DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL | |||||
Por Carla Manuela Mendes (Professora), em 2019/04/01 | 544 leram | 0 comentários | 161 gostam | ||||
A 2 de abril comemora-se o Dia Internacional do Livro Infantil, instituído pela International Board on Books for Young People (IBBY) desde 1967, coincidente com a data do nascimento de Hans Christian Andersen, autor dinamarquês de contos infantis. | |||||
De facto, tendo como objetivos fundamentais “inspirar o amor à leitura e chamar a atenção para os livros infantis”, o Dia Internacional do Livro Infantil pode ser efetivamente um bom dia de leitura. E nada melhor, neste ano de centenário do nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), do que viajar com a sua obra infanto-juvenil. Talvez entre a ilha de Vig e o Porto, através dos mares do sul e oriente, em companhia do protagonista Hans, que nesta “Saga” da obra “Histórias da Terra e do Mar”, vivencia ficcionalmente a história real do seu bisavô: “A Saga nasceu, na realidade, de uma história de família: o meu bisavô veio realmente de uma ilha da Dinamarca, embarcado à aventura e foi assim que acabou por chegar ao Porto” – confessa Sophia em entrevista concedida ao Jornal de Letras de 5 de fevereiro de 1985, cujo entrevistador acrescenta: “O mundo de infância foi assim, para Sophia, além do Porto e da Granja, das tradições nórdicas e da língua portuguesa, a luz mediterrânica (…), tornando-a uma mistura de Norte e Sul, uma mistura de Atlântico e Mediterrâneo, de um veio nórdico e de um veio helénico, que um mesmo sangue fez insuperáveis”. Ora, Atlântico e Mediterrâneo, são também os mares a sulcar na viagem entre a Dinamarca e a Terra Santa, desta feita acompanhando a romagem regeneradora do ”Cavaleiro da Dinamarca”. Uma viagem que no regresso a casa nos leva ainda a Veneza, Florença e Antuérpia, até à cavalgada final até ao lar e aos seus, na véspera da noite de Natal. Uma viagem geográfica, espiritual e de descoberta que nos transporta ao Renascimento: à riqueza e beleza de Veneza, vivenciada no amor entre Vanina e Guidobaldo; à sabedoria e cultura de Florença, e ao conhecimento de Cimbaué e Giotto, e até a descer aos infernos, acompanhados por Dante e Beatriz! Mas, também, às viagens dos descobridores portugueses, na sua rota de aventura e descoberta, em especial a sua tentativa de aproximação entre povos diferentes, como o episódio de Pêro Dias elucida: “ O negro viu-os aproximarem-se, julgou-se cercado e perdido e apontou a sua lança. Pêro Dias com a espada tentou aparar o golpe mas ambos saíram trespassados. Os portugueses saltaram do batel e correram para os corpos estendidos. Do peito do negro e do branco corriam dois fios de sangue. -Olhem – disse o moço -, o sangue deles é exatamente da mesma cor” Viagens de descoberta, que “Noite de Natal” também desvenda para além do ritual natalício. Com efeito, tal comos os Reis Magos, guiados por uma estrela, Joana e Manuel, conduzem-nos até ao encontro do verdadeiro sentido natalício e à revelação do sagrado e do seu valor simbólico: “Por exemplo, uma história como a Noite de Natal, há uma parte de aparecimento dos Reis Magos que algumas pessoas podem pensar que é fantasia, mas não é fantasia propriamente, é uma maneira de ver o Mundo, é uma maneira simbólica de dizer a realidade, porque no Mundo todos nós somos pessoas que vamos atrás de uma estrela, quer dizer, que vão atrás do ideal. Às vezes sentem-se sozinhas e perdidas, mas no meio da vida, vão encontrando outras pessoas que também vão à procura da mesma ideia, atrás da mesma estrela que ali simboliza o ideal de que se anda à procura. E por isso a estrela não é uma fantasia – é o símbolo de uma realidade” - avisa-nos Sophia, in ”As Crianças entrevistam 16 escritores”, edição da Escola Francisco Arruda. Mas agora, quando o tempo começa a aquecer, que tal uma viagem até ao mar, ainda que apenas para molhar os pezinhos?! De facto, o mar é um dos temas essenciais e obsessivos de Sophia e a ideia é simples: (re)encontrar ”A Menina do Mar”, que Sophia também conheceu na praia da Granja, onde passava as suas férias de infância: “A minha mãe disse-me que havia uma menina que vivia que vivia nas rochas … E para mim era o cúmulo da felicidade aquela vida dela, todo o dia na praia, sem horários, sem ter que voltar a casa para se vestir e almoçar, sempre no mar. “A Menina do Mar”, “Menina de sua mãe” (- Acho que o primeiro poema de Pessoa que li foi “O Menino de sua mãe”). Mais tarde, uma frase do bisavô, transmitida pela tradição familiar, vem ligar o mar e a casa, a mãe e o mundo, o mar e a mãe” – afirma Sophia na entrevista citada. De facto, foi na praia da Granja que Sophia conheceu a “menina do mar”, que antes de ser história sua, foi uma figura imaginária inventada por sua mãe. Porém, as viagens com Sophia e seus livros infanto-juvenis são imensas, todas elas aliciantes. Viagens que poderão levar-nos ao outro lado do conto de fadas, na companhia d’“A Fada Oriana”, na sua caminhada de humanização e aproximação ao real, ou até viajar através d’ “A Floresta”, guiados pela jovem Isabel “A ideia deste livro A Floresta foi duma quinta como a da minha avó, onde vivi quando era pequena. Por exemplo, aquela história do anões é porque havia umas árvores com umas raízes que se viam ao cimo da terra, e eu fazia ali casas, com musgo, pedras e canas” –in, “As Crianças entrevistam 16 escritores”. Mas, há também viagens fantásticas. Assim, podemos ainda viajar ao país da noite pela mão de Florinda e d’ “0 Rapaz de Bronze” e assistir ao fascinante baile das flores, vivas e animizadas como pessoas, em seu defeitos e virtudes: “Tudo aqui é fantástico e diferente. As flores estão vivas: caminham, falam e dançam” Várias viagens com livros e praticamente sem custos, ao teu dispor na tua biblioteca escolar ou da tua cidade Boa viagem … Texto de Álvaro Nunes | |||||
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