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MIA COUTO, PRÉMIO CAMÕES 2013
Por António Loureiro (Professor), em 2013/06/04506 leram | 0 comentários | 132 gostam
O biólogo António Emílio Leite Couto, escritor moçambicano conhecido literariamente pelo pseudónimo Mia Couto, é o vencedor do Prémio Camões de 2013, que distingue anualmente a melhor criação literária em língua portuguesa.
Mia Couto, segundo escritor moçambicano galardoado, após esta honra ter já sido atribuída ao seu compatriota José Craveirinha (1991), é portanto o último autor da longa lista dos prémios Camões, instituídos por Portugal e pelo Brasil, da qual fazem parte ilustres autores portugueses como Miguel Torga (1989), o primeiro premiado, a que se seguiram Vergílio Ferreira (1992), José Saramago (1995), Eduardo Lourenço (1996), Sophia de Mello Breyner Andresen (1999), Eugénio de Andrade (2001), Maria Velho da Costa (2002), Agustina Bessa-Luís (2004), António Lobo Antunes (2007) e Manuel António Pina (2011). Rol de premiados a que se ajuntam os brasileiros João Cabral de Melo Neto (1990), Rachel Queiroz (1993), Jorge Amado (1994), António Cândido (1998), Autran Dourado (2000), Rubem Fonseca (2003), Lygia Fagundes Telles (2005), João Ubaldo Ribeiro (2008), Ferreira Gullar (2010) e Dalton Trevisan (2012). Os escritores angolanos Pepetela (1997) e José Luandino Vieira (2006), que recusou o prémio, bem como o cabo-verdiano Arménio Vieira (2009) foram os restantes contemplados.
Com efeito, este ano, o júri constituído pelos portugueses José Carlos Vasconcelos e Clara Crabbé Rocha, a que se juntaram os brasileiros Alcir Pécora e Alberto da Costa e Silva, bem como os africanos João Paulo Borges Coelho (Moçambique) e José Eduardo Agualusa (Angola), reconheceram o mérito literário do agraciado, fundamentando e realçando que “Mia Couto, ao longo de 30 anos, construiu uma vasta obra ficcional caracterizada pela inovação estilística, por uma profunda humanidade que tem sabido renovar e enriquecer (…) com livros traduzidos em cerca de 30 idiomas”. Obra literária que “inicialmente, foi muito valorizada pela criação e inovação verbal” , mas que, de acordo com o júri, conseguiu “passar do local para o global” e que, além disso, ” tem tido uma cada vez maior solidez na estrutura narrativa e capacidade de transportar para a escrita a oralidade”. De facto, a recriação da língua portuguesa com uma influência moçambicana, inspirada na língua oral, utilizando o léxico regional, em especial o ronga, em simultâneo com um novo modelo de narrativa africana, têm sido as marcas essenciais da escrita e estilo pessoal do escritor: “só quando quis contar histórias é que se me colocou este desafio de deixar entrar a vida e a maneira como o português era remodelado em Moçambique para lhes dar maior força poética” – afirma em entrevista concedida ao jornal Público em 20/11/1999.
Assim, como expressão da sua moçambicanidade, transparece na sua escrita um certo realismo mesclado pela intromissão do imaginário ancestral e pelo fantástico , um certo espírito de humor e acima de tudo um certa criatividade e inventividade da linguagem, na esteira do brasileiro João Guimarães Rosa ou do angolano Luandino Vieira. Surgem deste modo novas palavras por amálgama, novas formas de prefixação (refaleceu, descaminhar, inavergonhado) e uma infinidade de vocábulos inovadores, como são exemplo homenzarrou, depressou-se, manifestivo, exuberrante, atordoído, que se constroem com pertinência e acrescida mais-valia semântica.
Couto, nascido na cidade da Beira em 1955, numa família de emigrantes portugueses, licenciado em Biologia, após ter cursado Medicina e jovem comprometido com a independência de Moçambique, iniciou a sua carreira literária em 1983 com a publicação do livro de poesia Raiz de Orvalho, numa escrita panfletária que o próprio considera “muito dominada por essa urgência política de mudar o mundo, de criar um homem e uma sociedade nova” (entrevista citada).
 Porém e afora a escrita literária, Mia Couto, como homem do seu tempo, estendeu ainda sua pena ao jornalismo, exercendo funções de diretor da Agência de Informação de Moçambique e colaborando em jornais locais como A Tribuna, O Tempo e Notícias de Maputo, em especial no decurso do pós-25 de Abril de 1974. Todavia, a despeito da sua iniciação lírica, que retoma em 2011 com Tradutor de Chuvas, bem como da edição do livro de crónicas Vozes Anoitecidas” (1986), que lhe valeu o prémio da Associação de Escritores Moçambicanos (AEM), é especialmente no conto e romance, que Mia Couto mais se distingue, sendo de salientar Terra Sonâmbula (1992), mais tarde adaptado ao cinema e Prémio Nacional de Ficção da AEM, que foi considerado por um júri da Feira do Livro do Zimbabué um dos 12 melhores livros africanos do século XX. Seguem-se outros títulos como A Varanda do Frangipani (1996), O último Voo do Flamingo (2000), galardoado com o Prémio Mário António, Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra (2002), também com adaptação cinematográfica e posteriormente Estórias Abensonhadas (2003), Cada Homem é Uma Raça (2005), O Outro Pé da Sereia (2006), Venenos de Deus, Remédios do Diabo(2008) , Jerusalém (2009) e mais recentemente A Confissão da Leoa (2012).
Atualmente, Mia Couto dirige também uma empresa de estudos ambientais e exerce funções docentes na cadeira de ecologia na Universidade Eduardo Mondlane, na capital moçambicana.
Mais um autor que se recomenda para leitura e prazer, condimentado(s) com sabores e odores africanos e o sal da lusofonia. Bom apetite …
Álvaro Nunes


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