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NICOLINAS 2015
Por António Loureiro (Professor), em 2015/12/10737 leram | 0 comentários | 140 gostam
Como manda a tradição, as seculares festas estudantis vimaranenses em honra de S.Nicolau – as Nicolinas – de novo saíram à rua.
Como manda a tradição, as seculares festas estudantis vimaranenses em honra de S.Nicolau – as Nicolinas – de novo saíram à rua. Pela sua ligação a Urgezes e ao Agrupamento de Escolas Gil Vicente, voltamos ao assunto, ressalvando três aspetos fundamentais.
1. O ARREPENDIMENTO
Certamente são por todos conhecidas as razões pelas quais nos dois últimos anos o Agrupamento de Escolas Gil Vicente não participou nas Nicolinas, a despeito do protocolo subscrito para o efeito em 2002 com os Velhos Nicolinos e a assunção do Projeto Nicolinas no Plano Anual de Atividades, como iniciativa pedagógica de articulação à comunidade educativa de cariz lúdico e criativo e aos vários saberes, designadamente da tradição e história local e particularmente ao saber-fazer, evidente nas várias atividades levadas a cabo, em especial na execução do carro alegórico para o cortejo das Maçãzinhas.
Ora este ano chegou o arrependimento através de um e-mail subscrito pelo Presidente da Comissão de Festas, o estudante Rui Leite, já depois da II Convenção Nicolina, ocorrida em outubro, ter criticado a opção tomada nos dois últimos anos quanto à participação das EB2,3 nas festas.Transcrevemos parcialmente esse e-mail, quer pelo nobre sentido de arrependimento evidenciado, quer pelo seu valor em termos futuros:
 “Enquanto Presidente da Comissão de Festas do ano de 2015 e membro da Comissão de 2014, quero apresentar o meu sincero pedido de desculpas pelos acontecimentos registados no ano passado. O impedimento à participação das EB2,3 no cortejo das Maçãzinhas, número especial das antiquíssimas Festas Nicolinas, foi um erro crasso. À luz de uma interpretação pouco madura da história das festas, menosprezou-se o trabalho e afinco das escolas (…). As EB2,3 são uma mais-valia para o cortejo (…)”.
Pessoalmente fazemos votos para que este ato de contrição possa de novo trazer um revigorado entusiasmo às festas, quer fazendo regressar algumas escolas aos seus números mais emblemáticos, quer acrescentando outras. Mas, para isso, é preciso um motivante trabalho de sapa com as escolas, feito atempadamente por quem de direito, vertente que tem sido ignorada.
Trabalho que tem também de avançar noutros domínios, como a candidatura das Nicolinas a património imaterial da humanidade, que apesar já iniciado parece arredado para as calendas.

2. URGEZES E AS NICOLINAS
Certamente é também de todos conhecida a ligação das Nicolinas a Urgezes, já aqui várias vezes ventilada. A revista “Mais Guimarães”, deste dezembro, novamente corrobora essa tese, no artigo intitulado “Festas Nicolinas: História e Tradição” , de autoria de A. Amaro das Neves. Com a devida vénia, transcrevemos três passagens fundamentais:
“ Como vimos, não nos é possível dizer desde quando se presta culto profano a S. Nicolau em terras de Guimarães. No contrato de arrendamento dos dízimos de Urgezes de 1734, o rendeiro ficou obrigado a pagar aos estudantes a porção da renda que lhes era devida em dia de S. Nicolau, devendo fazê-lo com toda a boa satisfação, como é uso e costume e foi sempre. Por esta expressão foi sempre, é-nos lícito concluir que estas festividades eram tão antigas que, na primeira metade do século XVIII, já não era possível precisar a sua origem”.
E mais adiante, acrescenta-se:
“As festas a S. Nicolau giravam em torno da renda de Urgezes, que era retirada do dízimo que cabia à Colegiada (…). Quando as dízimas foram extintas, na sequência da vitória dos liberais de D. Pedro IV em 1834, a Colegiada declarou-se desobrigada de cumprir com a posse dos estudantes, por resultar de uma renda que já não recebia, as festas terão sofrido um sério abalo. Os estudantes moveram uma ação contra o Cabido, exigindo a reposição da imemorial posse de receberem do Reverendíssimo Cabido desta Colegiada em o dia seis de dezembro pela renda que o mesmo possui em Santo Estevão de Urgezes duas rasas de castanhas, dois almudes de vinho, dois centos de maçãs, meia rasa de nozes, meia de tremoços, e duas dúzias de palha painça”.
Uma outra citação confirma as anteriores asserções:
“Importa também perceber o significado do cortejo das maçãzinhas. Na sua origem, trata-se de um jogo de galanteio e de partilha, em que os estudantes distribuíam a renda de Urgezes. Como se percebe, o cortejo e a entrega das maçãs eram, no passado, algo diferentes daquilo que são hoje. Eram, desde logo, bem mais espetaculares. Os estudantes vinham , desde Urgezes, a cavalo (os mais novos) ou em carros (os outros)”.
Ora, este ano apenas se manteve a tradição da posse local, conhecida pelo Dízimo de Urgezes, restaurado pela Junta de Freguesia, ainda que omitida no programa das festas; e uns desgarrados colóquios nicolinos, iniciativa perdida perante a falta de um projeto global que lhes daria sentido…
É pouco …
3. ALGUNS REPAROS
Neste ano da graça de 2015 também a tradição se manteve. Contudo, como amante das festas não posso deixar de manifestar alguma deceção. De facto, o Pinheiro perdeu muito daquele veio satírico que o caracterizava, com as piadas sensaboronas e pouco criativas e que se acrescentam “quadras” sem rima e graça. De todo, não se percebe como nestes tempos em que não há censura, como dantes existia, não se consegue ser (mais) perspicaz perante a realidade dos dias de hoje!
O cortejo das Maçãzinhas, por seu turno, ainda que participado e animado, até porque coincidia com um domingo e portanto podia contar com a participação dos “velhos”, não tem já o brilho e espetacularidade de outrora, quer nas fantasias dos participantes quer na falta de originalidade criativa dos seus carros alegóricos. Mais quantidade e menos qualidade foi a tónica. Apenas nos chamou a atenção um carro, pois pelo menos nele se cantava o hino da cidade, provavelmente numa alusão ao Padre Gaspar Roriz, autor da sua letra e homem vimaranense e nicolino, uma vez que este ano se comemoram 150 anos do seu nascimento.
 Porém, ao que consta, o prémio do melhor carro acabou por ser atribuído. No entanto, a nosso ver, só poderia ser ex aequo o prémio da pobreza!
Há muito trabalho de melhoria a fazer …

Texto de autoria
Professor Aposentado

Álvaro Nunes
  


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