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FESTAS NICOLINAS, QUE FUTURO?
Por António Lourenço (Professor), em 2014/12/16885 leram | 0 comentários | 192 gostam
- Factos, tradição e polémica(s) …
As origens das Festas Nicolinas são religiosas. Por isso, constam dos Estatutos da Irmandade os fundamentos para ser Nicolino. Assim “só poderiam integrar a Irmandade (de São Nicolau) Sacerdotes. Beneficiados, Letrados e Estudantes da Vila (pagando… 480 reis), ou de fora dela (pagando o que a Mesa decidisse). Os Estudantes de Guimarães (por direito próprio “todo o Estudante que entrar em algum dos estudos desta Vila” …) tinham o prazo de um ano para se fazerem Irmãos pelos 480 reis apontados, depois do que a esmola a pagar ficaria ao arbítrio da Mesa”.
Esta citação, transcrita da página 52 do livro “São Nicolau, a sua Irmandade e a sua Capela, na insigne e real Colegiada de Guimarães” , datado de 1994, da autoria do professor aposentado da Universidade do Minho e estudioso Nicolino Lino Moreira da Silva (LMS), esclarecerá algumas questões em aberto sobre de ser Nicolino. Aliás, o citado autor acrescenta na mesma página e obra, na sua nota 173: “Este ponto anula de vez a polémica de quem deverá, por direito próprio, ser considerado ou não Nicolino. Com base na tradição (as dimensões religiosa e profana interagiram desde sempre), deverá sê-lo todo o Estudante (nada diz sobre a sua proveniência) a frequentar qualquer estabelecimento de ensino em Guimarães. Os Estatutos (da Irmandade de São Nicolau) de 1862, no seu artº. 2º., precisam melhor esse aspecto, ao contemplarem “aqueles que frequentaram, ou tiverem frequentado qualquer aula de Latim por tempo pelo menos de seis meses”. As aulas de Latim tiveram o seu tempo. Ficaram escolas “nicolinas” – sem excepção, as de Guimarães inteiro. A idade mínima seriam os 14 anos, como determina o Capº. do Compromisso e se reforçou em 1738”.
É neste sentido que, LMS infere que “ a acrescer a isto, temos que a) os “14 anos” referidos têem, hoje, de ser lidos de modo largo, pois correspondiam à idade de início da escolaridade oficial (obrigatória selectiva), que hoje acontece (escolaridade obrigatória) em idade bem anterior, e que b) os “Direitos Nicolinos” se tornaram hoje, com máxima justificação, extensivos ao género feminino.
Logo, as Festas Nicolinas são Festas de “TODOS” OS Estudantes de Guimarães, Novos e Velhos (os que o são e os que já o foram), homens e mulheres, de “todas” as escolas, da cidade/concelho” – inferiria, acrescentando à laia de aviso “estamos a passar por um momento difícil, em que alguém está a querer desvirtuar a herança cultural Nicolina. Mais que nunca, tem de se fazer valer, com seriedade, o conhecimento/informação e a tradição”.
Ora, é face a estes fundamentos e muitos outros que aqui poderíamos aduzir de outros estudiosos nicolinos (leia-se a este propósito o capítulo intitulado “Que futuro para as Festas Nicolinas” inserido na obra “A Alma e a Graça das Festas Nicolinas” deste citado autor) que não se compreende a atitude da Comissão de Festas Nicolinas de 2014, que defende ser o número das Maçãzinhas um exclusivo das escolas secundárias. De facto, teria sido com base neste entendimento, que as eb23 concelhias, em especial os agrupamentos escolares de Urgezes e Abação (julga-se que a João de Meira estaria ausente este ano) não participaram no cortejo das Maçãzinhas, situação que mereceu um protesto público por parte de algumas alunas destes agrupamentos escolares no Largo do Toural, a 6 de dezembro e a publicitação de um comunicado da Direção do Agrupamento de Escolas Gil Vicente (ver texto em separado).
Aliás alguma imprensa fez alusão à questão, como por exemplo o Guimarães Digital, que escreveu, a 5 de dezembro:
“O cortejo das Maçãzinhas das Nicolinas está envolto em polémica. Tudo por causa da decisão da Comissão Organizadora que proibiu a incorporação de carros alegóricos das escolas básicas.
A Diretora do Agrupamento de Escolas Gil Vicente diz que a notícia foi um choque. Por isso manifestou a sua “surpresa e indignação” perante a decisão nicolina.
Para Isabel Zamith não há razão plausível que explique esta situação, levando em linha de conta a existência de um protocolo entre aquele Agrupamento de Escolas e a Associação Velhos Nicolinos ao abrigo do qual, durante o primeiro período escolar se desenvolveram iniciativas de sensibilização sobre a festa dos estudantes de Guimarães e a preparação do carro alegórico das Maçãzinhas. O que acontecia desde 2002.
Isabel Zamith diz que a indignação é ainda maior quando a decisão foi comunicada ontem, quinta-feira (leia-se 4 de dezembro).
Vieram cá dois elementos da Comissão que anunciaram não reconhecer o protocolo que temos com os Velhos Nicolinos, tendo proposto a nossa participação este ano pela última vez. Claro que não aceitamos, afirmou.
A Diretora do Agrupamento de Escolas Gil Vicente, de Urgezes, espera que esta questão possa ser discutida com tranquilidade depois das Festas Nicolinas tendo em vista a preparação da edição do próximo ano”.

