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Portugal. E o Futuro?
Por António Loureiro (Professor), em 2014/09/22726 leram | 0 comentários | 153 gostam
Futuro. Mas antes de mais, o passado. Desde 2004 que, todos os anos, as escolas de Portugal são convidadas a participar na eleição de alunos representantes da sua escola.
Em 2008, a nossa Escola, Gil Vicente, de Urgezes, em Guimarães, participou pela primeira vez. O tema era “As Energias Alternativas”. Os professores que orientaram os alunos nesta aventura em que dávamos os primeiros passos eram já a professora Rosa Gomes e o professor Manuel Anastácio que, desde então, sempre têm organizado a participação da nossa escola.

2008. Foi uma vitória, mas houve alguma deceção por não termos tido a Lisboa defender aquela ideia que era nossa. Depois, mais dois anos em que não passámos de Braga, onde se realizam as Sessões Distritais. No quarto ano de participação, a nossa escola brilhou na Sessão Distrital, com um discurso do nosso colega que, citando Martin Luther King, dizia que tínhamos de seguir o sonho de um mundo tolerante e harmonioso. O sonho. Futuro. Depois dessa data, com alguns alunos a repetirem estas andanças, como a Vera Silva, que nos representou este ano, a escola foi sempre a Lisboa, para nosso orgulho. Três anos seguidos a representar o Distrito de Braga na Casa das Grandes Decisões. Este ano, repetimos.

Chega de falar do passado. Passemos ao Presente. O tema deste ano eram as dependências e como as evitar. O tema podia ser abordado de muitas formas e houve opiniões diferentes que deram origem a quatro listas que foram a votos no dia 15 de janeiro. A lista B conseguiu a melhor votação: 92 votos. Alguma abstenção dos nossos colegas, é certo. Mas nada que seja muito diferente do que acontece nas eleições nacionais. Na sessão escolar, de entre os deputados eleitos de três listas, foram eleitas como deputadas à Sessão Distrital as alunas Vera Silva e Isabel Fernandes. Eu, Filipa Ribeiro, fui como deputada suplente.

