24 DE JUNHO – DIA UM DE PORTUGAL | |
Por Conceição Páscoa (Professora), em 2020/06/18 | 1115 leram | 0 comentários | 527 gostam |
O dia 24 de junho, em 1128, assinala a Batalha de S. Mamede, considerado o DIA UM DE PORTUGAL ou “A Primeira Tarde Portuguesa”, na perspetiva do historiador José Mattoso. | |
Um dia recordado na nossa História para todo o sempre, que se encontra também evocado numa pintura mural no edifício da Assembleia da República, em Lisboa, de autoria do artista Acácio Lino, datada de 1922 e cantado na obra “Os Lusíadas” de Luís de Camões, como se constata pela leitura da estrofe 31 do canto III: “De Guimarães o campo se tingia Co sangue próprio de intestina guerra, Onde a mãe, que tão pouco o parecia Ao seu filho negava amor e terra. Co ela posta em campo já se via, E não vê o soberano o mito que erra Contra Deus, contra o maternal amor, Mas nela o sensual era maior”. Ora o 24 de Junho é feriado municipal no concelho de Guimarães, desde 1974, embora em 1928 já tivessem ocorrido na cidade celebrações desse dia. Uma data importante na fundação da nacionalidade, que marca a vitória de D. Afonso Henriques e seus barões portucalenses contra as tropas do conde galego Fernão Peres de Trava, que se tentava apoderar do governo do Condado Portucalense, com a conivência de Dª. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques. Uma data que também é recordada na placa evocativa colocada no Campo da Ataca, na freguesia de Aldão, no vale de S. Torcato: “Neste terreno – sugestivamente chamado pela população “Campo da Ataca”- , teve lugar, segundo a tradição, o início da Batalha de S. Mamede, de que saiu vitorioso D. Afonso Henriques, nosso primeiro rei, em 24 de junho de 1128. Esta data é considerada, por muitos historiadores, como “O Dia 1 de Portugal”. Com efeito, este é também o sentido de Alexandre Herculano, que no capítulo I da obra “O Bobo”, escreve: “Se na batalha do Campo de S. Mamede, em que D. Afonso Henriques arrancou definitivamente o poder das, mãos de sua mãe, ou antes do conde Trava, a sorte das armas lhe houvera sido adversa, constituiríamos provavelmente hoje uma província de Espanha”- No entanto, alguns outros historiadores apontam diferentes datas significativas para a afirmação da nacionalidade: - 25 de julho de 1139, data da Batalha de Ourique, na sequência da qual D. Afonso Henriques se proclamou rei de Portugal; - 5 de outubro de 1143, data da assinatura do Tratado de Zamora, pelo qual Afonso VII , rei de Leão e Castela, reconhece a independência de Portugal; - 23 de maio de 1179, data da bula papal “Manifestis Probatum”, de Alexandre III, que reconheceria Portugal como país independente. Mas, com o devido respeito pelas demais opiniões “aqui nasceu Portugal” a 24 de Junho e o resto são fases da vida, após o nascimento, que ao longo da sua gestação teve acontecimentos importantes. Aluda-se por exemplo o Cerco de Guimarães, no outono de 1127, que o citado historiador José Mattoso na sua obra “D. Afonso Henriques” referencia: “ O episódio do cerco de Guimarães tem um significado muito importante. Em primeiro lugar porque representa a primeira confrontação dos nobres de Entre Douro e Minho com o rei de Castela (..) Em segundo lugar significa que, a partir dali, o infante passou a desempenhar um papel preponderante na evolução dos acontecimentos do condado. Em terceiro lugar, verifica-se que o problema da relação política do condado com o rei de Leão ficava, na prática, suspenso, pelo facto de a submissão vassálica ter sido prestada por quem não tinha autoridade para o fazer (Egas Moniz), mas a sua aceitação nestas condições significa também que Afonso VII se contentou com uma solução que salva a honra das partes, mas não resolvia o problema de fundo” Um acontecimento que é também narrado na estrofe 35 do canto III, da obra “Os Lusíadas”, de Luís de Camões: Não passa muito tempo, quando o forte Príncipe em Guimarães está cercado De infinito poder, que desta sorte Foi refazer-se o inimigo magoado. Mas, com se oferecer à dura morte O fiel Egas amo, foi livrado, Que de outra arte, pudera ser perdido Segundo estava mal apercebido”. Acontecimentos ora reais ora lendários, que marcam o nosso início, como é o caso da lenda de Ega Moniz. De facto, segundo a lenda, Egas Moniz ter-se-á apresentado com a família perante o rei Afonso VII, com uma corda à volta do pescoço, para que o monarca pudesse fazer justiça face à impossibilidade de não manter a sua palavra de vassalagem, mostrando assim o valor da lealdade e honra lusitana. Porém, segundo alguns, este episódio será apenas lendário, decorrente da obra “Gesta de Egas Moniz”, do trovador da corte de D. Afonso III, de nome João Soares Coelho. Factos, lendas e recriações que se cruzam nos nossos inícios e sobre cuja data e protagonistas vos deixo estes versos do “Bobo Bibinhas”, rubrica que em tempos redigi para a revista infanto-juvenil “Bairro Afonsino”: DIA UM DE PORTUGAL Neste Dia Um de Portugal 24 de Junho, de heroicidade, Em 1128 embalou-se sem igual O berço da nacionalidade. A Primeira Tarde Portuguesa Por Acácio Lino pintada Em mural de força e beleza No Parlamento é recordada Contra a mãe e o conde galego Fernão Peres de Trava chamado D. Afonso Henriques com apego Venceu a luta pelo seu Condado. Luta em armas no Campo da Ataca Selada em Ourique e Zamora E que a Manifestis Probatum destaca Como uma nova nação que vigora. D. AFONSO HENRIQUES Para que fique bem contado Com todo o seu esplendor Nasceu aqui no Condado Nosso rei conquistador Filho do Conde D. Henrique E da mãe Dona Teresa De S. Mamede a Ourique Mostrou nobreza e grandeza! Contra a mãe e o seu primo Contra mouros e castelhanos Com os Cruzados por arrimo Honrou a coroa dos lusitanos Desde Lisboa a Zamora Sempre a lutar e vencer D. Afonso fez a hora Deste Portugal a nascer Texto de Álvaro Nunes | |
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