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COISAS E LOISAS DA EDUCAÇÃO
Por António Loureiro (Professor), em 2016/02/18615 leram | 0 comentários | 137 gostam
Novos temas e assuntos afloram de novo à liça no sector educativo. Aqui se destacam alguns, a merecer leitura e reflexão.
1. ESCOLA A TEMPO INTEIRO

A recente proposta do Governo de manter em funcionamento até às 19,30 horas todas as escolas até ao 9º. ano, oferecendo atividades extracurriculares aos alunos, de caráter facultativo, tal como já acontece no 1º. ciclo, parece merecer o apoio da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap). De facto e segundo o seu presidente “hoje os pais saem de casa cada vez mais cedo e chegam tarde. Se a escola não oferecer uma resposta, os filhos das famílias que não podem pagar atividades extracurriculares, acabam por ficar sozinhos em casa”. Por isso, esta medida é positiva” – conclui.
Porém, acrescenta que “não basta alargar o horário, é preciso investir na qualidade desse tempo . Por isso, concretiza e propõe que “esse tempo extra não deve ser de aulas”, sugerindo como exemplos de atividades o desporto escolar, bem como outras nas áreas das expressões, que colocariam a escola pública em igualdade de circunstâncias com as escolas privadas. Além disso, a Confap entende ainda que esta oferta deve ser gratuita.
A ideia pode contudo não ser implementada para já, embora tenha merecido o apoio de vários diretores e sindicatos. No entanto, o assunto está ainda em análise , prevendo-se que seja brevemente tema de auscultações futuras, designadamente quanto ao modelo a adotar Por outro lado , há que ter em conta os investimentos inerentes e necessários, quer em recursos humanos quer em espaços físicos.

2. COMPROMISSOS NA EDUCAÇÃO

Neste mês de fevereiro perfazem 20 anos que a equipa de Marçal Grilo apresentou o designado Pacto Educativo, durante um governo de António Guterres, documento que infelizmente se gorou. Hoje, esse pacto de regime em torno da educação, apesar de almejado por muitos parece cada vez mais difícil .
Ora, esta questão foi recentemente levantada na conferência “Compromissos na Educação”, por Marçal Grilo, que voltou a defender esse compromisso, embora pouco confiante na sua prossecução. P ara o feito, apontou como temas alvo desse consenso o desenho da rede escolar, o pré-escolar, a gestão e financiamento do ensino superior e a avaliação como instrumento das aprendizagens. De igual modo, acrescentou a seleção e recrutamento de professores, a racionalização da rede do ensino superior e a autonomia das universidades e politécnicos, bem como a definição de critérios para financiamento da investigação científica, transferência de conhecimento e internacionalização do ensino superior.
Vinte anos depois, a procissão ainda vai no adro …



3. TPC EM QUESTÃO

Os trabalhos para casa (TPC) parecem estar novamente em questão em muitas escolas e agrupamentos. Um caso recente é o Agrupamento de Escolas de Carcavelos, que além de permitir o uso de telemóvel na sala de aula, desde que utilizado como instrumento de trabalho e ter alterado os critérios de transição nos anos intermédio s do 2º. e 3º. ciclos, acabou com os tradicionais TPC .
Com efeito, ao garantir que os estudantes possam passar de ano independentemente do número de negativas, se o Conselho de Turma considerar que essa é a melhor opção no sentido da formação do aluno e simultaneamente pôr fim aos TPC em todos os ciclos de escolaridade , este agrupamento alterou algumas das suas práticas. Assim, quanto aos TPC , entendem que os alunos “chegam a estar na escola quase dez horas e depois chegam a casa e ainda continuam a trabalhar”. Deste modo e embora entendam que o trabalho nas aulas não chega e que o estudo em casa é necessário, não querem que o TPC “seja associado a uma obrigação ou a um castigo, como muitas vezes acontece” e por isso avançam com alternativas.
Assim, no 1º. ciclo, os alunos têm cadernos de trabalho, vistos e analisados pelos seus professores, nos quais os estudantes registam o que consideram mais interessante e no 2º. ciclo foi implementada a plataforma online de Matemática Mathvolution que apresenta exercícios agrupados por níveis de dificuldades , de modo que cada aluno possa ter desafios adequados e consiga progredir e que se assume como uma importante ferramenta de diagnóstico, mais divertida para o aluno.

4. OCDE DESAFIA PORTUGAL

O novo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) dá conta que em Portugal a retenção é o principal fator de risco na possibilidade de os alunos virem a ter maus resultados e aconselha o país a mudar a sua política.
Com efeito e de acordo com os testes PISA (Programme for International Student Assessment), realizados de três em três anos e respeitantes a 2012, o desempenho dos alunos portugueses expressa que “não têm competências mínimas necessárias para uma participação ativa e eficaz na sociedade” .
Assim, entre outras medidas, a OCDE preconiza que Portugal reveja a sua política sobre a retenção dos alunos, que continua a ser das mais elevadas da organização.”.
Em alternativa, a ideia que as escolas contam e que as políticas adotadas pelos estados são fundamentais para a mudança, mais do que o nível de desenvolvimento económico de cada país, são algumas das conclusões avançadas. Assim, de acordo com o aludido relatório “os estudantes que frequentam escolas onde os professores os apoiam mais e estão mais empenhados têm menos probabilidades de ter piores resultados”. Porém, a má notícia é que Portugal figura entre os países em que o empenho dos professores tem maior impacto.
Outrossim, uma maior autonomia de decisão sobre o currículo e as formas de avaliação são algumas “receitas” avançadas, que passariam também pela autonomia na contratação de alguns docentes. Nesse sentido se inclina também a Associação Nacional de Dirigentes Escolares, que pela voz de presidente afirma: “Infelizmente, o pecado antigo do Ministério da Educação é não confiar nas escolas. Legisla sobre tudo, desde o número de alunos por turma até ao estabelecimento de metas curriculares nacionais que são aplicadas de igual forma a alunos de Cascais ou de uma aldeia do interior” .
Portugal mantém o formato pronto a vestir …

Artigo de opinião do professor aposentado

Álvaro Nunes


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