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CAMINHOS DE SANTIAGO
Por António Loureiro (Professor), em 2017/03/20780 leram | 0 comentários | 167 gostam
Longos quilómetros de beleza e cultura, numa peregrinação de prazer, como expiação dos dolorosos dias de trabalho, levaram os romeiros vicentinos a Espanha.
Longos quilómetros de beleza e cultura, numa peregrinação de prazer, como expiação dos dolorosos dias de trabalho, levaram os romeiros vicentinos a Espanha, nesta pausa carnavalesca, rodando pelos caminhos de Santiago da modernidade: as autopistas ibéricas.

De facto, guiados pelos modernos instrumentos tecnológicos, em detrimento das conchas das vieiras , Burgos, na província homónima e comunidade autónoma de Castela e Leão, seria a primeira visita da caminhada, após breves paragens técnicas e fisiológicas e repasto no Rey Arturo.

Fundada em 884 e terra de El Cid, o Campeador, a cidade banhada pelo rio Arlanzón e ponto estratégico de passagem do Caminho de Santiago, possui fundamentalmente na sua catedral, declarada Património da Humanidade em 1984, o seu ex-libris. Monumento poderoso e autêntica maravilha da arte gótica espanhola, cuja construção remonta a 1221, inspirada em modelos franceses e na tradição germânica, a catedral é de facto um monumento singular e imponente, dedicado a Santa Maria Mayor, padroeira da cidade.
Com efeito, situada no denominado “casco viejo” da cidade, ao qual acedemos pelo histórico Arco de Santa Maria da velha muralha medieval, a catedral além da sua beleza exterior possui interiormente um rico acervo monumental em que sobressaem o retábulo principal, as suas capelas, designadamente a Capela do Condestável, a Escada Dourada, o majestoso zimbório e os sepulcros de Rodrigo Diaz de Vilar (El Cid) e sua esposa Jimena, entre outros espaços “guapos”.

A tarde proporcionaria ainda ensejo a assistir aos folguedos carnavalescos locais e passeio livre pelo centro histórico, com passagem imprevista pela Casa dos Gigantillos, espaço situado debaixo do teatro isabelino local, que alberga gigantones diversos ligados às tradições burgalesas.

E na terra de Cid, nada melhor que um saboroso jantar e uma repousante noite no Hotel Mesón del Cid, seguido de um pequeno almoço variado, para retemperar forças para a etapa seguinte.
Vale?!

O Museu da Evolução Humana (MEH), um moderno e funcional edifício inaugurado em 2010, constituiu a primeira paragem do segundo dia da viagem, antes da partida para Bilbau. Dividido em quatro pisos ou “fábricas”, este educativo museu levou-nos a viajar ao longo do tempo e do espaço, desde os tempos primitivos da humanidade até às atuais tecnologias, iniciadas pelo fogo.
Com efeito, desde a exposição dos restos encontrados na Serra de Atapuerca até à evolução biológica, cultural e dos ecossistemas humanos, o museu faculta através das suas reproduções, recriações e suportes vídeo-digitais, uma visão diacrónica da humanidade, que logo no exterior, a propósito do grupo escultório “Caminho da Evolução” despoletaria sensuais desejos de interatividade, que estão na origem da espécie humana.


Bilbau, ou seja Bilbao em espanhol e Bilbo na língua basca (ou euskera), capital do País Basco, tinha no Museu Guggenheim o cerne da visita. Arquitetado por Frank Ghery e aberto ao público em 1997, o museu, que anualmente recebe mais de um milhão de visitantes, é sem sombras de dúvidas um fulcral motor da economia bilbaína, após os velhos tempos seiscentistas de exportação da lã e do ferro e da crise da indústria metalúrgica da então conhecida “Cidade do Ferro”, no século passado.

Quanto ao museu, cujas linhas arquitetónicas modernas se assemelham a um barco que parece navegar a ria de Bilbau, homenageando a cidade portuária, é indubitavelmente um belíssimo edifício cosmopolita de vidro, ferro e pedra calcária, revestido de titânio curvado em vários pontos, que lembram escamas de peixe.
Uma empolgante construção com um átrio central de 50 metros de altura, em forma de flor curvilínea, servido por luminosas passarelas ao longo dos seus três níveis e das suas 19 galerias.
Quanto ao seu espólio, destacam-se a exposição permanente “A Matéria do Tempo”, constituída por enormes esculturas metálicas de Richard Serra que desafiam a lei da gravidade e ocupam a grande galeria, as obras de Anselme Kiefer, Gerhard Richter,Yves Klein, Andy Warhol, bem como peças artísticas do expressionismo abstrato americano, como Jackson Pollock, entre outros.
Exteriormente pontuam ainda espetaculares esculturas como o aracnídeo “Mamá”, de Louise Bourgeois, o simpático terrier floral “Puppy” e as coloridas “Tulipanes”, ambas de Jeff Koons.
   

Um jantar de pinchos (pintxos, em basco), antecedido de um passeio pela cidade, terminaria o segundo dia, com o recolher obrigatório ao Petit Palace Arana até à matina seguinte, hora (espanhola) de abalada para o território lionês e posterior regresso a casa, em módulo discoteca ambulante.
Vale!

Leão, a velha cidade de Léon entre os espanhóis e Lión em lionês, na confluência dos rios Bernesga e Torio, marcou o último dia de rodagem, recebendo-nos com chuviscos e frio, já anteriormente indiciados nos picos nevados de algumas montanhas. Aqui, em antigas terras romanas ocupadas militarmente pela 7ª. Legião no século I a.C. , cujas muralhas ainda se conservam em alguns troços citadinos e capital do reino de Leão desde 914, a catedral gótica, a Basílica de Santo Isidoro e os palácios locais constituíram os principais pontos de interesse da ancestral urbe.
 
De facto, a catedral de Leão iniciada no século XIII sobre antigas termas romanas e palácio real de Ordonho II, é (mais) um belo monumento em estilo gótico clássico de influências francesas. Nela destacam-se a sua fachada principal, com tímpanos e frisos profusamente decorados e no seu interior o altar-mor e as suas capelas, como a Capela da Virgem Branca, mas acima de tudo os estupendos vitrais policromáticos que ocupam mais de 1600 metros quadrados de superfície.

Quanto à Basílica de Santo Isidoro, disposta em cruz latina com três naves, onde se instala o panteão real e as relíquias do seu orago, trazidas especialmente de Sevilha no século XI, constitui um emblemático monumento do Caminho de Santiago e um dos conjuntos românicos mais importantes e grandiosos de Espanha.

Já nos seus palácios merecem especial referência a Casa de Botinas (1892-1894), edifício neogótico do arquiteto catalão Antoni Gaudi, bem como o contíguo Palácio dos Gusmanes, em estilo plateresco.

E como não só de trabalho vive o homem, valeram a pena estes três dias de cansado descanso por terras vizinhas de “nuestros hermanos”! Ainda que parcos em compras no Corte Inglês …
Vale!?

Texto escrito por,
Álvaro Nunes

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