125 ANOS DA MORTE DE CAMILO | |
Por António Loureiro (Professor), em 2015/07/15 | 588 leram | 0 comentários | 155 gostam |
Em 2015 passam 125 anos da morte de Camilo Castelo Branco (1825-1890). Recordar a sua obra, em especial “Novelas do Minho”. | |
Em 2015 passam 125 anos da morte de Camilo Castelo Branco (1825-1890). Recordar a sua obra, em especial “Novelas do Minho”, bem como a sua amizade com o vimaranense Martins Sarmento e as suas ligações a Guimarães, seria uma boa homenagem. Apesar de ter nascido em Lisboa, foi o norte que Camilo escolheu para viver e para cenário da maior parte da sua obra ficcional, cuja tessitura narrativa nos conta emotivas histórias de amores contrariados, raptos, vinganças e tragédias. Mas o escritor, tal como as suas personagens, foi também um homem de paixões fortes, constituindo a sua própria vida uma novela passional, que entre várias e dolorosas vicissitudes o levou a experienciar a prisão por adultério na Cadeia da Relação do Porto, vários amores, más relações com os filhos, a cegueira e finalmente o suicídio na casa de São Miguel de Seide, em Famalicão, local onde viveu com Ana Plácido, o seu amor de perdição, após absolvição do crime de adultério e morte do seu marido e rico negociante Pinheiro Alves. Ora, Guimarães surge frequentemente na obra camiliana, em especial durante o período em que Camilo andou perseguido pela justiça e recebeu acolhimento de Martins Sarmento. Em “Memórias do Cárcere”, obra escrita no decurso da sua prisão, Camilo evoca no seu Discurso Preliminar alguns desses momentos vividos na cidade-berço:“saí do Porto e fui a Guimarães não sei para quê, nem com que destino (…) Vi lá em baixo, o berço da monarquia, a faustosa cidade que teve academia de sábio, que rivalizam com as mais graduadas, em seu tempo, na capital. Nada me lembrou de Guimarães senão que ali haveria um leito onde eu encostasse a cabeça esvaída em febre. Nem sequer me ocorreu que as mais lindas mulheres, que um viajante francês encontrara na península, eram de Guimarães”. E um pouco adiante, sobre a sua relação de amizade com Francisco Martins Sarmento: “ não vi onde encostar a cabeça febril, e lembrou-me que tinha ali um conhecido, um poeta, um homem de existência amargurada. Procurei o conhecido, e achei um amigo, como usam raramente ser os irmãos, em Francisco Martins(…) Pernoitei no ergástulo da senhora Joaninha, e fui no dia seguinte para as Caldas das Taipas esperar que Francisco Martins me lá desse um leito em sua casa, e um talher à sua mesa”. A intimidade entre ambos solidificou-se a partir de então, com frequentes conversas, visitas às termas taipenses para alívio da sua doença, passeios de barco no rio Ave ou à Citânia de Briteiros. Reviver os espaços e passos camilianos no Solar do Ponte (atual Museu da Cultura Castreja) e o castro da Citânia de Briteiros, em Guimarães, ambos os monumentos sob a alçada da Sociedade Martins Sarmento e/ou degustar o itinerário dos moinhos do rio Febras, é quiçá outra alternativa complementar à sua leitura. Quanto ao Agrupamento Gil Vicente, não se fez rogado e já por várias outras vezes recordou Camilo em diferentes etapas da sua vida: na sua casa de Seide, transformada em museu dedicado ao escritor; em Ribeira da Pena, local onde casou com 16 anos e viveu em Friúme com Joaquina Pereira de França; e na Cadeia da Relação do Porto, local onde esteve preso por adultério e escreveu “Amor de Perdição” e “Memórias do Cárcere”. Porém, é na obra “Novelas do Minho”, obra referenciada nos novos programas de Língua Portuguesa como leitura recomendada para o 3º. ciclo, que Camilo nos oferece saborosas leituras minhotas, nas suas oito novelas publicadas em 12 volumes, entre 1875 e 1877. “A Viúva do Enforcado”, cuja ação decorre em Guimarães e “Maria Moisés” centrada nas margens do Tâmega, na área de Ribeira da Pena, são duas dessa oito narrativas da obra “Novelas do Minho”, que destacamos. Com efeito, “A Viúva do Enforcado”, que Camilo dedica “à memória do Senhor D. Afonso Henriques”, apresenta efetivamente grande parte da ação ocorrida em Guimarães. É também no preâmbulo desta novela que o escritor se refere a Gil Vicente, pai do teatro português, à cidade e à freguesia de Urgezes: “a arte da ourivesaria foi cultivada primorosamente em Guimarães no século XV. Daqui saiu Gil Vicente (…). Se eu pudesse desconfiar da infalibilidade das dos linhagistas, justificá-los-ia um documento que possuo de 1455 (…). Com toda a certeza vivia então na Caldeiroa, arrabalde da vila, o sapateiro Fernão Vicente, pai de Martinho Vicente. Este, que era ourives, morava então no Casal da Laje, em Santo Estêvão de Urgezes. Aqui, provavelmente, nasceu Gil Vicente”. Quanto à novela, adaptada pela SIC em série televisiva em 1993, conta-nos a história de Teresa, única filha devota do surrador e comerciante de curtumes vimaranense Joaquim Pereira, que se apaixona pelo jovem ourives Guilherme Nogueira e que perante a oposição paterna, leva ambos os jovens à fuga para Espanha. Aí, cruzam-se com o par Inês e Álvaro, este também português, fugido à forca por homicídio. A morte de Guilherme conduz então a viúva Teresa aos braços de Álvaro, que denunciado pelo pai de Inês, motivado por vingança, o faz cair nas mãos da justiça e na forca. A novela evoca assim muitas das ruas e o ambiente da época, bem como muitos dos tesouros patrimoniais vimaranenses, como oportunamente detalhamos no artigo de Janeiro de 2013, intitulado “Camilo e(m) Guimarães” , também publicado nestas páginas. Quanto a “Maria Moisés” trata-se de uma típica novela sentimental na qual os percursos existenciais de uma mãe, Josefa da Lage, mulher apaixonada e perdida, com uma vida atribulada, se complementa e opõe à da sua filha, Maria Moisés, mulher solteira e casta enjeitada, com uma vida em prol dos desprotegidos. Uma história de conflito ente o Mal e o Bem, esconso num segredo e duas vidas (uma de perdição e outra de salvação), cujo enredo do coração nos faculta também o colorido minhoto e um tempo de dissolução dos costumes, num contexto histórico subjacente à Revolução Francesa e invasões napoleónicas, num clima de crise e efervescência política do período monárquico-constitucional de matriz liberal. Ler, é preciso… Álvaro Nunes | |
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