No dia 17 de Março, decorreu a Sessão Distrital em Braga. Como repetentes, as nossas deputadas já conheciam alguns alunos de outras escolas. Como o Pedro Inocêncio da escola de Gondifelos, que viria a ser eleito porta-voz do Distrito, que veio imediatamente cumprimentar a Vera. Escolas aliadas, apesar de algumas opiniões diferentes. E alguma rivalidade à mistura. Mas aliadas na mesma. O presidente da mesa, João Soares, também era da escola de Gondifelos e faria também parte da mesa na Assembleia da República, como primeirosecretário. A Sessão Distrital começa com as perguntas ao deputado da Assembleia da República, que este ano foi o deputado Nuno Sá. A Vera Silva chamou logo a atenção com uma questão um pouco incómoda e muito política sobre a injusta repartição dos sacrifícios entre os portugueses. Disse nomes. Foi aplaudida. O presidente da mesa, João Soares mandou parar com os aplausos. Ainda tínhamos um dia pela frente e muita coisa para discutir. Os deputados apresentaram e defenderam os seus projetos de recomendação. Uns de forma mais dramática, com grandes alterações de voz e gestos enfáticos. Outros mais tímidos. Uns gastando o tempo todo que tinham para intervir apenas a ler o seu projecto de recomendação. Outros a serem mais económicos nas palavras, o que lhes permitia participar mais vezes no debate. Três minutos por escola pode dar para muita coisa. Mas as palavras têm de sair certeiras e afirmativas. A sessão decorreu de forma muito semelhante à sessão decorrida na escola. As propostas de fusão, aditamento e eliminação, depois de ter sido escolhido o projeto de recomendação, não eram novidade para as nossas deputadas. É um momento de alguma agitação. Finalmente, depois de votações intermináveis e de algumas reclamações quanto a alguns deputados suplentes que estavam a votar como se fossem efetivos, deu-se por terminada a redação do projeto de recomendação de Braga. Depois, a parte mais ansiada: a eleição das escolas representantes à Sessão Nacional. Passámos. Pelo quarto ano consecutivo. Depois, viria a Sessão nacional. Na manhã de 5 de maio, reencontrámos as escolas que tinham sido eleitas em conjunto com a nossa. Uma experiência incrível. Na ida até Lisboa falou-se das medidas a defender, mas não muito. A conversa não parava e, com a chegada de elementos de escolas de outros círculos, em Aveiro, no Entroncamento e em Santarém, enriqueceu-se comnovos sotaques e novas maneiras de estar. Diferentes, mas iguais no entusiasmo. Entretanto, chegavam notícias de que, na Assembleia da República, quem por nós esperava já desesperava. E ameaçava começar sem a nossa presença. E assim foi. Na chegada a Lisboa, o Marquês de Pombal deu-nos as boas-vindas. A arte urbana, do agrado de muitos dos presentes, também foi muito comentada. Finalmente, a Assembleia da República. Os trabalhos já decorriam quando os nossos deputados se sentaram na primeira comissão. Como jornalista, segui por outros corredores cheios de passado. De bustos que nos seguem com o olhar. Pinturas. Colunas. Abóbadas. Um museu, mas vivo. Inquietamente vivo, como os debates que decorrem nos salões, nos hemiciclos e nas salas das comissões parlamentares, onde a Isabel e a Vera já estão a lançar perguntas incómodas aos deputados dos outros círculos eleitorais, em direto, na televisão. Braga, como sempre, muito combativa. E a Gil Vicente de Urgezes e Gondifelos, juntos, parecem funcionar como uma só escola.Depois de um breve lanche, a turma do 8.º ano do ensino articulado da Escola Básica de Rio Tinto utilizou a Sala do Senado como sala de concertos. O seu repertório é vasto. Tanto tocam música clássica como música popular e de filmes. Segue-se o jantar. No refeitório, as filas são enormes. Demora até ser a nossa vez mas, apesar do cansaço, fala-se do futuro. O futuro. O futuro dos jovens que são vítimas de dependências, como tanto se falou tarde fora nas comissões parlamentares. Que futuro? Somos nós que o escolhemos? Ou o futuro (ou, como dizem alguns políticos, terá sido o nosso passado?) escolhe por nós? A maior parte, se não todos, dos meus colegas, não quer fazer carreira política. Nem sequer apreciam muito a política, ou consideram-na como um meio para vencer na vida à custa dos outros. Estão ali não pela política, mas pelo que podem aprender com uma nova experiência, absorver outras formas de ser, de ver e de sentir. Aprender. Talvez algum dia, o futuro o dirá, um de nós seguirá por estes corredores para defender ideias que sejam pela justiça, pela honestidade e pela solidariedade. No futuro. Porque, no presente, apenas queremos saber quem são estes que, connosco, partilham a espera da hora de jantar enquanto os pavões do jardim nos olham com olhar orgulhoso.As deputadas da nossa escola, tal como a maioria dos deputados que nos acompanharam durante o percurso, ficaram alojados no Inatel de Oeiras. Chegámos mais tarde que o previsto. Não estávamos ali apenas para dormir, mas para continuarmos a aprender com aquilo que nos unia e dividia. As conversas prolongaram-se, com partilha de histórias, das coisas mais ridículas (as preferidas de toda a gente), aos assuntos mais sérios da comunicação social. A noite passou rápido. Com a manhã, depois do pequeno almoço no Inatel, mais atrasos. Em princípio, cada porta-voz limitar-se-á a ler a pergunta previamente aprovada. Mas a Vera e o Pedro Inocêncio já debateram a sua intervenção. O Pedro sente-se, contudo, mal disposto à última da hora. Dão-lhe a palavra, mas é a Vera quem a toma. E toma-a, incómoda e assertiva quanto às “grandes hipocrisias que alimentam Portugal”, “as falsas campanhas políticas”, e, assevera: “lamento não estar à espera de uma resposta sincera e objetiva, porque é assim que nos habituaram”. Não se limita a ler perguntas pré-aprovadas. O tempo da censura é coisa do passado. E é coisa que não queremos para o futuro.Entre os deputados “adultos”, Heloísa Apolóniado Partido Ecológico Os Verdes e Pedro Pimpão do Partido Social Democrata animam a manhã com indiretas menos simpáticas.Heloísa Apolónia “não resiste”: “Adorei ouvir o deputado do PSD, Pedro Pimpão, a criticar tão veementemente o primeiro-ministro, quando falava das verdades e das mentiras e só espero… mesmo… ouvir essas palavras no plenário real da Assembleia da República, e terá certamente o meu aplauso.” Pedro Pimpão também não resiste. Não responde à provocação, a não ser dizendo que não irá entrar em diálogo com a deputada por respeito para com os jovens deputados e para com o espírito do programa. Na verdade, não havia qualquer pergunta por parte da deputada, nada havia a responder, mas a bancada parece aprovar as palavras do deputado do PSD com uma salva de palmas.

Nesta fase fala-se muito do futuro. E é essa a principal preocupação dos deputados presentes. De que maneira é que o presente compromete o futuro dos jovens que ali estão a aprender as coisas da Democracia? As opiniões políticas de cada partido são mais ou menos conhecidas, mas todos têm essa palavra na boca. Futuro. Encruzilhada ou beco sem saída? Futuro onde? Aqui ou longe daqui? Emigração. " A emigração em si não é má. O problema é que devido à situação atual do país a emigração (jovem) torna-se forçada", diz a deputada Heloísa Apolónia à saída da sessão de questões colocadas pelos jovens deputados, numa breve “conferência de imprensa”. Vem finalmente a discussão e aprovação do projeto de recomendação da Sessão Nacional, apenas interrompida pelo almoço no claustro do Palácio, um local ajardinado, muito agradável à vista e que predispõe para a conversa amigável em torno de alguns pratos também eles agradáveis, servidos em self service. Começam-se a fazer balanços do andamento dos trabalhos e trocam-se algumas ideias para o final da sessão. Depois de aprovado o projeto de recomendação final, que pode ser consultado em detalhe na página da Internet deste programa, os alunos aproveitaram para louvar esta iniciativa, apelando ao aplauso de quem a tem mantido e implementado.

Filipa Ribeiro

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