LUÍS DE CAMÕES | |
Por Conceição Páscoa (Professora), em 2020/06/09 | 776 leram | 0 comentários | 158 gostam |
Neste ano perfazem 440 anos da morte de Camões, o maior poeta português de todos os tempos, falecido a 10 de Junho de 1580, atual feriado nacional consagrado como o Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas. | |
Ora, Luís Vaz de Camões terá nascido em Lisboa entre 1524 e 1525 e cedo se tornou conhecido pelos seus dons poéticos, que lhe terão proporcionado a oportunidade de frequentar a corte, no reinado de D. João III e de mostrar o seu talento. Aí também se terá envolvido em vários amores com damas nobres, provavelmente até com a infanta D. Maria, irmã do rei. Relações amorosas que lhe terão causado vários dissabores, como o reconhece no seu soneto autobiográfico “Erros meus, má Fortuna, Amor ardente”, título homónimo de uma peça de teatro de Natália Correia, escrita propositadamente para o seu 4º. centenário do poeta. Consta também que terá frequentado a Universidade de Coimbra, graças a um seu tio, situação que lhe terá facultado vastos conhecimentos e acesso a fontes eruditas, como ele próprio referencia nos “Lusíadas”, no canto X, estrofe 154: “Nem me falta na vida, honesto estudo Com longa experiência misturado Nem engenho, que aqui vereis presente Cousas que juntas se acham raramente” Realmente, na sua vida experiente e agitada, combateu no Norte de África entre 1549 e 1551, tendo ficado ferido e cego de um olho; e seria várias vezes preso, a primeira das quais em 1552, devido a uma rixa, que lhe valeu a pena de prisão. Após sair em liberdade, com a garantia do perdão, partiu para a Índia. Aí, no Oriente, e especialmente em Macau, terá desempenhado vários cargos administrativos e escrito parte da sua obra-prima “Os Lusíadas”. Sabe-se ainda que numa viagem entre Macau e Goa terá sofrido um naufrágio na foz do rio MeKong, na China, no qual terá morrido uma sua amada oriental, de nome Dinamene e consta também que terá salvado “Os Lusíadas”, a nado. Em Goa voltaria a ser preso por escrever versos satíricos contra o poder estabelecido e sofreria ainda variadas dificuldades, acabando por partir para Moçambique em 1569 e a regressar a Lisboa, cerca de dois anos depois. Deste modo, de regresso a Portugal, seria recebido pelo rei D. Sebastião, a quem leu a quem dedicou a sua obra. “Os Lusíadas” acabariam por ser publicados em 1572 e são atualmente considerados uma obra-prima literária da Literatura Portuguesa e uma referência importante na História da Literatura Universal, traduzida em várias línguas. O poeta acabaria por morrer na miséria em 10 de Junho de 1580 (atualmente feri ado nacional), apesar de uma tença anual que recebia pelo seu trabalho. Uma vida de pobreza em que mesmo o seu funeral teria de ser pago por um nobre, D. Gonçalo Coutinho, que na sua sepultura mandou colocar uma lápide com a seguinte inscrição: “Aqui jaz Luís de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu”. No entanto, para além da obra e poema épico “Os Lusíadas”, que canta a gesta e História dos portugueses, centrado na viagem marítima de Vasco da Gama à Índia, Camões legou-nos ainda excelente poesia lírica, publicada a título póstumo em 1595 sob o título “Rimas”, bem como algumas comédias como “Anfitriões”, “Filodemo” e “El-Rei Seleuco”. Uma vida turbulenta, mas de enorme talento, quer na lírica tradicional quer renascentista, que perdura pelos séculos fora. Ora, Guimarães nunca esqueceu o genial poeta, que se encontra consagrado na toponímica da cidade: a rua de Camões, que liga o Toural às Dominicas. E, recentemente, entre dezembro de 2017 e maio de 2018, “Os Lusíadas” seriam manuscritos em Guimarães por cerca de 450 “copistas”, dos 6 aos 95 anos, entre quais o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Uma excelente iniciativa dos antigos professores da Secundária Martins Sarmento e do seu movimento “Voltar à Escola” que contou com o apoio da Biblioteca Raul Brandão e da Sociedade Martins Sarmento, que mantém à sua guarda esta edição manuscrita. Recordo porém o 10 de Junho de 1880, pela pena de João Lopes de Faria, nas suas “Efemérides Vimaranenses”: “ A comissão criada para celebrar o tricentenário de Camões principiou as suas solenidades neste dia por uma missa rezada na Colegiada, em que foi celebrante o Padre António José Pereira Caldas Júnior, pelas 11 horas da manhã. (…) Terminada a missa a comissão dos festejos, acompanhada por todas as corporações, dirigiu-se à Casa da Câmara e (…) foi-lhes apresentada e lida pelo conde de Margaride uma mensagem, na qual a mesma comissão oferecia ao município dois exemplares duma tradução de alguns cantos em francês pelo duque de Palmela e revistos pela madame Stael (…) Na mesma mensagem se pedia à Câmara que um dos largos ou ruas de Guimarães fosse batizada com o nome de Camões e que se resolveu logo por unanimidade, sendo por isso escolhida a antiga Ria Nova das Oliveiras. Em seguida por proposta do vereador António Joaquim de Mello também se resolveu que ao Largo do Pelourinho se pusesse o nome de Largo do Trovador, em comemoração do primeiro trovador português Manuel Gonçalves, nascido no antigo burgo da Rua de Couros. Os festejos continuariam pelos dias seguintes com um jantar aos presos, sinos a repique, bandas de música, iluminações das casas e fogo no ar, que causaria dois feridos. E ainda um espetáculo de gala em que seria representado o drama original em 3 atos “Lágrimas e Risos” do “nosso cónego Joaquim de Oliveira Cardoso”. Sessão que contaria também com poesia de autores vimaranenses e uma instalação centrada no busto de Camões rodeado de escudetes com as datas mais notáveis da vida e obra do poeta. Mas Guimarães está também imortalizada nos “Lusíadas”, em especial na estrofe 31 do canto III: “De Guimarães o campo se tingia Co sangue próprio de intestina guerra, Onde a mãe, que tão pouco o parecia Ao seu filho negava amor e terra”. Camões está entre aqueles que “se vão da lei da Morte libertando” … Texto de Álvaro Nunes | |
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