NICOLINAS | |
Por Teresinha Teixeira (Administrador do Jornal), em 2014/09/25 | 662 leram | 0 comentários | 87 gostam |
O Projeto Nicolinas vai avançar este ano letivo, conforme Plano Anual de Atividades do Agrupamento. | |
O Projeto Nicolinas, consagrado à preservação destas seculares festas estudantis vimaranenses, às quais a freguesia de Urgezes está ligada, vai avançar este ano letivo, conforme Plano Anual de Atividades do agrupamento e parceria de articulação acordada entre a escola e a comunidade local. Com efeito, decorrente da reunião de trabalho ocorrida no passado dia 18 de setembro entre o Agrupamento Escolar Gil Vicente e a Junta de Freguesia de Urgezes (em representação da Vaca Negra-Centro para a Criação, Artes e Criatividade), foi possível consensualizar a prossecução do projeto, que passa fundamentalmente pela execução de um carro alegórico para o cortejo das Maçãzinhas (6 de dezembro), a conceber e construir no âmbito das aulas de Educação Visual e que será subordinado ao tema “800 anos da Língua Portuguesa” , bem como outras atividades de divulgação, esclarecimento e motivação da iniciativa. Recorde-se que o tema escolhido para o carro alegórico tem a ver com a celebração da efeméride dos 8 séculos da nossa língua, que a Direção Geral da Educação iniciou a 5 de Maio de 2014 (Dia da Língua Portuguesa instituído pela CPLP) e se prolonga até ao próximo dia 10 de Junho de 2015, uma vez que data de 1214 o Testamento de D. Afonso II, considerado por muitos especialistas o primeiro documento escrito em português. Aliás, um tema que é habitualmente abordado pelos alunos do 9º. ano no âmbito do conteúdo programático alusivo ao estudo da História da Língua Contudo, para além do carro alegórico, encontram-se também previstos colóquios acerca das festas, sessões de ensino-aprendizagem sobre os toques de caixa e bombos nicolinos e a apresentação pública do Auto do Dízimo de Urgezes, na sede da Junta de Freguesia de Urgezes. Quanto aos colóquios nicolinos, orientados pelo ex-professor, gestor e ex-jornalista Silvestre Barreira, decorrerão nas instalações da Vaca Negra, nas seguintes datas/horas: - dia 8 de outubro (quarta-feira), entre as 11,45 e as 13,15 horas, apara os alunos do 9º. C; - dia 9 de outubro (quinta-feira), entre as 8,20 e as 9,50 horas, para os alunos do 9º. B; - dia 9 de outubro (quinta-feira), entre as 15,15 e as 16,45 horas, para os alunos do 9º. D; - dia 10 de outubro (sexta-feira), entre as 15,15 e as 16,45 horas, para os alunos do 9º.A. Como é lógico, as palestras darão a conhecer aos alunos a origem, história e significado destas festas centenárias, os seus principais números e simbologia (Pinheiro, Posses, Roubalheira, Pregão, Maçãzinhas e Danças), bem como aspetos da sua especificidade: trajes, locais de culto, gastronomia e artesanato nicolinos ou figuras e personalidades marcantes da festa (como o seu patrono S. Nicolau e/ou a Senhora Aninhas, mãe dos estudantes). Relembra-se ainda que estas festas estudantis, que remontam a 1661/1663, foram recentemente motivo de um estudo antropológico por parte de um docente da Universidade do Minho com vista à sua candidatura a património imaterial da humanidade e estão enraizadas na cidade que lhe consagra um monumento (Monumento Nicolino), de autoria do consagrado artista vimaranense e nicolino José de Guimarães, memorial que se encontra implantado junto à Igreja dos Santos Passos, no Largo de S. Gualter. Relativamente às sessões de ensino-aprendizagem dos diferentes toques de caixas e bombos nicolinos, que geralmente animam o Pinheiro e o Pregão, estas terão lugar na Vaca Negra, em certas tardes após as aulas, em datas/horas a definir no mês de novembro. Finalmente e no que concerne à apresentação pública do Auto Dízimo de Urgezes, texto de cariz popular, em verso, que satiriza o ano em curso, cuja redação está novamente a cargo de Álvaro Nunes, ex-professor aposentado do nosso agrupamento, este será declamado perante a Comissão de Estudantes Nicolinos, que se desloca a Urgezes para receber esta posse, como mandava a tradição, em sessão pública que agora ocorre no final da tarde do dia 4 de dezembro. Realmente, a denominada posse, renda ou dízimo de Urgezes remontará a 1717 e foi restaurada em 1998 pela Junta de Freguesia. Como o refere Lino Moreira da Silva, docente da Universidade do Minho e autor do livro Guimarães e as Festas Nicolinas, “esta posse, recolhida na Casa da Renda, em Santo Estevão de Urgezes, era constituída por castanhas e vinho, maçãs, tremoços, nozes e palha” e era tradicionalmente a primeira da festa. Esta festa e concretamente a posse nicolina é deliciosamente narrada no capítulo III da obra “A Farsa” de Raul Brandão, que no texto “Cucúsio” (só lendo integralmente se percebe o título), datado de 1903, escreve, a dado passo: “É. na véspera da festa, o dia das posses, em que tempos imemoriais certas famílias estão na obrigação, que a populaça não perdoa nem perde, de dar, uns castanhas, outros lenha, vinho, pão, uma árvore. Forma-se o cortejo. Já estrondeiam os primeiros compassos da charanga, que desce a rua a passos marciais, archotes à frente. Um reboliço, mais berros, rufos desesperados, uivos, maltas que desaguam de outras vielas recônditas e a multidão que oscila e se espraia até à muralha da igreja.” Mais informações sobre a temática das Nicolinas podem ser encontradas na Biblioteca Escolar, no blogue Dízimo de Urgezes ou vários sites disponíveis, designadamente dos Velhos Nicolinos e Tertúlia Nicolina. | |
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