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Escapadela Literária trepou ao Alto Minho
Por António Loureiro (Professor), em 2014/06/03631 leram | 0 comentários | 194 gostam
Seguindo a tradição a EB,2,3 Gil Vicente realizou mais uma vez a sua "Escapadela Literária que este ano trepou ao Alto Minho.
Belas paisagens minhotas, etnografia, ecologia, cultura q.b., alguns laivos de história e um escritor consagrado, como pretexto para arejar, constituíram estratégias motivadoras para o agrupamento se fazer à estrada e cantar a sua disposição, pois, como diz o povo, quem canta seu mal espanta …

Com efeito, escapar, sabe-se lá a quê ou de quê (?), provavelmente à desmotivação e seus quejandos, parece ter sido a motivação maioritária dos cerca de 4 dezenas de convivas do corpo docente e paradocente do Agrupamento de Escolas Gil Vicente para terem metido pés a caminho e terras do Alto Minho, com mestre Aquilino Ribeiro (1885- 1963) por companheiro e patrono do Dia do Autor Português, que anualmente se celebra nesta Escapadela Literária, por estas bandas, no sábado mais próximo de 22 de maio.
Mestre Aquilino, que já merecera um artigo neste nosso jornal escolar, em 2013, a propósito dos 50 anos da sua morte e centenário da publicação da sua primeira obra (Jardim das Tormentas) e fora também visitado nas suas Terras do Demo (obra de 1919), no ano de 2008, especificamente na sua casa de Soutosa, Moimenta da Beira e Senhora da Lapa , seria assim revisitado e recordado na exposição patente na biblioteca homónima, em Paredes de Coura, concelho onde se implanta, na freguesia de Romarigães, a casa que lhe serviu de habitação durante o seu casamento em segundas núpcias com a filha do ex- presidente da República Bernardim Machado e que daria inspiração à escrita de “A Casa Grande de Romarigães” (1957), crónica romanceada sobre o velho solar e fidalgos Meneses e Montenegros, narrando o apogeu e decadência das casas nobres e da sociedade patriarcal e rural da época, arreigada à religiosidade e crendices.
 Foi contudo no Restaurante da Miquelina, nome da ex-pensão que remonta a 1891 e pouso habitual do escritor beirão no decurso das suas vivências minhotas, que mestre Aquilino se sentou connosco à mesa, (pois consta que também seria um bom garfo), não propriamente para degustar as trutas do Rio Coura, o rio mais truteiro do universo, mas o bacalhau à dita Miquelina, seguido de rojões à moda da casa, acompanhado de belouras.
 Consta que neste mesmo restaurante terá mestre Aquilino escrito grande parte da Casa Grande de Romarigães, na mesa ao fundo, à esquerda, junto à cozinha.
No entanto e para além das terras courenses, os visitantes tiveram ainda ensejo de apreciar, antes do almoço, o belo Palácio da Brejoeira, construção neoclássica do século XIX, em forma de L, que se estende por 30 hectares de vinha, bosque, jardins, vetusta adega , seu solar e outros espaços, nos quais sobressaem um lago artificial e uma pequena e idílica Ilha dos Amores. Outrossim, no esplendor do seu interior, realça-se o belo teatrinho, o jardim de inverno e a biblioteca onde pontificava o mobiliário em castanho e de estilo Oriental, o tecto em Boiserie e em forma de Gamela, como também todo o valioso acervo dos demais aposentos, entre os quais se destacavam sumptuosos mobiliários estilo império, pinturas, azulejaria e diversos elementos decorativos, designadamente da dinastia Ming, ou ainda o órgão da capela palatina. Do visual ao paladar, seria um salto, no espaço das ex-cavalariças, com uma prova saboreada de um frugal copo de vinho alvarinho, que só deu para dessedentar os lábios e dar de beber à dor de saber a pouco, não obstante e apenas só alguns mais apalatados a Baco ou Dionísio, à laia de despedida, se terem a venturado e rogados em escancear, antes do repasto na Miquelina.
A tarde seria mais devotada à ecologia e exercício físico, o que é sempre bom, após refeições. Deste modo, uma curta passagem pela praia fluvial do Taboão deu azo a um passeio digestivo e às recordações, ainda que com amnésias parciais, alusivas aos festivais musicais e afins de Paredes de Coura, vividos neste lugar e tempos edénicos. Seguiu-se a deslocação aos espigueiros da Eira Comunitária de Porreira, pequena freguesia onde ainda se conservam hábitos comunitários e de entreajuda entre a população e mais uma curta caminhada pelo mini-trilho local.
A finalizar o programa, a visita ao Centro de Educação e Interpretação Ambiental (CEIA) da Paisagem Protegida do Corno de Bico, que além de uma construção de raiz, integrada paisagisticamente entre árvores, recuperou as antigas instalações da escola primária e casa do professor, dotando o CEIA de cantina e camaratas, daria ainda azo a conhecer as atividades desenvolvidas localmente, nos seus espaços pedagógicos dedicados à educação ambiental, bem como a fauna e flora local, através da projeção de um belo filme alusivo, em que se destacavam os habitats de carvalho-alvarinho, bosques ripícolas e turfeiras e a importante comunidade faunística em que se salientam o lobo, a lontra, o esquilo, a truta e várias espécies de répteis e aves, designadamente de rapina.
A história da antiga Colónia Agrícola da Boalhosa, criada pela Junta de Colonização Interna de Salazar, na década de 40, nesta mesma área, propiciaria ainda ensejo a tomar conhecimento com as antigas estratégias de povoamento do Minho interior do Estado Novo.
À despedida, a caminho de Arcos de Valdevez, atravessada na pressa de chegar a casa para assistir à final da Taça dos Campeões Europeus, ainda a simpática degustação de saborosos biscoitos de milho, configurados na churreira, receita que o pessoal feminino se mobilizou a gravar para a posteridade.

Autor do texto:
Professor jubilado- Álvaro Nunes


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