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600 ANOS DA CONQUISTA DE CEUTA
Por António Loureiro (Professor), em 2015/06/12991 leram | 0 comentários | 164 gostam
A conquista de Ceuta, que marca o início da expansão portuguesa, em 1415 e se encontra ligada às lendas das duas caras, em Guimarães, “Senhora de África” e às tripas à moda do Porto, ocorreu há 600 anos.
Passam no próximo dia 22 de Agosto 600 anos sobre a tomada de Ceuta, que marca o início da expansão portuguesa, sob as ordens do rei D. João I e do seu filho, Infante D. Henrique. Uma conquista que para além do seu significado histórico se encontra também ligada ao imaginário lendário nacional e local.
De facto Ceuta marca o início de uma era. Com efeito, dada a sua posição geográfica que permitia o controle da entrada do tráfego marítimo entre o Atlântico e o Mediterrâneo e com o objetivo de proteger a costa algarvia de sucessivos ataques piratas oriundos de Ceuta, bem como evidenciar a importância do reino de Portugal no quadro das monarquias ibéricas, a praça marroquina era para a coroa portuguesa uma apetecível conquista geoestratégica. Por outro lado, a cidade era um importante entreposto comercial de produtos orientais provenientes das rotas das caravanas, como o ouro e as especiarias e área fértil e desejável para o cultivo de cereais, filões que as classes sociais portuguesas ansiavam: a burguesia para obtenção de novos produtos e mercados; a nobreza na busca de novas terras, honras e rendas. Mas também desejável pelo próprio clero, que ansiava a expansão da fé cristã.
Ceuta foi contudo um fracasso até sua perda para Espanha, em 1645. Com efeito, os muçulmanos acabaram por desviar as rotas comerciais para outras localidades, as constantes guerras comprometeram o cultivo de cereais e as elevadas despesas militares necessárias à sua manutenção, agravados por problemas logísticos (fornecimento de suprimentos, armas e munições) acabariam por tornar Ceuta “um grande sorvedouro de gente e dinheiro”, como o reconhece o Infante D. Pedro em carta dirigida a seu irmão. Ademais a maioria dos soldados era recrutada à força para a defesa de Ceuta, recorrendo-se frequentemente a condenados para manter a sua guarnição. Recorde-se que o próprio Luís de Camões esteve em Ceuta, supostamente devido a condenação, tendo perdido o seu olho direito em combate, nessas paragens, concretamente no decurso de uma batalha naval no Estreito de Gibraltar. Ceuta é mesmo referida no canto IV da obra “Os Lusíadas” (estrofe 52), a propósito do cativeiro do Infante D. Fernando.
A “Crónica da Tomada de Ceuta por El-rei D. João I” de Gomes Eanes de Zurara (1410-1474) narra historicamente essa conquista, que as lendas efabulam e perpetuam. De facto, Ceuta está ligada à “Lenda da Senhora de África”, em como ao soneto intitulado “Nossa Senhora de Africa” de António Sardinha, mas acima de tudo a duas lendas mais conhecidas: a “Lenda das duas caras” de Guimarães” e “Lenda dos Tripeiros”. Deixamos aqui duas versões dessas lendas:
Corria o ano de 1415, mais precisamente em 25 de Julho, quando cerca de 20 mil cavaleiros e soldados portugueses embarcaram em Lisboa em 212 navios, rumo a Ceuta, uma importante cidade muçulmana no norte de África. Após escala em Lagos , a armada portuguesa chegou a esta praça marroquina em 21 de Agosto, comandada pelo próprio rei D. João I, que se fazia acompanhar de D. Nuno Alvares Pereira , seus filhos e príncipes D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique e influentes nobres portugueses como os duques de Coimbra e Viseu.
Na manhã de 22 de Agosto Ceuta estava conquistada pelos portugueses. Nesse mesmo dia foi acertada a defesa da muralha, prevenindo-se contra-ataques dos muçulmanos. Coube às tropas de Guimarães e Barcelos defender certas partes ou frentes das muralhas, na altura chamadas caras de combate. Ora, num dos ataques dos muçulmanos as hostes de Barcelos desprotegeram as suas posições, obrigando os vimaranenses a desdobrarem-se e lutarem em duas frentes ou caras no combate ao inimigo. Ficaram assim conhecidos pela sua bravura como homens de duas caras, comportando-se como verdadeiros conquistadores como fora o seu primeiro rei D. Afonso Henriques.
Deste modo, o rei D. João I elogiou a coragem dos vimaranenses e castigou os barcelenses, que nas vésperas dos dias festivos em Guimarães passaram a ser obrigados a varrer as ruas da cidade vestidos com um barrete vermelho na cabeça e um pé descalço e outro calçado.
Portanto, a estátua de duas caras que se encontra nos antigos Paços do Concelho, entre o Largo da Oliveira e a atual Praça de S. Tiago, recorda essa coragem dos vimaranenses e não a sua duplicidade de carácter, como por vezes alguns insinuam.

Nas margens do rio Douro, em 1415, construíam-se os barcos e as naus que haveriam de levar os portugueses à conquista de Ceuta e, mais tarde, à epopeia dos Descobrimentos. A razão de todo este empreendimento era secreta mas os boatos nos estaleiros eram muitos…uns diziam que as embarcações seriam para levar D. João I a Jerusalém para visitar o Santo Sepulcro enquanto outros diziam que seriam para transportar a Infanta D. Helena a Inglaterra para lá se casar. No entanto havia quem afirmasse, a pés juntos, que o empreendimento se destinava a levar D. Pedro e D. Henrique a Nápoles para ali se casarem …
Até que o Infante D. Henrique, ao visitar o andamento dos trabalhos, acabou por confidenciar ao mestre Vaz (fiel encarregado da construção) as verdadeiras e secretas razões: a conquista de Ceuta. Assim pediu ao encarregado e a seus homens mais sacrifício e empenho. O mestre Vaz respondeu que fariam o mesmo que tinham feito, há 30 anos atrás, na guerra de Castela – que iriam ceder toda a carne da cidade e que a população ficaria só com as tripas.
Assim, as embarcações levaram todas as carnes existentes na cidade e para a população restaram apenas as miudezas para confecionar, incluindo as tripas. A necessidade de cozinhar com o que havia sobrado, misturado com a imaginação do povo deu então origem à receita das tripas à moda do porto.
E assim, para sempre, ficariam conhecidos como “tripeiros”.


Texto escrito pelo Professor Aposentado

Álvaro Nunes


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