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ROMARIA DE SANTA LUZIA
Por António Lourenço (Professor), em 2013/12/15689 leram | 0 comentários | 167 gostam
COMEMORAÇÃO DE UMA DAS MAIS ANTIGAS ROMARIAS VIMARANENSES.
Porém, além da sua vertente religiosa de devoção à santa protectora
 dos olhos, é sobretudo pela sua componente profana que esta romaria
 sobressai. Com efeito, durante este dia e paralelamente às promessas
 religiosas, decorre uma feira e venda ambulante muito peculiar, que ,
 além dos tradicionais frutos secos próprios da época, em especial a
 castanha assada, apresenta e comercializa uma ancestral tradição
 doceira, cheia de simbolismo "malicioso" e tradição pagã. Trata-se da
 tradição das "passarinhas" e dos "sardões", que consiste na troca
 entre rapazes e raparigas destes dois doces, ambos com sentidos
 sexuais, bem comuns no linguarejar popular pela sua conotação aos
 órgãos sexuais masculinos e femininos.
 De facto, moldados em massa de centeio ou trigo, revestida com uma
 cobertura de açúcar e enfeitadas com pedacinhos de papel colorido,
 fitas e laçarotes, estas guloseimas assumem diversas formas como
 cornetas, cruzes, relógios, cães ou cavalos, mas são sobretudo as
 "passarinhas" e os "sardões" que mais atraem a clientela, em especial
 os pares de namorados, dando azo ao piropo doceiro "se me deres a
 passarinha, eu dou-te o sardão"...
 Nascida em Siracusa (Sicília), por volta dos séculos III/IV, Santa
 Luzia, que terá arrancado os seus próprios olhos e oferecido-os como
 recusa ao matrimónio que lhe fora imposto, continua em Guimarães a ser
 venerada, com grande devoção popular, pela crença nas suas curas para
 os males e enfermidades relacionadas com a vista, mas também pela
 festa profana que gira à sua volta. Deste modo, na sua capela, que
 terá sido restaurada em 1600, como data na sineira, embora se creia
 remontar a 1488, mantém-se assim vivo este cunho tradicional, num
 espaço que anteriormente terá sido uma gafaria para mulheres
 (recolhimento de leprosos) e portanto local de assistência para corpo
 e alma, como hoje aponta o seu culto.
 Um capela que por ironia esteve para ser demolida em 1903 por proposta
 do senado camarário ao Cabido da Colegiada e que miraculosamente
 escapou, graças às vistas largas de alguns.
 Por isso, ainda hoje, a capela de Santa Luzia conserva ainda no seu
 retábulo maneirista, com frontal rococó, a imagem da santa tendo na
 mão o prato com os olhos do martírio e mantém-se venerada, para além
 dos tempos. Talvez por isso o povo diga com seu sabor popular:
 "Assim que vires o templo de Santa Luzia ao Natal, assim estará o ano,
 mês a mês, até final".
 E hoje está chuva ...

 Álvaro Nunes (Professor aposentado deste Agrupamento de Escolas)

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