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Escapadela literária . Aldeias históricas.
Por António Loureiro (Professor), em 2016/04/29742 leram | 0 comentários | 164 gostam
ESCAPADELA LITERÁRIA RECORDA CENTENÁRIOS
Dois centenários, um centrado na criação oficial do Museu Grão Vasco, em Viseu e outro no nascimento do escritor Vergílio Ferreira, em Gouveia (Melo) deram azo a mais uma Escapadela Literária, à qual se acrescentaram as visitas a duas Aldeias Históricas beirãs.
Com efeito, tendo como referência o Dia Mundial do Livro (23 de abril), criado pela UNESCO com o objetivo de promover a leitura e a publicação de livros, em memória da data da morte de Miguel Cervantes (1547-1616) e William Shakespeare (1564-1616) , 23 e 24 de abril foram os dias escolhidos para mais uma Escapadela Literária , curiosamente num ano em que se completam 400 anos do falecimento de ambos os escritores.
Ora, Viseu das janelas manuelinas das antigas casas nobres e das labirínticas ruelas estreitas, marcaram as primeiras passadas de cabeça para o ar, antes da curta pausa técnica no Café do Teatro (Teatro Viriato), em cujas paredes os azulejos se recordam ilustres dramaturgos lusíadas. Aí estavam, de facto, em nossa companhia, mestre Gil Vicente, Garrett, Camões e Raul Brandão, entre outros, saboreando connosco um revigorante cafezinho, antes da arremetida por terras dos lusitanos (esse povo que não se governa nem se deixa governar) e que Viriato comandou contra a ocupação romana. Por isso, na Cava de Viriato, houve paragem obrigatória em homenagem a este herói histórico, recordado na leitura do poema homónimo da Mensagem.

Contudo, o ponto alto da visita seria efetivamente o Museu Grão Vasco, alcançado após a subida íngreme até ao Adro da Sé, quer à boleia do funicular, quer com recurso às duas pernas que alguns por obra e graça do cálcio ainda conservam sãs, sem artroses e afins. Criado em 1916 e Instalado no Paço dos Três Escalões, o espaço tem por patrono o artista viseense Vasco Fernandes (1475-1542), o famoso “Grão Vasco”, nome de destaque na arte renascentista portuguesa. De facto, ali se encontra reunido o maior acervo do pintor, como o antigo retábulo da Sé de Viseu de que se preservam 14 painéis, representando passagens da vida de Jesus Cristo.Mas também, obras como a Adoração dos Reis Magos, A Assunção da Virgem e o painel e ex-libris S. Pedro (1530). Paralelamente estão ainda patentes no museu obras de outros discípulos do pintor, bem como diversas salas de artes decorativas, religiosa e sacra, desde o barroco ao neoclassicismo e ainda, em complemento, pinturas naturalistas e modernistas de Vieira Portuense, Domingos Sequeira, Malhoa, Columbano, bem como a famosa Senhora dos Bigodes.

Quanto à atual catedral, que remontará aos tempos do Condado Portucalense, mas que agora apresenta profundas alterações na sua estrutura e frontaria, sofridas no século XVI, daí resultando o seu aspeto tardo-gótico e maneirista, destaca-se S. Teotónio (1082-1162), no centro da sua fachada, o padroeiro da cidade, que foi o primeiro santo português e amigo do rei D. Afonso Henriques, de quem foi conselheiro.

Melo, freguesia do concelho de Gouveia e terra natal do escritor Vergílio Ferreira seria contudo o cerne desta escapadela, que costumeiramente se realiza por volta de 22 de maio, Dia do Autor Português.
Deste modo um Roteiro Vergiliano, iniciado na Biblioteca homónima, defronte ao seu busto, na qual se conserva parte do seu espólio literário, permitiu à nossa anfitriã dar-nos a conhecer um pouco melhor o escritor e a sua ligação à terra. Depois, no Museu Abel Manta, uma exposição alusiva ao autor complementaria essa cosmovisão da sua vida e obra. Porém, seria na freguesia de Melo e naquela casa defronte à montanha, onde viveu parte significativa da sua existência e que refere no romance “Aparição”, que mais se sente a emoção e ambiência telúrica dos seus livros. Um roteiro, sempre acompanhado por leituras de passagens dos seus romances-problema e diarística e que desde a casa onde nasceu, calcorreou a freguesia ruas fora por diversos lugares emblemáticos e bibliográficos, como a Igreja da Misericórdia, o Senhor do Calvário, as casas (padre, Ximenes, Queimadas, Amarela e de Trás), até desembocar no largo em que é recordado, quer no Recanto da Leitura quer nas datas inscritas no pavimento.
Folgosinho da Serra, aldeia atalaia, seria a última etapa do dia e local de jantar no restaurante Albertino , com dormida nas suas casas serranas. Terra em que a “ água e mulher, só boa se quer” , não foi contudo o precioso líquido predominante à mesa. Por isso, apenas elas (em maioria) fariam jus ao ditame.
Duas Aldeias Históricas preencheram o cardápio do segundo dia.
 Belmonte, terra de Pedro Álvares Cabral (1469-1520) e do Museu (interativo) dos Descobrimentos seria a primeira descoberta numa viagem imaginária rumo ao Brasil, vivenciada entre tempestades e a higiene do pincel, até ao encontro entre culturas e povos em porto seguro, ou nos calabouços da escravatura. Um achado, a que não faltou sequer a leitura do poema homónimo de Torga, inserido nos Poemas Ibéricos e em que terá apenas faltado a caipirinha! Mas Belmonte é também terra de fortes raízes e rituais judaicos que remontam à Idade Média e que tão bem estão documentadas no rico património do Museu Judaico. Visita que se estenderia ainda à Igreja de Santiago e sua belas pinturas murais com o panteão dos Cabrais adossado, ao castelo com a sua magnífica janela manuelina, que no século XV foi residência da família Cabral, assim como aos enchidos, requeijão com doce de abóbora e bolachas de cerveja.
Almeida , conhecida como a Estrela de Pedra pela sua praça-forte hexagonal, que na vila intramuros preserva vários edifícios de carácter militar, foi a última investida da escapadela, antes do regresso a casa. Assim, após visita à Sala de Armas, o périplo visitante conheceu ainda, o Picadeiro d’El Rey, a Casa da Roda dos Expostos (1843), as casamatas e o Museu Histórico-Militar, num percurso que relembrou o Cerco de Almeida (1810), durante a 3ª. invasão francesa comandada por Massena e outros episódios da nossa caminhada bélica e histórica.
Literatura , história , arte, gastronomia e as belas paisagens beirãs, foram as tónicas deste eclético mergulho no espaço e no tempo.

Álvaro Nunes

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