FIGURAS NICOLINAS (I) | |
Por António Loureiro (Professor), em 2016/10/28 | 618 leram | 0 comentários | 181 gostam |
S. Nicolau, patrono das festas, a senhora Aninhas, mãe dos estudantes e Hélder Rocha, Nicolino-Mor, são três das proeminentes figuras nicolinas que vamos destacar separadamente nestas páginas. | |
S. NICOLAU S. Nicolau, patrono das festas nicolinas, terá nascido em Pátara, na Lícia, por volta do ano 270, tendo herdado avultados bens dos seus pais, falecidos devido a uma epidemia , quando era ainda muito novo. Nicolau dedicou toda a sua vida ao serviço religioso e a ações altruístas, tendo sido monge e abade e posteriormente arcebispo de Mira. Como muitos sofreu a calamidade das perseguições e até a prisão do império romano. Regressaria porém à sua diocese, no governo de Constantino Magno, tendo sido um dos 318 bispos que condenaram o arianismo no primeiro concílio de Efeso. Sua vida foi também e fundamentalmente dedicada aos outros, em especial como protetor dos jovens, tendo usado a sua riqueza no exercício de obras de caridade, especialmente de raparigas condenadas aos prostíbulos. Bastante venerado e popularizado após a sua morte, no ano 325, foram as suas relíquias transferidas para Bari por devotos mercadores, em 1087, uma vez que Mira caíra em poder dos turcos. Assim, em Bari ser-lhe-ia edificada uma magnífica igreja em sua honra, passando o seu culto a expandir-se por todo o ocidente, que em diferentes zonas da Europa assumiria formas e folguedos diferenciados, em especial a 6 de dezembro, dia da sua festa litúrgica, segundo o Flocus Santorum. Deste modo, S. Nicolau é celebrado pelas crianças da Alsácia, que na noite de 5 para 6 de dezembro colocam um sapatinho na chaminé, para receberem presentes do santo, mas é também orago de uma das igrejas do centro da cidade do Porto. Nesta cidade é costumeiro a 6 de dezembro a oferta pelo abade da freguesia de uma rasa de castanhas para um magusto popular, cuja lenha é pedida pelos garotos ao som de campainhas apregoando “Quem dá um pau por S. Nicolau!”.. Seu culto está ainda referenciado em Slobregât, Panades, em Espanha, na ex-URSS, na Bélgica e ainda em Bari, na Itália. Outrossim, a tradição da sua veneração está igualmente popularizada no norte da Europa com o famoso Pai Natal, o homem do saco das prendas que a publicidade e uma campanha de marketing da Coca-cola vestiram de vermelho, conduzindo um trenó puxado por renas. Todavia, para além da sua manutenção sob a figura de Santa Claus (Sanctus Nicolaus), S. Nicolau é também considerado protetor dos famintos (por ter feito multiplicar o pão em tempo de fome), bem como das raparigas pobres (pelo dote que lhes fazia chegar em segredo pelas janelas, permitindo desse modo que pudessem casar) e ainda patrono dos perseguidos (por ele mesmo ter sido perseguido pelo imperador romano Diocleciano). São-lhe também atribuídas a proteção aos comerciantes (pela transferência das suas relíquias para Bari, graças a comerciantes) , assim como aos marinheiros e navegantes (pela viagem de suas relíquias por mar, até Bari). É também venerado como padroeiro das crianças (pela sua devoção para com Santa Claus) e ainda patrono dos presos, infelizes e abandonados da sorte (pelos milagres que lhe são atribuídos). Entre os seus principais milagres e atos de benfeitoria destacam-se o salvamento de três meninos, que depois de esquartejados por um estalajadeiro foram ressuscitados pelo santo, bem como a atribuição de dotes às raparigas pobres, que recebiam pela chaminé ou pelas janelas prendas e valores, de forma a angariarem bens materiais que garantissem o seu casamento e evitassem a sua venda para os prostíbulos. Em Guimarães o santo é venerado de forma singular e única nas Festas Nicolinas, remontando a 1691 a fundação da Irmandade de S. Nicolau, com o objetivo de “promover o culto e veneração ao seu padroeiro, S. Nicolau, bispo de Mira”, que estatutariamente passaria por “sufragar as almas dos irmãos falecidos”, bem como “cumprir encargos e legados pios” e “promover o espírito de solidariedade entre irmãos”. Contudo, as festas e o culto de S. Nicolau terão reminiscências mais vetustas e anteriores a 1691. Com efeito, data de 1190 a renomeação de Paio Galvão como mestre da Escola da Colegiada, cujos estudantes de Humanidades, com a sua devoção à Virgem, teriam estado na origem remota das Festas Nicolinas. Por outro lado, é de crer que a tradição escolástica vimaranense não se tenha apenas confinado à Colegiada e haja também assentado sustentáculos na Universidade da Costa, no século XVI. Aliás, já no Inventário Geral da Colegiada de 1564 pode ler-se que “a Capela de S. Nicolau fizeram-na os estudantes desta vila e outros devotos de dinheiro que ganharam em comédias e danças”, o que comprova que o culto ao santo é anterior à fundação da sua Irmandade. Curiosamente foram também as verbas resultantes das Danças e da Câmara Municipal que permitiram obter fundos financeiros para a reconstrução da capela do santo, uma vez que na segunda metade do século XX, por força do restauro da Igreja da Oliveira, aquela fora desmontada e suas pedras amontoada na Colegiada até à sua reedificação na segunda metade dos anos 90 Hoje a capela do santo localiza-se ao lado e anexa à Igreja da Oliveira, local onde ocorre anualmente, a cargo da Irmandade de S. Nicolau um cortejo em sua honra , no dia 6 de dezembro, ou domingo mais próximo desta data, que habitualmente percorre o curto caminho entre a capela e a Igreja da Oliveira, regressando à sua orada após a realização de uma missa solene. Porém, a despeito das tentativas e campanhas eclesiásticas para dar a estas festas um cunho de cariz mais religioso, estas foram oportunamente apropriadas pelos estudantes vimaranenses, que as transformaram numa festa popular e profana, sendo hoje uma realidade cultural exclusiva e original, que obviamente tendo evoluído com os tempos, mantém a sua força mobilizadora da alma estudantil e vimaranense. Aliás o próprio termo nicolinas será um neologismo recente, que apenas terá surgido no Pregão de 1904, escrito sob a pena de João de Meira, evidenciando deste modo que as festas tiveram um percurso de séculos e de adaptação aos tempos … Texto escrito por Álvaro Nunes | |
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