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NICOLINAS
Por António Loureiro (Professor), em 2016/10/19915 leram | 0 comentários | 128 gostam
A exemplo de anos anteriores, o Projeto Nicolinas consagrado à preservação destas festas, vai regressar este ano letivo.
A exemplo de anos anteriores, o Projeto Nicolinas consagrado à preservação destas festas, às quais a freguesia de Urgezes está intimamente ligada, vai regressar este ano letivo, retomando-se o Protocolo Nicolino subscrito em 2002 entre o Agrupamento de Escolas Gil Vicente e a AAELG/Velhos Nicolinos.
Com efeito, e de acordo com o Plano Anual de Atividades e mercê da articulação do agrupamento com a Junta de Freguesia de Urgezes, vai ser possível a prossecução deste projeto, que passa fundamentalmente pela realização dos costumeiros “Colóquios Nicolinos”, a 10 de novembro e pela execução de um carro alegórico para o cortejo das Maçãzinhas (6 de dezembro), este ano alusivo ao “Centenário do nascimento do Nicolino-Mor, Engenheiro Helder Rocha”, cuja evocação biográfica constará de texto a publicar em separado.
Contudo, para além do carro alegórico, equacionam-se também algumas sessões de ensino-aprendizagem sobre os toques de caixa e bombos nicolinos, a apresentação pública do Auto do Dízimo de Urgezes, na sede da Junta de Freguesia de Urgezes (4 de dezembro) e eventualmente um Peddy-paper Nicolino, na cidade, que poderá também abordar o homenageado Helder Rocha e Raul Brandão, no âmbito dos 150 anos do nascimento deste escritor. De facto, esta atividade, a centrar em espaços nicolinos e de vivência das duas personalidade citadas, permitiria um conhecimento mais profundo do projecto, que obviamente e complementarmente , passaria também por uma visita de estudo autónoma à Casa da Memória.
Aliás, ao que sabemos, Raul Brandão será o tema base do II sarau cultural a apresentar no final deste ano letivo, prevendo-se que em dezembro de 2017, a fechar com chave de ouro esta efeméride, este autor possa também configurar o carro alegórico das Maçãzinhas.
Quanto aos Colóquios Nicolinos, este ano sobre a orientação (in)formativa de Fernando Capela Miguel, visam dar a conhecer aos alunos a origem, história e significado destas seculares festas dos estudantes vimaranenses, bem como os seus principais números e simbologia (Pinheiro, Posses, Roubalheira, Pregão, Maçãzinhas e Danças), a ter lugar entre a noite de 29 de novembro e primeira semana de dezembro. De igual modo, dar conta do espírito nicolino, desmontando alguns estereótipos falsos e enraizados, bem como conversar sobre alguns dos principais aspetos da especificidade destas festas: trajes, locais de culto, gastronomia e artesanato nicolinos ou figuras e personalidades marcantes da festa como o seu patrono S. Nicolau, a Senhora Aninhas, mãe dos estudantes e obviamente, este ano, o Nicolino-Mor Helder Rocha, que foi pregoeiro em 1935 e 1936.

Recorde-se que estas festas estudantis, que remontarão a 1661/1663, foram recentemente motivo de um estudo antropológico por parte de um docente da Universidade do Minho com vista à sua candidatura a património imaterial da humanidade e estão enraizadas na cidade que lhe consagra um monumento (Monumento Nicolino), de autoria do consagrado artista vimaranense e nicolino José de Guimarães, memorial que se encontra implantado junto à Igreja dos Santos Passos, no Largo de S. Gualter.

Por outro lado, será importante relembrar que estas festas estão intimamente ligadas à freguesia de Urgezes.
Realmente, a denominada posse conhecida por Renda ou Dízimo de Urgezes, que remontará a 1717 (fará 300 anos em 2017) e que foi restaurada em 1998 pela Junta de Freguesia, por proposta de Helder Rocha, marca indelevelmente essa ligação matriarcal entre a freguesia e as festas. Como afirma Amaro das Neves, na revista “Mais Guimarães” de dezembro de 2015, “ as festas a S. Nicolau giravam em torno da renda de Urgezes, que era retirada do dízimo que cabia à Colegiada (…). Esta renda, recebida a 6 de dezembro, dia de S. Nicolau, constaria de duas rasas de castanhas, dois almudes de vinho, dois centos de maçãs, meia rasa de nozes, meia de tremoços e duas dúzias de palha painça (para a fogueira do magusto).

Curiosamente, este número das festas e concretamente a posse Nicolina, é deliciosamente narrada no capítulo III da obra “A Farsa” de Raul Brandão, que no texto “Cucúsio”, datado de 1903, (só lendo integralmente se percebe o título), escreve, a dado passo: “É. na véspera da festa, o dia das posses, em que tempos imemoriais certas famílias estão na obrigação, que a populaça não perdoa nem perde, de dar, uns castanhas, outros lenha, vinho, pão, uma árvore. Forma-se o cortejo. Já estrondeiam os primeiros compassos da charanga, que desce a rua a passos marciais, archotes à frente. Um reboliço, mais berros, rufos desesperados, uivos, maltas que desaguam de outras vielas recônditas e a multidão que oscila e se espraia até à muralha da igreja.”
Este ano ou em 2017 foi sugerido recriar esta posse do “Cucúsio”, nas ruas da cidade, homenageando-se em simultâneo as festas nicolinas e Raul Brandão.

Quanto às maçãs recebidas no Dízimo de Urgezes, como é óbvio, seriam para o cortejo das Maçãzinhas, a 6 de dezembro, dia de S. Nicolau. Nessa altura, os estudantes vinham de Urgezes, a cavalo ou em carros e , tal como atualmente, ofertavam às expectantes raparigas o famigerado “fruto proibido”, alcandoradas nas varandas e janelas do Toural, Rua de Santo António ou Praça de S. Tiago, recebendo em troca um pequeno presente. Contudo e como se escreve no “site” da AAELG/ Velhos Nicolinos , “ a magia das Maçãzinhas, começa muito antes do dia 6 de dezembro. Desde logo, porque os rapazes têm de levar a sua lança que colocam no cimo da cana com que chegam às varandas, carregadas de fitas que pedem às raparigas. Fitas essas que podem ser de várias cores, sendo que cada cor tem significado. Normalmente nas fitas, para além das cores escolhidas, são colocados dizeres, símbolos e mensagens que deixam “pistas” aos rapazes sobre qual a rapariga em que deverão “apostar” para entregar a lança. Se os rapazes já tiverem optado por uma rapariga que pretendem galantear, pedem essa fita do laço”, com o dobro do tamanho das restantes e sempre cor-de-rosa”.

Mais informações sobre a temática das Nicolinas podem ser encontradas na Biblioteca Escolar, no blogue Dízimo de Urgezes ou vários sites disponíveis, designadamente dos Velhos Nicolinos e Tertúlia Nicolina.



Artigo escrito por,

Álvaro Nunes

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