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FERNANDO NAMORA FEZ 1OO ANOS
Por Carla Manuela Mendes (Professora), em 2019/05/08575 leram | 0 comentários | 137 gostam
Neste ano, completaram-se 100 anos do nascimento de Fernando Namora. Evocar esta efeméride, coincidente com os 30 anos do seu falecimento e escalpelar alguns “Retalhos da Vida de um Médico”, também poeta, pintor e escritor,revela-se importante.
Ora, Fernando Namora (1919-19819) nasceu a 15 de abril de 1919, em Condeixa-a-Nova, terra natalícia que evoca o seu nome como patrono na escola secundária local. Filho único de um casal de pequenos comerciantes, frequentou o Colégio Camões, em Coimbra, cidade onde mais tarde se inscrever no Liceu José Falcão, em 1935, após cerca de três anos em Lisboa, no Liceu Camões, vividos na companhia (complicada) de duas tias solteironas, avaras e beatas.
Todavia, é no decurso da sua estada em Coimbra que se inicia na escrita, com “Alma sem rumo”, o seu primeiro livro, nunca publicado. Aí, torna-se também diretor do Jornal Alvorada, e fará a sua primeira exposição de desenho, bem como terminaria a sua licenciatura em Medicina, em 1942,embora haja sonhado ser arquiteto ou engenheiro.

Com efeito, Coimbra marca indelevelmente Fernando Namora (FN) e esta geração de 40, como anteriormente o fizera o seu tio paterno, e também o vizinho, senhor Gabriel, leitor de Zola e Gorki, que conjuntamente com o livre-pensador Joaquim Melâneo, o encaminhariam precocemente para as vias do protesto social.
Porém, a sua estreia literária surgiria em 1937, através da poesia, com o título “Relevos”, certamente influenciada por Afonso Duarte e o grupo Presença; e logo a seguir, com o romance “As Sete Partidas do Mundo” (1938), que viria a receber o Prémio Almeida Garrett. E, nesse mesmo ano auspicioso, seria ainda contemplado com Prémio Mestre António Augusto Gonçalves de artes plásticas.
Efetivamente, após este bom começo, publicaria ainda, “Terra” (1941), livro considerado como o marco inicial do neorrealismo, e seu subsequente envolvimento no projeto “Novo Cancioneiro”, coletânea poética de 10 volumes anunciando o advento dessa corrente literária. Na mesma linha estética lançaria também a coleção “Novos Prosadores” (1943) que reúne o seu romance “Fogo na Noite Escura” (1943) e outros autores e narrativas desses tempos.
Data ainda desse mesmo período a relação afetiva com a também estudante Arminda Bragança de Miranda, que viria a falecer nove meses depois, na sequência do parto da filha Maria Arminda.

Nova fase da vida se processaria após a licenciatura em Coimbra, dando início ao ciclo da juventude, quer literária quer pessoal. Assim, nesta época, FN inicia a sua vida profissional na sua terra natal, local onde abre consultório médico. Porém, a libertação da casa paterna e o surto de volfrâmio, levam-no até Tinalhas, na Beira Baixa. Aí, perante alguma solidão e o contato com o ambiente da mina, escreve em escassos oito dias, “A Casa de Malta” (1945); e, logo a seguir, surgiria o amor por Zita, a estudante em Castelo Branco, de nome Isaura Campos Mendonça, com quem viria a casar no ano seguinte
Inicia-se deste modo o denominado ciclo rural do escritor, que além da obra atrás citada se complementaria com as publicações de “Minas de San Francisco”(1946), “O Trigo e o Joio” (1954) e “Retalhos da Vida de um Médico” (1949/1963).
No entanto, este casamento leva-o de novo a mudar de ares e a mais um retalho da sua vida, desta feita a Monsanto, local onde assume funções de médico municipal substituto.
Ora, seria nestas paragens de Monsanto, que novas criações seriam geradas: a segunda filha Margarida Maria (1945) e “Minas de San Francisco”, que em 1952 viria a receber o Prémio Ricardo Malheiros.
Pavia, no Alentejo, seria porém a etapa seguinte como médico. E. é assim que nesse ambiente que naturalmente surge “O Trigo e o Joio” e anos antes a primeira série de “Retalhos da Vida de um Médico”.
Depois, Lisboa, para onde se muda em 1950 para exercer funções de assistente do Instituto Português de Oncologia. Na capital despontaria o ciclo urbano da sua vida e obra, cujos vetores fundamentais se encontram plasmadas em “O Homem Disfarçado” (1957), “A Cidade Solitária”(1959) e “Domingo à Tarde”(1961),título a que seria atribuído o Prémio José Lins Rego. Data também deste período “Deuses e Demónios da Medicina” (1952), biografias romanceadas de figuras representativas da medicina e história da arte médica.
Esta fase marcaria também a viragem para novos caminhos literários, palmilhados de modo mais pessoal entre a ficção e a análise social, que enveredariam por aspetos picarescos, observações naturalistas e algum existencialismo emergente.
Mais tarde, nos anos 60/70, período coincidente com algumas viagens efetuadas e deslocações a encontros internacionais, sobressairia o ciclo cosmopolita e uma sucessão de livros de viagens.
Como é óbvio, o ciclo final da sua obra corresponderia ao fim da sua vida em 31 de janeiro de 1989. Tempos refletidos entre a ficção contemporânea e as reflexões íntimas, vividos já com alguma agonia decorrente da sua doença. Assim, deste ciclo final, datam o romance “Rio Triste” (1982),quiçá o romance mais polifónico do autor premiado com três prémios (Prémio Fernando Chinaglia, Prémio Fialho de Almeida e Prémio D. Dinis). E, posteriormente, “Resposta a Matilde” (1980), o livro de poesia “Nome para uma casa” (1984), “Sentados na Relva” (1986)e “Jornal sem data” (1988), a última obra antes do seu falecimento.
No entanto, FN foi ainda colaborador assíduo de várias publicações e revistas, e, a partir de 1965, após o abandono da prática da medicina, seria presidente do Instituto da Cultura Portuguesa, presidindo à publicação da conhecida coleção “Biblioteca Breve.

Refira-se ainda que muitas das suas obras foram traduzidas para várias línguas e/ou adaptadas ao cinema e à televisão. Ademais, o autor seria ainda proposto pela Academia das Ciências de Lisboa para o Prémio Nobel da Literatura em 1981 e conquistaria vários prémios literários
Recentemente, a 15 de abril, o escritor seria alvo de uma homenagem na Casa-Museu Fernando Namora, na sua terra natal, que contaria com a presença do Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa.

FN, um autor já visitado no âmbito da iniciativa “Escapela Literária” e certamente um escritor a (re)ler …

Texto
de
Álvaro Nunes

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