DÍZIMO DE URGEZES 2016 | ||
Por António Loureiro (Professor), em 2016/11/28 | 1060 leram | 0 comentários | 154 gostam | |
Decorre no próximo domingo, dia 4 de dezembro, a partir das 18 horas, no edifício-sede da Junta de Freguesia de Urgezes, a apresentação pública do Auto do Dízimo de Urgezes 2016. | ||
DÍZIMO DE URGEZES 2016 Decorre no próximo domingo, dia 4 de dezembro, a partir das 18 horas, no edifício-sede da Junta de Freguesia de Urgezes, a apresentação pública do Auto do Dízimo de Urgezes 2016. Restaurado em 1999 pela Junta de Freguesia de Urgezes, sob a presidência do socialista Manuel Nunes, por sugestão do Nicolino-Mor Hélder Rocha, o Dízimo ou Renda de Urgezes é certamente a Posse Nicolina mais antiga, que se tem mantido nestas duas últimas décadas. Com efeito e segundo o livro “S. Nicolau dos Estudantes” de A.L. de Carvalho, a denominada “Renda ou Dízimo de Urgezes” , de acordo com a obra “Assentos dos Arrendamentos das Igrejas, Capelas e Ermidas”, refere explicitamente num dos seus assentos: “O rendeiro de Urgezes satisfará aos Estudantes do Senhor S. Nicolau, pelo seu dia, a porção a que é obrigado com toda a boa satisfação, como é uso e costume e foi sempre”. Este assento, de que o autor não refere a data, aparece corroborado num outro de 1717 (faz 300 anos em 2017), que posteriormente concretiza: “Há uma costumeira de dar aos Coreiros em dia de S. Nicolau os frutos seguintes: 200 maçãs, ½ rasa de tremoços curtidos, meia de nozes, 2 alqueires de castanhas assadas, e duas dúzias de palha, de grandes molhos”. De facto, a Colegiada de Guimarães era proprietária da dízima (tributo correspondente à décima parte dos rendimentos) e da são-joaneira (foro que se cobrava pelo S. João) de Urgezes, cuja coleta andava arrendada a particulares por períodos de três anos e que se crê teria resultado do legado de um cónego, recolhido anualmente na Casa ou Quinta da Renda, nesta freguesia. Ora, é este legado, atualmente se realizado a 4 de dezembro, que liga também a freguesia de Urgezes às Maçãzinhas, no dia de S. Nicolau, a 6 de dezembro. De facto, como se pode (re)ler no jornal Vimaranense de 1895: “No dia imediato pela uma hora da tarde a distribuição das maçãs às damas que nas suas varandas as disputaram à porfia, e cujas toilettes vistosas imprimiam um cachet alegre e encantador a esta festa juvenil. Antes da distribuição das maçãs o Bando académico, vindo de Santo Estevão (de Urgezes) andou em comum pelo centro da cidade ostentando as suas luxuosas vestes. Era formado por 40 cavaleiros e 5 carros. Antes de se dividir pelos diversos pontos da cidade era realmente surpreendente e deslumbrante”. Efetivamente, a entrega das maçãs (Maçãzinhas), provenientes da Renda ou Dízimo de Urgezes, que se realiza no dia do patrono era, e ainda é, um dos números centrais das festas nicolinas, apesar de atualmente estas se encontrarem excessivamente assoberbados pelo Pinheiro (29 de novembro), que tem eucaliptizado os restantes números do programa festivo. Leia-se a este propósito o programa de 1899, que anunciava as festas: “ No dia 6, das onze horas para o meio dia entrará nesta cidade a triunfante cavalhada, vinda dos lados da Vaca Negra (Urgezes), pela rua de Alegria, rua de Camões, S. Francisco, circulando o pinheiro, S, Dâmaso, Senhora da Guia, Oliveira, rua da Rainha, rua de Santo António, GIL Vicente e Paio Galvão, Toural e novo círculo ao pinheiro”. Todavia, estes contratos de arrendamento, que sempre reiteram a usança do dízimo “aos coreiros e estudantes que forem à dita freguesia de Santo Estevão de Urgezes por dia de S. Nicolau” – lê-se no contrato de 1823 – seriam banidos por decreto em 30 de junho de 1832, o que motivou em 1835 uma Ação de Libelo, no Julgado de Guimarães, intentada contra o Cabido da Colegiada por parte dos estudantes e coreiros. Esta ação judicial que os estudantes e os coreiros ganhariam em primeira instância, seria contudo e posteriormente perdida no recurso apresentado pelo Cabido na Relação do Porto, que alheia ao peso das tradições vimaranenses, daria razão aos argumentos eclesiais. No entanto, não morreram as Posses nicolinas nessa altura, mas antes se alteraram, graças ao poder criativo dos estudantes. Lino Moreira da Silva, no seu livro “ A Alma e a Graça das Festas Nicolinas”, narra esse volte-face: “depois que esse legado terminou, a mesma Posse passou a ser simulada pelos Estudantes, ainda em Urgezes, durante algum tempo. Pouco depois de cessação da Posse de Urgezes, institui-se, em sua substituição a Posse dos Oleiros da Cruz de Pedra”. E outras substituições se fariam ao longo dos tempos. Deste modo, ficariam famosas as posses do Dr. Matos Chaves, das Freiras de Santa Clara, Mestre Venâncio, do Chasco ou Penafort, bem como a Posse dos Velhos no tasco dos Três Unidos, na Rua de Camões ou na Adega do Quim, em Santa Luzia. De igual modo, a da Torre dos Almadas, concedida pela AAELG/Velhos Nicolinos. Célebre ainda a Posse do Barroca e as posses do Ourado, muitas delas acompanhadas de declamações em verso, através das quais são transmitidas mensagens críticas e satíricas aos estudantes. Uma destas posses macarrónicas famosas, centradas na treta e atos bizarros (que passavam por mostrar o rabo, ou provocar os estudantes com a oferta de palha ou uma pia de porcos) é excelentemente narrada por Raúl Brandão no texto “Cucúsio”, inserido no capítulo III da obra “A Farsa”, que no próximo ano se pretende recriar em simulacro, a propósito dos 150 anos do nascimento do escritor. Recorde-se que o livro “Contos e Lendas de Urgezes”, de F. Capela Miguel, insere também uma narrativa referente às “Posses de Urgezes” Este ano, o Auto do Dízimo de Urgezes, dedicado ao engenheiro Hélder Rocha, no centenário do seu nascimento, recorda essa restauração da Renda de Urgezes. Assim, com a devida vénia, antecipamos e transcrevemos esta passagem: “ Viva pois, em boa hora Esta Posse restaurada! Faz-se jus, ao tempo d’outrora Dos Cónegos da Colegiada! Salve pois, neste dízimo O Nunes e o Hélder Rocha! Para ambos vai no mínimo Uma rufada d’ arrocha!” O resto da declamação (cerca de 90 quadras) sobre os mais variados temas e assuntos de 2016, poderão ouvi-la(s) no dia 4 de dezembro, no local e data/hora acima indicadas. Escrito por Álvaro Nunes | ||
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