A questão também não passou despercebida na edição do Comércio de Guimarães de 10 de dezembro, que sob o antetítulo “Alunos de Urgezes protestaram no Toural” escreve no corpo do texto intitulado “Nicolinas cumpriram ritual tradicional”:
“ Os festejos decorreram com muita participação, mas ficaram marcados pela polémica.
No sábado, alunos da EB2,3 de Urgezes vincaram o seu protesto por terem sido impedidos de participar no cortejo das maçãzinhas. A deliberação da Comissão Nicolina a dois dias da iniciativa provocou revolta e o protesto da Direção daquele estabelecimento de ensino que espera que o assunto seja tranquilamente debatido”.

Ora, é mesmo de um debate que as Nicolinas carecem, para se evitar que aprendizes de feiticeiros , manipulados ou não por magos de ultras tertúlias nicolinas ou instruídos por docentes iluminados, não decidam arbitrariamente e com elitismo o que outros em 12 anos consecutivos entenderam ser o espírito nicolino. E não basta ler os resumos, à laia do chico espertismo de alguns estudantes do secundário, que não consultam fontes nem lêem as obras de referência.
E, se calhar, é também preciso trabalhar essas coisas e loisas do civismo e educação cívica, que alguns reivindicam volte à escola, embora também se ensine em casa. De facto não lembra ao diabo alterar a dedicatória do Pregão, em detrimento do seu autor, como teria sido tentado … Voz grossa e saída do estado imberbe nem sempre é sinal de maturidade.
Também não se pode ano após ano fazer assembleias gerais para discutir sempre o mesmo, sem abordar o essencial, empurrando-se os problemas com a barriga. Tão-pouco fugir às questões ou marginalizá-las, quando se é parceiro ou patrocinador.
Com efeito, este ano, foi a festa que saiu a perder. Nas Maçãzinhas sentiu-se que faltou a animação das escolas básicas, pois apenas dois carros alegóricos (Santos Simões e Francisco de Holanda) preenchiam os quesitos exigidos e as varandas do Toural estavam demasiado vazias …
Quanto ao futuro, há que reflectir atempadamente e não esperar por novembro, sob pena das escolas afastadas programarem as suas próprias nicolinas,a nível interno ou seus locais de implantação, como já parcialmente acontece … Nestas festas, que em tempos foram apropriados pelo ex-Liceu de Guimarães nada impede que outros o imitem. Julgamos, contudo, que seria preferível o reforço das festas centralizadas, reforçadas com um trabalho de sapa em todas as eb2,3 concelhias, conducente à sua participação.
 A festa e a tradição só lucrariam …

Professor Álvaro Nunes

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