120 ANOS DO NASCIMENTO DE FERREIRA DE CASTRO | ||||||
Por António Lourenço (Professor), em 2018/06/04 | 675 leram | 0 comentários | 139 gostam | |||||
Iniciam-se este ano as celebrações dos 120 anos do nascimento de Ferreira de Castro, escritor intimamente ligado às Caldas das Taipas. | ||||||
Estreando-se na vida literária em 1916, com a publicação do romance juvenil “Criminoso por Ambição”, José Maria Ferreira de Castro (1898-1974), filho de pais pobres, nascido em Ossela (Oliveira de Azeméis), revelar-se-ia como um dos mais importantes romancistas portugueses do último século. Ora, precocemente Ferreira de Castro (FC) viria a experimentar as dificuldades da vida, que se refletiriam na sua obra. De facto, com apenas 12 anos e após ter terminado os estudos primários, FC deixou Ossela e emigrou para o Brasil, para trabalhar como empregado de armazém no seringal Paraíso, no inferno da selva amazónica e posteriormente como embarcadiço e na colagem cartazes. Realmente datam dessa altura, durante os anos em que viveu em Belém do Pará, os seus primórdios literários. Porém, só após o seu regresso a Portugal em 1919, viria a revelar-se como romancista conceituado, depois de algumas experiências novelísticas entre 1923 e 1927. Por seu turno, no jornalismo, funda revistas, colabora nos jornais “O Século” e “O Diabo” e acima de tudo escreve crónicas vibrantes, que o distinguem no seio da imprensa da época. Contudo, só após a publicação de “Emigrantes” (1928), obra ficcional em que manifesta os seus ideais humanísticos e sociais, cujo protagonista (Manuel da Bouça), tal como ele, parte de Oliveira de Azeméis para o Brasil, bem como com a obra “A Selva” (1930), mais tarde adaptada a cinema, que fala da selva amazónica onde trabalhou, é que FC vem a alcançar o sucesso. Com efeito, “A Selva” chega a ser dos romances mais lidos em todo o mundo, transmitindo uma forte mensagem de justiça para todos e fraternidade entre os homens, tornando-o reconhecido como um escritor de um realismo social novo e que alguns críticos prenunciam como precursor do neorrealismo português. Assim, FC exprimiria em Portugal, segundo Álvaro Salema, uma “expressão precursora do romance moderno de inspiração populista e de sugestão ético-social que viria a tomar a forma mundialmente representativa em escritores de poderosa expressão “, entre os quais cita John Steinbeck e Jorge Amado, este último um dos seus grandes amigos. Deste modo, em FC sente-se uma técnica narrativa colhida diretamente da verdade existencial, em estilo simples e expressão clara e comunicativa, que espelha a convicção de que a literatura deve ser “espelho fiel, como nenhum outro, dos sentimentos e inquietações de uma época”. Mais tarde, mas ainda na esteira do seu ciclo dos romances inspirados na experiência pessoal e observação experimentada, FC passa a focar-se preferencialmente no mundo rural miserável, protagonizado por gente singela e pobre, de que são provas documentais as publicações de “Eternidade” (1933), passado na Madeira, “Terra Fria” (1934) cuja ação decorre entre os humildes habitantes do Barroso e “A Lã e a Neve” (1954), história dos pastores e do proletariado têxtil da Serra da Estrela. A ajuntar a este ciclo, escreve também livros de viajante, alusivos à “descoberta e desvendamento da experiência histórica e social da humanidade”, obras de que são exemplo “Pequenos Mundos e Velhas Civilizações” (1949) e “A Volta ao Mundo” (1940/44), bem como, numa fase seguinte, obras mais vincadamente direcionadas para a “análise mais complexa dos conflitos interiores em equação com realidades sociais e históricas mais vastas”, consubstanciada em publicações como “A Curva da Estrada” (1950), sobre a guerra civil espanhola, ou “O Instinto Supremo” (1968) e “A Missão” (1954). Deste modo, o reconhecimento do seu legado literário obteria grande eco e entusiasmo em Portugal e no Brasil. Por isso, em 1968, aquando do cinquentenário da sua obra, a União Brasileira de Escritores apresentou a sua candidatura ao prémio Nobel de Literatura, conjuntamente com Jorge Amado. Ao escritor seria ainda atribuído o Prémio Internacional Águia de Ouro do Festival do Livro de Nice, destacando-se ainda como presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores e pela sua ação política como acérrimo resistente ao regime salazarista. De salientar ainda que o escritor detém laços estreitos com o concelho vimaranense, especialmente com as Caldas das Taipas, local em que desde a década 50 passava parte das suas férias, hospedando-se no Hotel das Termas, pelo que supostamente, a vila taipense figura entre as sete localidades em que FC redigiu “Instinto Supremo” (1965/1967). As Caldas das Taipas que num texto inédito de 29 de setembro de 1963, publicado no “Notícias de Guimarães”, sob o título “A terra onde a lua fala”, escreve: : “(…) Tenho residido em vários povoados do Minho, sobretudo nas Caldas das Taipas, onde o Ave, de dia, e a lua, de noite falam muito comigo; e tenho convivido, Verão após Verão, com numerosos camponeses. Ao das começo as nossas relações quase todos estes homens e estas mulheres, cuja vida quotidiana representa um dos diversos heroísmos que a História não celebra, ignoravam até o meu nome. Para eles eu sou apenas aquele senhor que vem todos os anos, passar alguns meses nas termas e costuma sentar-se numa pedra, à beira dos campos, a ler ou a olhar para as árvores ”. Por esta ligação, o escritor foi alvo de várias homenagens na vila taipense, realçando-se a cerimónia de 17 de abril de 1971, com a inauguração de um busto em sua homenagem. Posteriormente, FC seria ainda recordado na passagem do centenário do seu nascimento, numa iniciativa do Centro de Atividades Recreativas Taipense conjuntamente com o Grupo Cultural e Recreativo de Ossela, ocorrida em 6 de fevereiro de 1999. Antes, porém, em 26 de novembro de 1983, o escritor foi também homenageado no decurso do XII Encontro de Imprensa Regional do Norte, promovido pelo Gabinete de Imprensa de Guimarães, que contou com a presença de José de Oliveira, um dos amigos das Taipas do homenageado. O Agrupamento Gil Vicente dedicou-lhe também devida homenagem, com uma visita à sua casa-museu, que, criada em 1967,no vale do rio Caima (Ossela), motivou uma Escapadela Literária, em 22 de abril de 2004. Texto escrito por, Álvaro Nunes | ||||||
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