21 DE MARÇO, DIA MUNDIAL DA POESIA | |
Por António Loureiro (Professor), em 2015/05/04 | 583 leram | 0 comentários | 158 gostam |
Comemora-se a 21 de Março o Dia Mundial da Poesia, que este ano o Plano Nacional de Leitura dedica a Cesário Verde (1855-1886), o poeta deambulatório do espaço e da memória e o pintor nascido poeta já lá vão 130 anos. | |
De facto, num ano em que a poesia está na ribalta, basta recordar os 50 anos da obra “Praça da Canção” de Manuel Alegre, bem como o centenário da revista Orpheu, na qual poetas como Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro colaboraram ativamente, mudando para sempre a literatura portuguesa, homenagear os poetas e dar-lhes voz nesse dia ou qualquer outro, quer através da leitura, recitação ou declamação das suas obras, quer pelo canto dos seus poemas e/ou outras iniciativas diversas (conferências, espetáculos, feira do livro de poesia, etc) é não só necessário e oportuno como também revigorante e saudável, nestes tempos difíceis em que faz falta uma certa dose de poesia. Aliás, recorde-se também que no ano passado se comemoraram os 80 da obra Mensagem, de Fernando Pessoa e os 90 anos do nascimento do poeta António Ramos Rosa, pelo que a poesia está viva e na ordem do dia. Tida como arte baseada na linguagem humana que expressa um certo estado da mente, a poesia ou género lírico é uma das sete artes tradicionais, plausivelmente anterior à escrita. Comemorar a poesia é portanto celebrar a própria vida na plenitude de todos os sentimentos e emoções que ela nos transmite. “Suprema forma de beleza” na perspetiva de Mallarmé, “pensamento musical” na opinião de Carlyle, ou “criação rítmica da beleza” de acordo com o ponto de vista de Edgar Allan Poe, a poesia é ou poder ser definida (se é que pode ser definida) de forma multifacetada e polissémica. Respiguemos algumas: - “A poesia é a arte de comunicar a emoção humana pelo verbo musical” (René Waltz) - “A poesia é a expressão natural dos mais violentos de emoção pessoal” (J. Middleton Murry) - “A poesia é o extravasar espontâneo de poderosos sentimentos” (F. Novalis) - “A poesia é uma religião sem esperança” (Jean Cocteau) - “Poesia são pensamentos que respiram e palavras que queimam” (Thomas Gray) - “Poesia é voar fora da asa” (Manoel Barros) - “A poesia é a música do sentimento; o canto, a música da palavra” (Montegazza) - “A poesia é uma comunicação por intermédio da beleza” (R. Zorrilla) - “A poesia não tem presente: ou é esperança ou saudade” (Camilo Castelo Branco) - “A poesia é uma arma carregada de futuro” (Gabriel Celaya) - “ A poesia (…) é por essência um contrapoder. A poesia é um pacto com a inquietação” (José Jorge Letria) Contudo, melhor ainda será a tentativa de definição da poesia pelos próprios poetas e pelos seus poemas: “Que é a Poesia? uma ilha cercada de palavras por todos os lados. Que é o Poeta? um homem que trabalha o poema com o suor do seu rosto. Um homem que tem fome como qualquer outro homem. (Cassiano Ricardo) Meditando com a cabeça entre as mãos andando longe, longe, com o Pensamento Nas coisas infinitas. O Poeta Dorme a sono solto. Sonha com as coisas mais bonitas. (Sebastião da Gama) São assim os poetas: Dão o pino no inverno Versos na primavera. A razão? Talvez seja Que neles o coração Mesmo velho viceja. (Miguel Torga) Os meus versos o que são? Devem ser, se os não confundo, Pedaços do coração Que deixo cá neste mundo. (António Aleixo) Todo o tempo é de poesia. Desde a névoa da manhã À névoa do outro dia Todo o tempo é de poesia. Desde a quentura do ventre À frigidez da agonia Todo o tempo é de poesia. Entre bombas que deflagram Corolas que se desdobram Corpos que em sangue soçobram Vidas que a amar se consagram Sob a cúpula sombria Das mãos que pedem vingança Sob o arco da aliança Da celeste agonia Todo o tempo é de poesia. Desde a arrumação do caos À Confusão da harmonia. (António Gedeão) A poesia não vai à missa, não obedece ao sino da paróquia prefere atiçar os seus cães às pernas de deus e dos cobradores de impostos. Língua de fogo do não, caminho estreito e surdo da abdicação, a poesia é uma espécie de animal no escuro recusando a mão que o chama. Animal solitário, às vezes Irónico, às vezes amável, quase sempre paciente e sem piedade. A poesia adora andar descalça nas areias de verão (Eugénio de Andrade) Como diz Irina Bokova, diretora-geral da UNESCO, na sua mensagem alusiva à efeméride, da qual retiramos alguns excertos: “este é o poder da poesia. É o poder da imaginação para iluminar a realidade, para inspirar os nossos pensamentos com algo mais criativo do que o desânimo. A poesia é a música humana universal, que expressa a aspiração de cada mulher e de cada homem de compreender o mundo e compartilhar esse conhecimento com os outros, por meio do arranjo de palavras em ritmo e métrica. Talvez não haja nada mais delicado do que um poema e, apesar disso, ele expressa todo o poder da mente humana e, por isso, não há nada mais resiliente. A poesia é a expressão íntima que abre as portas para os outros, enriquecendo o diálogo que catalisa o progresso humano, enaltecendo culturas e relembrando a todas as pessoas do destino que eles têm em comum. Dessa forma, a poesia é a expressão fundamental da paz”. De facto, “todo o tempo é de poesia” , porém “o poeta é um fingidor”, como diz Pessoa. Contudo “Ser poeta é ser mais alto, é ser maior/Do que os homens! Morder como quem beija”, como Luís Represas canta, com versos de Florbela Espanca. VIVA A POESIA … | |
Comentários | |