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Centenário do nascimento de ILSE LOSA
Por António Loureiro (Professor), em 2013/06/04702 leram | 0 comentários | 136 gostam
No corrente ano de 2013 decorre o centenário do nascimento da escritora ILSE LOSA (1913-2006), autora de ascendência judaica, nascida na Alemanha.
 Texto de Álvaro Nunes
Fundamentalmente reconhecida com uma escritora ligada aos mais novos e à literatura infantil e como tal galardoada com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças, pelo conjunto da sua obra e particularmente pelo seu livro Na Quinta das Cerejeiras (1982), Ilse Losa destacou-se ainda por outras narrativas, em especial contos e romances, entre as(os) quais sobressaem o conto Silka premiado com a Maçã de Ouro da Bienal Internacional de Bratislava (1989). Prémios a que viria a acrescentar o Grande Prémio da Crónica da Associação Portuguesa de Escritores (1998) devido à sua obra de crónicas intitulada À Flor do Tempo (1997) e em 1995 a atribuição da comenda da Ordem do Infante D. Henrique.
Porém, “O Mundo em que vivi” (1949) é provavelmente a obra mais emblemática de Ilse Losa, um caso exemplar de literatura destinada a adultos, que geralmente é bem recebida pelos mais jovens e que tempos atrás era comummente abordada nas aulas (7º. ano). De cariz autobiográfico, o romance conta a vida de Rose, uma jovem judia alemã, no período compreendido entre as duas grandes guerras (1914/1918 e 1939/1945) e decurso dos horrores e perseguições nazis. Deste modo, entrecruzam-se na história temas como o racismo (a segregação dos judeus), a emigração/imigração, as relações pais/filhos, bem como subtemas como o confronto das diferentes religiões e a inutilidade e o sofrimento da guerra, pois nela “os homens podem matar-se uns aos outros sem serem castigados” .
“A valorização da dimensão humana, dos afectos (às pessoas, aos animais e às coisas), o elogio da vida, sem esconder a sua face mais austera e dura, mas valorizando os pequenos nadas que a tornam mais suave e mágica” são efetivamente as marcas das suas histórias, muitas das quais centradas na retrospetiva autobiográfica e vivências evocativas da infância e juventude doridas, ensombradas por angústias e a crueza da realidade, tantas vezes desfasadas dos sonhos. Narrativas que em linguagem simples e imediata nos comovem e que segundo Óscar Lopes “ são uma odisseia interior de uma demanda infindável da pátria, do lar, dos céus a que uma experiência vivida só responde com uma multiplicidade de mundos que tanto atraem como repelem e que todos entre si se repelem”.
Mas, para além da literatura, Losa dedicou-se também ao jornalismo e à tradução. Deste modo, são inúmeros os seus textos de colaboração periódica em vários jornais e revistas portuguesas e alemães, entre as quais Seara Nova, Vértice e Colóquio Letras, bem como as suas traduções de consagrados autores como Brecht, Andersen e de vários escritores portugueses.
Nesta altura em que comemora o centenário do seu nascimento, Ilse Losa lega-nos acima de tudo uma extensa obra narrativa de mais de 30 obras a (re)ler, entre a qual, para além dos títulos aludidos, se destacam títulos como Sob Céus Estranhos (1962), Caminhos sem Destino (1991), “Aqui havia uma casa” (1955), o poema em prosa O Senhor Leopardo (1987) e ainda textos dramáticos como A Adivinha (1967) e O Príncipe Nabo (1978).

Álvaro Nunes


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