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200 ANOS DE PREGÕES NICOLINOS- (parte III)
Por António Loureiro (Professor), em 2017/10/23697 leram | 0 comentários | 173 gostam
Nos 17 pregões escritos neste século XXI surgem novos autores e, a par das temáticas tradicionais, alarga-se também o seu teor, com mais pertinência, à política nacional e internacional.
Nos 17 pregões escritos neste século XXI surgem novos autores e, a par das temáticas tradicionais, alarga-se também o seu teor, com mais pertinência, à política nacional e internacional, ainda que continuem predominantes os temas relacionados com a vida da cidade.
De facto é o pulsar da urbe, nos seus avanços, recuos e anseios que os pregões documentam, apesar da crise social, emigração e desemprego.
“ Não queremos a troco duns trocados
Dum Bruxelas Café sermos criados …” – escreve A. Meireles Graça no Pregão de 2000, cujo tema volta a glosar em 2005, apontando o dedo acusador aos políticos:
“Ó Guterres fatal, por que fugiste?
E tu Durão, também a dar à sola?
Sabemos que na fuga prevenistes
Deixar ao nosso povo a dura esmola”.
E adiante:
“ Os frutos aí estão: no desemprego
A juventude vai desesperada
E o reformado em desassossego
Vê a magra reforma amputada …
Vê a saúde a fugir-lhe esquiva …
Vê o Ensino e a Justiça inerte
Sem esperança sequer de que reviva
Novo sonho de Abril que o desperte!”

Tónica que é prosseguida em 2015 por Pinto Machado e Paulo César Gonçalves:
“Está difícil a nova vida,
querem-nos (a todos) daqui para fora;
Digo-vos, com raiva incontida,
Quero um novo “Tratado de Zamora”
São os mercados e é a “troika”
mais a classe política paranóica”.

Porém, Guimarães no seu progresso e sua vida (como na letra do hino vimaranense), é toda a aspiração Nicolina, embora em oposição aos modelos vizinhos:
“ Ouça pois, Presidente, esta verdade
Não roube as nossas marcas à cidade!
Não pretenda imitar santos de Braga
Se o fizer mais certamente estraga” – lê-se no pregão de 2000 de Meireles Graça.

Estrago que Rui Teixeira e Melo denuncia no caso do parque subterrâneo da Mumadona, no pregão de 2004:
“Lá buscaram arqueólogos achados
No fim descobriram estarem enganados
Há alguns meses a Mumadona cercada
Já me parecia triste e acabrunhada
Um grande parque lá vão construir”
Subterrâneo, não vá o carro fugir.
Quem foi o autor da ideia aziaga?
Querem pôr Guimarães igualzinha a Braga?”

Mas, nos pregões destas duas últimas sobressaem sobretudo as conquistas, como Rui Teixeira e Melo canta no pregão de 2001:
“No mapa judicial um posto ocupamos
Há nova obra que todos nos orgulhamos
Nos Coutos já terminaram as obras em curso
No Largo de João Franco se decide o recurso.
Dói-te de inveja, Bracarense! Nós vencemos
A Relação já cá canta, bem a merecemos”.

Conquistas a que se somam a consagração do Centro Histórico como Património Cultural da Humanidade:
“Meus caros conterrâneos, nem tudo é sombrio
Guimarães encher-se-á de todo o seu brio
Pois será galardoada já este Dezembro”.

E/ou ainda com a construção do multiusos:
“Ergueu Magalhães um majestoso pavilhão
A malta lá o correu em grosso turbilhão
Diz quem lá entrou que é uma maravilha
É espaçoso, bonito, à noite até brilha”.

E outrossim, as conquistas desportistas.
 Deste modo, sob a pena de Rui Teixeira e Melo assoma o Euro-2004 em Guimarães:
“O delírio chegou já alto Junho ia
O povo se juntou em grande euforia
E mesclando-nos com esses dinamarqueses
De sua simpatia ficamos fregueses”.

Conquistas que, em 2013, João Manuel Santoalha destaca na conquista da Taça de Portugal pelo Vitória, no ano em que o burgo foi Cidade Europeia do Desporto e no qual vários atletas vimaranenses mostraram o seu valor:
“Allez” Vitória, és grande e único
Desde vinte e dois a fazer história,
Fundado por um grupo académico
Conquistamos a taça e a glória,
Tanto no futebol como no basquete”
(…)
“Porém foi como melhor distinguida
A Cidade Europeia do Desporto,
Pela Federação atribuída
Condecoração para nosso conforto.”
(…)


“Assim como o tenista João Sousa
Após vitória no ATP
Em Kuala Lumpur suou sua blusa
E sem quaisquer apoios, mas porquê?”

E que posteriormente, no Pregão de 2012, se retoma:
“A Dulce Félix ganhou o ouro
Nos dez mil metros em atletismo
No campeonato suou o couro
Isso sim são actos de heroísmo”

No entanto, no pregão desse ano de 2012 sobressai acima de tudo a atribuição à cidade do galardão da Capital Europeia da Cultura:
“Ó Guimarães! Cidade da Cultura
 Capital Europeia memorável
A teus pés, ontem reis em curvatura
Hoje tua fama é incontornável!”

E obviamente, realçam-se as muitas das obras dessa altura, como a Plataforma de Artes e as novas funcionalidades do Teatro Jordão, estas últimas ainda parcialmente adiadas:
“No Mercado puseram a cultura,
A máxima obra da Capital,
Ganhou um prémio de arquitectura
É Plataforma dos dons afinal …
(…)
“Assim como o Teatro Jordão
Um curso teatral abrirá
Vão ser só artistas aqui então
Que esta Capital descobrirá”.

O progresso de Guimarães é de facto, diacronicamente, a par das críticas pontuais, a marca dos pregões recentes:
“Palácio Vila Flor recuperado
Bem pode ser o Centro da Cultura
Se for aberto o Povo e ao Povo dado
Como espaço de Ser e da Procura!” – pregão de 2005.
(…)
“Do Cosme a obra feita lá na Penha
Só peca no cimento assim à vista
Mas esperemos nós que a hora venha
No retoque da nódoa paisagista” ” – numa alusão ao teleférico no pregão de 2005, já abordado em anos precedentes.
 
O presente e até o futuro surge nos novos autores dos pregões de 2014 a 2016, como Manuel José Pinto Machado e Paulo César Gonçalves:



“As Gualterianas foram para a Costa
(é, bem o sabeis, ideia peregrina)
E, se procurardes por uma resposta
(ela) surgir-vos-á, quase repentina:
A Festa da Cidade, agora proposta,
É aquela feira … a Afonsina” – lê-se no pregão de 2016.
(…)
“Ó Menina dos olhos meus: que teia;
Não me digas, há “homens-aranha?
Seres, em 2020, Capital Verde Europeia?
De cobra? Não, é de sardão a banha;
O Ave, o trânsito,e, ouve, ó Plateia:
A EcoIbera … seria façanha…
Não vejas isto como um ataque
mas … o património é da Robbialac?”

Estaremos atentos, nos pregões de 2020 e da próxima década a essas novas façanhas e retrocessos…

 


Texto escrito por,

Professor Álvaro Nunes


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