino, mas acima de tudo serviu e honrou a festa, suscitando em reconhecimento pelo seu desempenho e ardor a designação de Nicolino-Mor, nos anos 90.
Ainda e dada a sua ligação a Urgezes, onde residiu vários anos, deve-se-lhe também a sugestão de restauro do Dízimo de Urgezes, aprovada em Assembleia de Freguesia de 30 de outubro de 1999, bem como a colaboração ativa na assinatura do Protocolo Nicolino, subscrito entre o Agrupamento de Escolas Gil Vicente e a AAELG/Velhos Nicolinos, em 2002.
 
Outra sua paixão foi o seu Vitória. Assim, como Vitoriano, viria a assumir a presidência do clube de seu coração em 1961, cargo que desempenha um só mandato, embora venha a integrar a sua direção durante quinze anos consecutivos; e seria ainda eleito seu Presidente Honorário, em 1981. Recorde-se que nesses tempos gloriosos, entre as décadas 50/60, o Vitória havia subido à I divisão (57/58), conquistou a Bola de Prata, em 1959/1960, por Edmur, marcou presença na final da Taça de Portugal (62/63), procedeu-se à inauguração do Estádio Municipal (atual D. Afonso Henriques) em 1965, e obteve o 3º. lugar no campeonato nacional em 68/69.
Ademais e ainda no plano do dirigismo desportivo, seria também membro da Federação Portuguesa de Futebol entre 1967 e 1982, tendo sido distinguido com a Medalha de Ouro ao Mérito pelo exercício das suas funções.

Uma outra dimensão da sua cidadania seria a paixão por Guimarães. Vimaranense por nascimento e convicção é também marcante a sua intervenção cívica no associativismo local, realçando-se a sua participação em Comissões Organizadoras das Festas Gualterianas e, por ligação à empresa têxtil de que é sócio, o seu apoio técnico à Exposição Industrial de Guimarães, realizada em 1953 no Parque do Castelo.
Importante foi também a sua colaboração no jornalismo local, durante cerca de 50 anos. Inicialmente no Notícias de Guimarães, entre os anos 50 a 75, quer em temas desportivos quer como cronista, particularmente através da sua crónica semanal intitulada “Esquina do Toural”, que assinava com o pseudónimo Pedro de Vimaranes; posteriormente no semanário “O Povo de Guimarães”, do qual foi fundador em 1978 e Chefe de Redação até 2002, altura em que tive o grato privilégio de com ele conviver, quer como redator quer como diretor do jornal.

Outrossim, a sua ação cívica e estatuto de republicano e democrata estender-se-iam ainda à intervenção política, em 1958, como apoiante da Campanha Eleitoral para a Presidência da República do General Humberto Delgado, postura de civismo que lhe valeu a prisão pela PIDE, durante 10 dias.

Após o 25 de Abril, que vivenciou euforicamente, viria a aderir ao Partido Socialista, tendo presidido à Mesa da Assembleia Geral da Concelhia de Guimarães e sido eleito como deputado municipal entre 1980 e 1993.

Texto escrito por

Álvaro Nunes


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